A educação (escolar) indígena: uma contribuição a partir da experiência de Minas Gerais | Rafael Otávio Fares Ferreira


Rafael Otávio Fares Ferreira[1]

Este texto parte de um curso ministrado para educadores que trabalham com as populações indígenas de Minas Gerais a convite da Rede Mineira de Pesquisa em Educação. A proposta era discorrer sobre a educação indígena no estado. Entendi, então, esta proposta em dois sentidos: um de falar sobre as práticas de educação realizadas pelos indígenas em suas escolas diferenciadas e o outro de relatar minha percepção acerca da potência do que vejo como próprio da educação indígena. Mesmo que haja uma intersecção entre as duas leituras, há também diferenças. Uma estaria voltada para uma descrição do que tem acontecido nas escolas diferenciadas que ganharam vida depois da constituição de 1988, e, posteriormente, com a “retomada” pelos indígenas de seus currículos e suas reinvenções da escola. A outra diferença estaria ligada a algo mais amplo, que poderíamos chamar da visão de mundo indígena, tal como a percebemos a partir de vivências com estes povos, de textos indígenas, leituras antropológicas e de estudiosos do assunto.

Em ambos os casos, estamos diante de experiências que poderíamos entender como forças de atrito com o que chamamos tradicionalmente a educação escolar não indígena. Isso não quer dizer que se negue completamente o que temos em nossas mais diversas concepções de educação, há também semelhanças com determinadas teorias educacionais, principalmente a desenvolvida por Paulo Freire, porém os atritos existem, pois, a educação indígena coloca em questão muitas práticas, concepções e conhecimentos de nossas instituições de ensino, e de nossos saberes, em seu viés de educação diferenciada.

Neste sentido, pretendo fazer aqui um percurso passando por algumas teorias e textualidades, realizadas por indígenas e não indígenas, mas que tratam destes pensamentos que podemos chamar de ameríndios. Além disso, contarei algumas práticas escolares e reflexões dos indígenas com os quais convivi, principalmente os Pataxós de Minas Gerais e os Maxakalis. Discorrerei sobre suas escolas, e como têm sido transmitidos os conhecimentos, como a interculturalidade tem sido exercitada.

 

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 01/03/2024

Aceito em: 01/06/2024

 

[1] Professor do Departamento de Letras e Linguística da UEMG – Unidade Ibirité. Doutor em teoria da literatura e literatura comparada pela Faculdade de Letras da UFMG. Sua pesquisa está centrada na reflexão sobre a produção contemporânea de livros e filmes pelas comunidades indígenas e na educação ambiental. Desenvolve trabalhos de pesquisa e extensão, dentre eles estão o projeto de pesquisa com educação indígena e o Programa Encontro de Saberes da UEMG onde atua como subcoordenador. Trabalhou no Curso de Formação Intercultural para Professores Indígenas da UFMG no eixo Múltiplas Linguagens (2006 a 2011). Email: rafael.ferreira@uemg.br.

[2] Texto realizado com o apoio do edital 02/2022 – Programa de Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ) da UEMG. 

A educação (escolar) indígena: uma contribuição a partir da experiência de Minas Gerais

 

RESUMO: Este artigo[2] foi escrito a partir de um curso realizado pela Rede Mineira de Pesquisa em Educação sobre a educação indígena para educadores que trabalham com populações indígenas em Minas Gerais. A ideia do curso foi apresentar um histórico das experiências em algumas escolas indígenas diferenciadas e, ao mesmo tempo, noções importantes elaboradas por indígenas e seus colaboradores para entender aspectos do que consideramos educação indígena. O texto procura refletir sobre o que é próprio do pensamento indígena e, consequentemente, a educação e as práticas educativas indígenas nas escolas indígenas de Minas Gerais observadas na pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Povos indígenas. Educação. Conhecimento. Ecologia.

 


Indigenous (school) education: a propositional reflection based on the experience of Minas Gerais

 

ABSTRACT: This article was written based on a course held for educators who work with indigenous populations in Minas Gerais. The idea of ​​the course was to present a history of experiences in differentiated indigenous schools and, at the same time, important notions developed by indigenous people and their collaborators to understand aspects of what we consider indigenous education. The text seeks to reflect on what is typical of indigenous thinking and, consequently, indigenous education and educational practices in indigenous schools in Minas Gerais observed in the research.

KEYWORDS:  Indigenous people. Education. Knowledge. Ecology.

 


FERREIRA, Rafael Otávio Fares. A educação (escolar) indígena: uma contribuição a partir da experiência de Minas Gerais. ClimaCom – Territórios e Povos indígenas [online], Campinas, ano 11, n. 26., Jun. 2024. Available from: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-educacao-escolar-indigena