Seguir os sapos

A ClimaCom abre esta série de residências entre artes, ciências e ancestralidades com a proposta “Seguir os sapos”! A proposta resulta de uma parceria do grupo multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o Instituto de Artes da Unicamp, com o Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros (LaHNAB), do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e com o Ateliê Serafina. Serão abertas duas vagas para artistas interessados em participar da programação pensada para o período de 08/03 a 14/04. As inscrições podem ser feitas enviando carta de interesse e currículo para o e-mail: climacom@unicamp.br

 

ARTISTAS SELECIONADOS | Silvana Sarti e Rosana Torralba

O Brasil é um hotspot de biodiversidade para anfíbios. Só na Mata Atlântica são conhecidas mais de 700 espécies de anfíbios anuros, sendo que 90% destes são endêmicos deste bioma. Os anuros são animais ectotérmicos, ou seja, necessitam de fontes externas para conseguir manter sua temperatura, são sensíveis aos efeitos causados pela mudança na temperatura ambiental e precipitação, interferindo na fisiologia e nas interações com outros seres vivos. Devido a hipersensibilidade dos anuros à poluição química, de rios e águas superficiais, doenças, fragmentação de áreas, mudanças climáticas, radiação ultravioleta, além de outros fatores, atualmente estão entre o grupo de vertebrados terrestres com maior risco de extinção. Esses animais utilizam diferentes sítios de canto em seu período de reprodução, como por exemplo chão de mata (Rhinella icterica), vegetação rasteira (Boana albopunctata) até copas de árvores (Gastrotheca albolineata), poças (Leptodactylus fuscus), brejos (Physalaemus cuvieri) e riachos (Hylodes sazimai).

Para encontrá-los, além de olhos treinados, os herpetolólogos nos ensinam que é preciso estar atento aos seus cantos, que em sua diversidade de sons, são um guia para chegar até eles e identificá-los. Os sapos emergem, no encontro com as ciências biológicas, como cantores que desafiam o sistema perceptivo, pois é preciso inventar um corpo que se lança na mata no escuro da noite e que se torna capaz de enxergar com os ouvidos. Conhecer as práticas dos herpetólogos pode ser um modo de ganhar intimidade com os sapos, uma maneira de aprender a seguir seus modos de existir entre meios.

Por isso, esta residência artística promovida pela ClimaCom será feita em uma parceria com o Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros (LaHNAB), do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, coordenado pelo professor Luís Felipe Toledo, e promoverá um contato com as pesquisas realizadas por ele, João Pedro Bovolon e outros integrantes de sua equipe. A residência proporá também um diálogo com as pesquisas e criações realizadas por Natália Aranha e Susana Dias do grupo multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Natália, bióloga e artista, compartilhará sua experiência com os cientistas do LaHNAB e as criações coletivas de materiais de divulgação feitos em colaboração com os sapos e em conexões vivas entre artes, ciências que experimenta em seu mestrado em Divulgação Científica e Cultural (Labjor-Unicamp). Rayane Barbosa, artista e indígena Kaingang, trará a relação entre o jenipapo e os sapos, entre a pele, o grafismo e as ancestralidades de povos originários. Susana Dias compartilhará o trabalho de vários artistas com os animais e abordará a virada animal que autores como Donna Haraway, Vinciane Despret e Étienne Souriau convocam, situando-os no contexto do Antropoceno. Natália, Rayane e Susana proporão exercícios em e entre diferentes meios (fotográfico, pictórico, escultórico…) que levem a sério o que pode ser a criação de uma relação de amizade, companheirismo, vizinhança e parentesco com os sapos que sejam capazes de gerar novos modo de perceber, pensar, sentir, imaginar e agir mais conectados com a Terra.

A residência também proporá encontros com o professor Paulo Teles, do Instituto de Artes da Unicamp, para pensar e experimentar sistemas de interação multimídia e reuniões com a artista Valéria Scornaienchi, no Ateliê Serafina, para abrir os processos de criação artística a outras composições e possibilidades. Além disso, parte dos encontros propostos na residência acontecerão no âmbito da disciplina “Arte, Ciência e Tecnologia”, do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural, conduzida por Susana Dias e Paulo Teles e, por isso, a residência também proporá encontros com pessoas de diferentes áreas interessadas em pensar/experimentar o que podem artes, ciências e comunicações aprenderem com animais, ervas e minerais.

Será no entrecruzamento dessas práticas e modos de viver e pensar com os sapos que a residência aposta que poderão ser engravidadas criações artísticas capazes de honrar o sentido artístico e científico desses animais.

As obras criadas no âmbito da residência, durante ou após sua realização, têm lugar garantido de publicação na seção de Artes da revista ClimaCom. Os resultados de exercícios coletivos de criação realizados na residência serão publicados na seção Lab-Ateliê da ClimaCom.

Durante o primeiro semestre de 2023 serão abertas 3 Residências ClimaCom, a primeira com os sapos, a segunda com a ervas e a terceira com os animais. A ideia é reunir as produções coletivas e individuais em uma mostra, cuja organização e lugar ainda serão definidos.

A residência “Seguir os sapos” da ClimaCom é gratuita e oferecerá o acesso aos espaços, pessoas e práticas, materiais e equipamentos para exercícios, bem como o transporte do Labjor-Unicamp para os outros lugares onde ocorrerão as atividades, mas não oferece moradia, nem alimentação, nem materiais e equipamentos para os projetos próprios dos artistas, que deverão ser providenciados e custeados pelos participantes. A inscrição deve ser feita pelo e-mail climacom@unicamp.br mediante o envio de uma carta de interesse e currículo até dia 03/03/23. Para esta residência serão abertas duas vagas e o resultado da seleção será publicado no início desta mesma página no dia 06/03/23.

Abaixo colocamos a programação proposta para a residência, com algumas atividades já com datas e lugares definidos e outros que serão estabelecidos no primeiro dia de encontro.

Programação “Seguir os sapos”- Residências ClimaCom

08/03 – 14h – Natália Aranha e Susana Dias (dos sapos como espécies companheiras)

LOCAL

Labjor-Unicamp

15/03 – 18h – Luís Felipe Toledo, João Pedro Bovolon e Natália Aranha (trabalho de campo com os sapos)

LOCAL

A DEFINIR

29/03 – 14h – Susana Dias (da base cósmica de artes e ciências + exercícios) 16h – visita ao laboratório e fonoteca do LaHNAB

LOCAL

Labjor-Unicamp

05/04 – 14h – Susana Dias (animais, política, território e espiritualidade + exercícios)

LOCAL

Labjor-Unicamp

12/04 – 14h – Paulo Teles (animais e sistemas interativos)

LOCAL

Labjor-Unicamp

DATA E HORÁRIO A COMBINAR – Valéria Scornaienchi  

LOCAL

Ateliê Serafina

DATA E HORÁRIO A COMBINAR – Rayane Barbosa, Susana Dias e Natália Aranha (anfíbios e povos originários, histórias e imagens de ancestralidades)

LOCAL

Labjor-Unicamp

13/04 – 14h – Susana Dias e Natália Aranha (encerramento)

LOCAL

Labjor-Unicamp

 

Equipe

Coordenação geral

Susana Dias – Labjor-Unicamp

Paulo Teles – IA – Unicamp

Natália Aranha – Labjor – Unicamp

Rayane Barbosa – FE-Labjor-Unicamp

 

Parceria

Valéria Scornaienchi – Ateliê Serafina

Luís Felipe Toledo e João Pedro Bovolon – LaHNAB – IB – Unicamp

 

As Residências ClimaCom são uma ação do projeto “Perceber-fazer floresta – alianças entre artes, ciências e comunicações diante do Antropoceno” (Fapesp 2022/05981-9), coordenado por Susana Oliveira Dias.