Fungos, processos e poéticas de interdependência | Maíra Velho

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Maíra Velho[1]

E agora?!

Ao longo do tempo, tenho dedicado pesquisas a seres singulares, cuja vastidão de diversidade biológica global ainda permanece majoritariamente desconhecida – os fungos. Esses organismos pertencem a um reino de proporções monumentais, porém apenas uma pequena parcela, cerca de 5%, de sua biodiversidade mundial é conhecida.
Seu papel ultrapassa a simples manutenção dos ecossistemas, influenciando diretamente a existência humana e suas atividades. Os fungos desempenham funções cruciais para a vitalidade terrestre, uma vez que são os grandes recicladores da natureza, transformando variados resíduos – vegetais, animais, minerais e até mesmo plásticos – em nutrientes fundamentais que sustentam o ciclo da vida. Esses seres moldam economias complexas, de maneira positiva e negativa. Atuam na fabricação de álcool, bebidas, panificação, fermentação industrial, produtos farmacêuticos e biotecnológicos. Além disso, outras espécies são cultivadas ou coletadas para uso como alimento. Ao mesmo tempo, os fungos são responsáveis por perdas monetárias substanciais, anualmente, em decorrência da deterioração de alimentos, degradação de materiais utilizados pela humanidade e enfermidades em plantas e animais. (Mueller e Bills, 2004).
Os fungos podem nutrir, curar, provocar estados alucinatórios, assim como podem nos matar. Podem estabelecer relações parasitárias, mas na maioria das vezes, estão em simbiose, como os líquens, unindo fungos e algas, servem de bioindicadores que denunciam o desequilíbrio ambiental. A gama de fungos abarca desde formas microscópicas até dimensões praticamente infinitas, variando em cores e formas. Esses seres, muitas vezes invisíveis aos olhos humanos, entrelaçam-se numa intrincada rede colaborativa. Sua influência desafia nossa compreensão de ecossistema e nos fazem repensar o funcionamento da vida.
No entanto, olhar os fungos unicamente através de um prisma utilitarista seria limitar a riqueza intrínseca que eles têm em si. Esses seres, não somente coexistem conosco, mas compartilham espaços e formas de vida em nosso planeta. São notáveis em sua ancestralidade e, também na contemporaneidade, os fungos têm desempenhado papéis significativos em cerimônias religiosas, medicina tradicional e outras práticas culturais. Isso destaca sua importância e relevância nas narrativas culturais e espirituais de diferentes comunidades.

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(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 15/10/2023

Aceito em: 15/11/2023

[1] Artista Visual com Mestrado em Artes Visuais e ênfase em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAV/UFRGS). Graduado em Artes Visuais – Desenho e Plástica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS). Email: mairacvelho@gmail.com