Aproximações | Milena Bachir Alves
Título | Aproximações
De algum modo, nos encontramos em movimentos de encontros e desencontros. Assistimos a contemporaneidade impor complexas e universais formas de viver. Sentimos as tensões das coisas, relações, dos fluxos, do tempo. As urgências da Intrusão de Gaia (Stengers, 2015), apontam grandes necessidades de re-imaginarmos novos horizontes e formas de estar no mundo para a vida humana e não humana. Dados sensíveis, afetam a maneira como estamos deixando nossas pegadas na terra/Terra: 80% das pessoas refugiadas em função do clima, são mulheres (Arruza, Bhattacharya & Fraser, 2019, p. 84). Elas são quilombolas, indígenas, camponesas, ribeirinhas, negras, mas também são as mulheres urbanas e periféricas, mães solo, mulheres trans, corpas femininas. Como podemos nos APROXIMAR para mover afetos tristes produzidos pela necropolítica, pelo Antropoceno? Após os momentos mais tensos da pandemia, estamos aos poucos voltando a sentir, e ganhar intimidade com coisas, seres, pessoas, mundos, com as plantas. A pandemia suspendeu os encontros, a presença de corpos, criou abismos sociais. O Antropoceno fragmentou discursos, distanciou pessoas de ambientes e devastou ambientes e espécies. Mas não há mais tempo de funcionamentos binários, dicotômicos, racistas, representacionais que invadem os imaginários, os discursos e nossas identidades. Vivemos um tempo sensível, que reverbera as insurgentes inadequações de corpos mais que humanos, que pedem atenção. A ancestralidade é planta. As plantas são o casulo do mundo, é e está na planta a transformação fluída de uma parte em outra (Coccia, 2020, p.94), regeneracão. A quem interessam as APROXIMAÇÕES de mulheres, literatura, artes, plantas, coisas, seres? Não estamos buscando respostas, mas ampliando as protagonistas que farão essas aproximações. É preciso “fazer parentes”, criar relações de aproximações, de nós, de transfecções, dos humanos e não humanos, como reforça a filósofa e bióloga Donna Haraway (Haraway, 2015). Re-tomamos a cena, re-ocupamos os espaços e, aos poucos, estamos tecendo APROXIMAÇÕES heterogêneas, alegres, resistentes entre humanos e plantas, entre a ciência, a comunicação, as artes, literatura. Temos feito isso através da Rede Inadequada e do Ciclo de Conversas da Inadequada. Aos poucos ganhando amplitude e questionando os jogos de normatizações, fixações e desaparecimentos de humanos e não humanos, em meio a um cenário de mudanças climáticas aceleradas, que convoca todes a refletir, sentir e experimentar a “arte de ter cuidado” (Stengers, 2021) e a retomar o devir feminino como uma potência ético-política para os novos tempos. Compartilho aqui uma série de cartazes que fizemos na Inadequada que aproximam essas questões das plantas e, ao mesmo tempo, anunciam que a potência da natureza é feminista.
| Bibliografia |
ARRUZZA, Cinzia, BHATTACHARYA, Tithi, FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto; tradução Heci Regia Candiani – 1 ed- São Paulo, Boitempo, 2019.
COCCIA, Emanuele. Metamorfoses, 1ed – Rio de Janeiro, Dantes Editora, 2020.
HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras- cachorros, pessoas e alteridade significativa- 1ed- Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2021.
STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes – resistir à barbárie que se aproxima, São Paulo: Cosac Naify, 2015.
| FICHA TÉCNICA |
Milena Bachir Alves
Rede Inadequada
Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Labjor-IEL-Unicamp
2022
ALVES, Milena Bachir. Aproximações. ClimaCom – Políticas vegetais [online], Campinas, ano 9, n. 22. dez. de 2022. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/aproximacoes/
SEÇÃO ARTE | POLÍTICAS VEGETAIS | Ano 9, n. 23, 2022
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