A escrita vegetal: uso de plantas enteógenas na ampliação da percepção | Claudio Filho e Juliana Valbert


Claudio Filho [1]
Juliana Valbert [2]

O que as palavras nos dizem no interior onde ressoam? Que não são nem instrumentos de escambo, nem utensílios para se pegar e jogar, mas que querem tomar a palavra. Sabem muito mais sobre a linguagem do que nós. Sabem que são trocadas entre os homens não como fórmulas e slogans, mas como oferendas e danças misteriosas. Sabem disso muito mais que nós; ressoam muito antes de nós; chamavam-se umas às outras muito antes que estivéssemos aqui (Novarina, 2009 p.14)

 

 

Fig. 01: Fragmentos do caderno “Encontros com a Floresta”, Juliana Valbert (2016-2020). As imagens podem ser acessadas através do link: https://www.behance.net/gallery/152695973/Escrita-vegetal

 

Estar diante da palavra, título homônimo de Valère Novarina (2019), é compreendê-la como existente e abrangente: Basta pensarmos na quantidade de línguas existentes e também nas suas traduções possíveis para aceitar que “toda forma viva é, ao mesmo tempo, uma forma do mundo que ela, ao mesmo tempo, produz e contempla” (Coccia, 2019, n.p).

Nunca se escreveu tanto: as palavras circulam entre e-mails, linhas posts, tweets e comentários, a cada minuto cerca de 41 milhões de mensagens são trocadas no WhatsApp[3]. As palavras, assim como as imagens, se sobrecarregam de sentido junto ao fluxo de dados produzidos diariamente. A presença massiva dos aparatos tecnológicos de comunicação (computadores, celulares e tablets) desencadeiam contínuas sobrecargas da palavras carregadas de informações, positivas ou negativas, possibilitadas pelo aumento do consumo destes dispositivos (Oliveira; Melo Filho; Baio, 2022). Com a crescente presença de sistemas de softwares digitais ocorreu um avanço tecnológico nas formas de leitura e escrita aliadas ao processamento dos algoritmos de forma autônoma, dando origem ao que conhecemos hoje como sociedade dataficada (Oliveira, 2021). Nas redes sociais, por exemplo, a palavra escrita estimula uma pretensa sensação de liberdade “que se soma ao desejo social de pertencimento e aceitação, impulsionando ações performativas em rede como o excesso de compartilhamento de informações pessoais e imagens de si” (Oliveira; Melo Filho; Baio, 2022, p. 62). Em meio ao turbilhão de palavras que circulam nossas experiências cotidianas, como retirá-las de seu estado de anestesia e dar-lhes sentido? (Leia o ensaio completo em PDF).

 

[1] Doutorando no programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV), do Instituto de Artes da Unicamp. E-mail: claumelof@gmail.com

[2] Mestranda no programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV), do Instituto de Artes da Unicamp. E-mail: julianavalbert@hotmail.com

[3] Data Never Sleeps 8.0. Infográfico (relatório). Disponível em: https://www.domo.com/learn/infographic/data-never-sleeps-8. Acesso em: 10 de setembro de 2022.

 

Recebido em: 15/09/2022

Aceito em: 15/10/2022

 

 

A escrita vegetal: uso de plantas enteógenas na ampliação da percepção

 

RESUMO: Este ensaio propõe um novo olhar sobre a palavra escrita. Na qual ela se posiciona em um local de cocriação com as chamadas plantas professoras, ou substâncias enteógenas, mais propriamente com o chá ayahuasca, feito com as plantas Banisteriopsis caapi (popularmente chamada de mariri ou jagube) e Psychotria viridis (popularmente conhecida por chacrona ou folha-rainha). A atenção proposta está nas percepções da ação escrita mediante o consumo de tais plantas no ritual da bebida amazônica ayahuasca e nos pensamentos expressos através das palavras e desenhos produzidos sob seus efeitos pela artista Juliana Valbert.

PALAVRAS-CHAVE: Escrita. Percepção. Plantas professoras.

 


 

Vegetable writing: use of entheogenic plants in the expansion of perception

 

ABSTRACT: This essay proposes a new glance at the written word. It positions itself in a place of co-creation with the so-called teacher plants, orentheogenic substances, more specifically with ayahuasca tea made with Banisteriopsis caapi (popularly called mariri or jagube) and Psychotria viridis (popularly chacrona or queen leaf). The proposed attention is on the perceptions of the written action through the consumption of such plants in the ritual of the Amazonian ayahuasca and the thoughts expressed through the words and drawings produced under their effects by the artist Juliana Valbert

KEYWORDS: Writing. Perception. Teacher plants.


FILHO, Claudio, VALBERT, Juliana. A escrita vegetal: uso de plantas enteógenas na ampliação da percepção. ClimaCom – Políticas vegetais [online], Campinas, ano 9, n. 23., dez. 2022. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/escrita-vegetal/