Expor-se como ato pedagógico sui generis. Aprendizados entre os Mbya Guarani | Luiz Fernando Carreira e Mónica de la Fare | ClimaCom


Expor-se como ato pedagógico sui generis. Aprendizados entre os Mbya Guarani | Luiz Fernando Carreira e Mónica de la Fare


Luiz Fernando Carreira [1]

Mónica de la Fare [2]

Introdução

Este é um texto sobre caminhar, sobre as modalidades do andar e as práticas que a elas se relacionam, porque de fato existem formas distintas de andar, já que se anda andando, mas também parado. E isso, o modo como se anda, ao fim faz toda a diferença, pois as formas de andar marcam, por assim dizer, um tipo de habitus [3] particular a cada modo – a cada ser andante – de forma que é sobre esses modos que nos deteremos neste trabalho. 

O caminhar interessa enquanto metáfora do modo de ser e viver. Ou ainda, sendo mais precisos, interessa no sentido preciso em que revela certa pedagogia de ex-posição (Masschelein, 2008), ou seja, trata-se do ato de se colocar fora de posição, que se constitui em uma prática de educação enquanto possibilidade de suspensão de qualquer posição, como também retoma Ingold (2015).

A atenção ao andar como questão surgiu no âmbito de uma primeira pesquisa realizada com uma comunidade mbya guarani da zona metropolitana de Porto Alegre/RS, focalizada na escola (Carreira, 2015), que posteriormente deu lugar a um segundo estudo com esse grupo (Carreira, 2019; De la Fare e Carreira, 2018). Na ocasião nos dedicávamos a explorar as implicações que o estreitamento das relações dos mbya com os não-indígenas produziam sobre seus sistemas tradicionais de aprendizado. Nesse sentido, a escola na aldeia tornava-se um locus privilegiado de observação dos efeitos provocados por conhecimentos alóctones sobre os saberes tradicionais dos guaranis. Interessava-nos seus processos de socialização, marcados pela relação entre modos particulares de compreender o mundo e pelos sentidos que os indígenas atribuíam à experiência com os conhecimentos ocidentais. Na época, a questão vinculava-se ao porquê de os guaranis quererem escolas e o que de fato fazem quando se dirigem até ela? Assim, a escola, instituição alheia à cultura guarani e proveniente do universo ocidental europeu, passou a ser olhada desde esse outro ângulo.

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 25/04/2023

Aceito em: 15/05/2023

 

[1] Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEdu) da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutor e Mestre em Educação pela PUCRS. Email: ferncarreira@gmail.com

[2] Bolsista Produtividade CNPq-Pq2. Até o 4/1/23, professora do PPGEdu PUCRS, supervisora do pós-doutorado de Fernando Carreira. Atualmente, pesquisadora visitante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Email: monicadlf@gmail.com

 

Expor-se como ato pedagógico sui generis. Aprendizados entre os mbya guarani

 

RESUMO: Neste ensaio propomos o caminhar como um modo de se relacionar com a vida e pelo tanto de aprender. Essas ideias interrogam a relação tradicional que muitas vezes a escola estabelece com os conhecimentos. Para isso, revisitamos uma pesquisa etnográfica realizada junto com uma comunidade mbya guarani do Rio Grande do Sul/Brasil, que no convívio nos permitiu gerar as ideias que aqui se apresentam. Este texto também é resultado do diálogo com autores que questionam as tradicionais relações assimétricas de ensino-aprendizagem, assim encontramos ressonância para fundamentar nossas inquietações nas leituras dos trabalhos de Jan Masschelein (pedagogia de ex-posição), Tim Ingold (caminhar educando a atenção), Pierre Bourdieu e Loïq Wacquant (habitus e aprendizagem pelo corpo) e na coautoria de Fernando Bárcena e Joan Carles Mèlich (a educação como acontecimento ético), entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Mbya Guarani. Escola indígena. Aprendizado. Gerações. Pedagogias.


Exponerse como acto pedagógico sui generis. Aprendizajes entre los mbya guarani

 

RESUMEN: En este ensayo proponemos caminar como forma de relacionarse con la vida y por lo tanto, de aprender. Estas ideas cuestionan la relación tradicional que muchas la escuela establece con los conocimientos. Para eso, retomamos una investigación etnográfica realizada junto a una comunidad Mbya Guaraní del estado de Rio Grande do Sul/Brasil, que en la convivencia nos permitió generar las ideas que aquí presentamos. Este texto es también resultado del diálogo con autores que cuestionan las tradicionales relaciones asimétricas de enseñanza-aprendizaje, desse modo encontramos resonancia para sustentar nuestras inquietudes en las lecturas de las obras de Jan Masschelein (ex-position pedagogy), Tim Ingold (caminando educando la atención ), Pierre Bourdieu y Loïq Wacquant (habitus y aprendizaje por el cuerpo) y en la coautoría de Fernando Bárcena y Joan Carles Mèlich (la educación como acontecimiento ético), entre otros.

PALABRAS CLAVE: Mbya Guarani. Escuela indígena. Aprendizaje. Generaciones. Pedagogías.

 


CARREIRA, Luiz Fernando, LA FARE, Monica.  ClimaCom – Ciência.Vida.Educação. [online], Campinas, ano 10, n. 24., mai. 2023. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/expor-se-como-ato-pedagogico/