Registrar e compreender a vulnerabilidade e a adaptação às mudanças climáticas no âmbito da agricultura familiar: esse é o intuito dos pesquisadores que fazem parte da sub-rede Desenvolvimento Regional, da Rede Clima. “No que diz respeito à agricultura familiar, trata-se de um dos grupos mais vulneráveis às mudanças climáticas hoje, no Brasil, por ser dependente das condições do clima para sua sobrevivência e por ter menor capacidade de adaptação”, avalia Stéphanie Nasuti, pós-doutoranda no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da sub-rede.
As pesquisas desenvolvidas buscam identificar os elementos adversos aos quais essa população está exposta a fim de entender qual a capacidade de reação que ela tem. Para isso, analisam a exposição, a sensibilidade e a capacidade adaptativa desse grupo, principalmente em relação a chuvas intensas e secas. “Exposição diz respeito à ocorrência dos eventos naturais em si, ao passo que sensibilidade leva em conta os elementos culturais, institucionais e educacionais à disposição desse grupo, os quais determinam o leque de soluções e estratégias de adaptação de que ele disporá, influenciando na forma como será impactado pela exposição a eventos climáticos”, observa Nasuti.
Os pesquisadores também estudam a percepção que os agricultores familiares têm do clima, contando com a colaboração de um grupo de ecólogos que identificam os eventos anômalos existentes nos locais onde a sub-rede trabalha, a fim de verificar se há convergências entre essas diferentes percepções.
Pesquisadores de várias outras áreas também colaboram com esses estudos, compondo uma equipe bastante diversificada – com economistas, geógrafos, antropólogos e ecólogos –, que trabalha em parceria com universidades locais. A ideia é utilizar um protocolo de pesquisa idêntico em cada caso para que possam ser comparados, mesmo com as sutilezas resultantes das diferenças regionais. As pesquisas propõem fazer três grandes abordagens: a primeira é o levantamento de dados climatológicos e das séries históricas de precipitação para realizar análises que identifiquem tendências da evolução do padrão do regime de chuvas. A segunda abordagem é o levantamento de dados socioeconômicos por meio de questionários aplicados às famílias. Finalmente, a partir de entrevistas realizadas em instituições locais como prefeituras, escolas e secretarias de agricultura, buscar-se-á criar um entendimento da percepção dos atores institucionais sobre os eventos climáticos e as medidas adaptativas que podem oferecer.
Os grupos com os quais a sub-rede Desenvolvimento Regional trabalha estão principalmente em três biomas: a Amazônia, que abrigou os primeiros estudos de caso, em 2010; o cerrado mato-grossense (incluindo algumas breves incursões no Pantanal); e o semiárido nordestino, principalmente no Ceará, Piauí, norte da Bahia e Rio Grande do Norte. A ideia, ainda, é trabalhar com três escalas: local, dentro de um mesmo bioma, e entre biomas, a fim de comparar os estudos de caso. “Isso torna o trabalho complexo, porque a comparação entre eles é possível, mas não entre todos os elementos, já que há componentes existentes em certas regiões e não em outras. Mas, ainda assim, ela é pertinente”, reitera Nasuti.
[Esta matéria integra a série dedicada às pesquisas desenvolvidas pelas sub-redes da Rede Clima]