Refúgios inóspitos: sobrevivência marginal em The Handmaid’s Tale | Thamires Ribeiro de Mattos
Thamires Ribeiro de Mattos[1]
Ficção especulativa
Um dos temas mais abordados na cultura mediática contemporânea é a ficção especulativa. Para Atwood (2011), esta é composta de histórias que abordam coisas que têm chances reais de acontecerem ou que já aconteceram. Disso dão mostra diversos produtos: os trabalhos literários de Phillip K. Dick [2] –, em particular, os livros Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de 1968 e O Homem do Castelo Alto, de 1962 –; os longas-metragens Blade Runner, de 1982; Wall-E, de 2009; Inception, de 2010; Gravity e Her, de 2013; Ex-Machina, de 2015; Arrival, de 2016[3]; Annihilation, de 2018; os premiados Bacurau, Parasite e Joker, de 2019; e séries televisivas como Black Mirror[4] (2011 – presente), Orphan Black (2013 – 2017), Westworld (2017 – presente) e 3% (2016 – 2020).
Recentemente, uma das obras que teve repercussão significativa entre críticos e entusiastas da ficção especulativa foi a série televisiva The Handmaid’s Tale (2017 – presente). Originalmente distribuída pelo serviço de streaming Hulu e veiculada no Brasil pelo Globoplay e o canal pago Paramount Channel, a série, que possui três temporadas, já acumula 75 indicações aos Primetime Emmys – sendo que 15 renderam prêmios como os de Melhor Série Dramática, Melhor Atriz em Série Dramática (Elisabeth Moss), Melhor Direção em Série Dramática (Reed Morano) e Melhor Roteiro em Série Dramática (Bruce Miller)[5].
The Handmaid’s Tale é uma adaptação do livro homônimo publicado originalmente em 1985 pela escritora canadense Margaret Atwood (em português: “O Conto da Aia”). Atwood encaixa seu livro no gênero de ficção especulativa – algo que “poderia realmente acontecer” [6]. As premissas de The Handmaid’s Tale (tanto o livro quanto a série) são sobre catástrofes ambientais: devido à intervenção massiva e violenta da humanidade, o solo se torna infértil e reservas naturais estão escassas. A presença de pesticidas e produtos industrializados na alimentação diária das pessoas acaba por fazer com que diversos homens e mulheres se tornem inférteis. O cenário político é conturbado devido à baixa taxa de crescimento demográfico e à escassez de alimentos. Nesse ponto nodal, um movimento religioso explode os prédios do governo dos Estados Unidos da América e toma o poder do país, renomeando-o “República de Gilead”[7].
[1] Mestra em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Professora no Unasp. E-mail: thamiresrmattos@gmail.com
[2] Disponível em: <https://goo.gl/cqfNN3>. Acesso em: 02 out. 2017.
[3] Informações disponíveis em: <https://goo.gl/qhZkJw> e <https://goo.gl/o9TaKx>. Acesso em: 02 out. 2017.
[4] Disponível em: <https://goo.gl/cXAJmR>. Acesso em: 02 out. 2017.
[5] Disponível em: <http://bit.do/eBKzJ>. Acesso em: 27 nov. 2018.
[6] “[…] could really happen”. Disponível em: <http://bit.do/eBKBB>. Acesso em: 27 nov. 2018.
[7] O nome do país é uma referência bíblica direta. Conforme Swaim (1976), Gileade é o nome de um dos pedaços de terra israelita mencionado no livro de II Reis; de um grupo populacional paralelo às tribos de Rúben e Dã e equivalente à Gade no livro de Juízes; e de uma cidade, também no livro de Juízes. A terra em Gileade (região ou cidade) era considerada fértil, e conhecida pela produção de frutas e de um bálsamo mencionado no livro de Jeremias. Uma das cidades da região de Gileade – Ramote – é citada como uma cidade de refúgio. As cidades de refúgio eram designadas para a proteção de israelitas e imigrantes que matassem alguém por engano até seu julgamento.
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Recebido em: 30/03/2022
Aceito em: 30/04/2022
Refúgios inóspitos: sobrevivência marginal em The Handmaid’s Tale
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo explorar algumas possibilidades de refúgio de mulheres no livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood, e série derivada dele, The Handmaid’s Tale. A história tem suas bases em discussões sobre mudanças climáticas, fertilidade e totalitarismo. A fuga interna ou externa é constante, e, assim, a procura por refúgios se torna grande. Exploro as concepções sobre as bases da história abordadas pela série e pelo livro com base em dois conceitos: “margem”, desenvolvido por bell hooks, e “resistências subalternas”, desenvolvido por Paul Preciado. Além disso, uma análise dos produtos citados será apresentada a fim de expor situações de refúgio neles presentes.
PALAVRAS-CHAVE: The Handmaid’s Tale. Refúgio. Mudanças climáticas.
Barren Havens: Marginal Survival in The Handmaid’s Tale and The Handmaid’s Tale
ABSTRACT: This article aims to explore some possibilities of refuge for women in the book The Handmaid’s Tale, by Margaret Atwood, and its derivative series, The Handmaid’s Tale. The story has its roots in discussions of climate change, fertility and totalitarianism. Internal or external flight is constant, and thus, the search for refuges becomes great. I explore the conceptions about the foundations of history addressed by the series and the book based on two concepts: “margin”, developed by bell hooks, and “subaltern resistances”, developed by Paul Preciado. In addition, an analysis of the cited products will be presented in order to expose situations of refuge present in them.
KEYWORDS: The Handmaid’s Tale. Refuge. Climate change.
MATTOS, Thamires Ribeiro de. Refúgios inóspitos: sobrevivência marginal em The Handmaid’s Tale. ClimaCom – Esse lugar, que não é meu? [Online], Campinas, ano 9, n. 22, mai. 2022. Available from:https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/refugios-inospitos/