O desafio da redução da vulnerabilidade das cidades em períodos de chuvas | Gláucia Pérez

Os eventos extremos se tornarão mais frequentes no futuro e os impactos serão maiores devido ao crescimento constante e desordenado das cidades e populações. Porém, grupos de pesquisas que estudam a vulnerabilidade das cidades às enchentes podem aumentar a resiliência dos centros urbanos.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

As enchentes que ocorreram em dezembro de 2021 na Bahia e em Minas Gerais, que alagaram cidades, destruíram pontes e interditaram estradas e deixaram inúmeras pessoas desabrigadas, sem falar das mortes provocadas, demonstraram como são necessárias alternativas e métodos adequados para diminuírem os riscos das enchentes em áreas urbanas. Para os especialistas brasileiros que avaliam a vulnerabilidade, exposição, risco e resiliência das megacidades de países em desenvolvimento, pode haver relação dessas enchentes com as mudanças climáticas.

Isso porque “as magnitudes de precipitações observadas, e as condições hidrometeorológicas que desencadearam essas chuvas extremas, surpreenderam os especialistas mais experimentais em observação e previsão meteorológica”, afirma o pesquisador Mario Mendiondo, coordenador do subcomponente “Hidrologia e segurança hídrica” do INCT Mudanças Climáticas Fase 2. Com o aumento das temperaturas a nível global, eventos extremos como os que temos assistido poderão se tornar mais frequentes e os impactos ainda maiores, considerando ainda o crescimento constante e desordenado das cidades e populações, e consequentemente o aumento das áreas de risco.

Para reduzir eventos futuros catastróficos, como os que aconteceram na Bahia e em Minas Gerais, é necessário antecipar essas situações de desastres e preparar as cidades urbanas e populações contra eventos climáticos extremos. Sendo que com uma urbanização sem planejamento as cidades ficam menos resilientes, e quando ocorrem eventos climáticos extremos os mais atingidos serão os que já se encontram em áreas de vulnerabilidade socioeconômica, e de constante crescimento urbano desordenado.

 

“Inundações e modelagem de resiliência”

Nos dias  21 e 22 de outubro de 2021 ocorreu o workshop (fechado) online “Flood resilience modeling for megacities in developing countries” que teve como objetivo aumentar a interação e compartilhar procedimentos metodológicos de pesquisadores do Brasil e da Índia.

O evento foi realizado pelo TOCO_DR: Observatório de teoria da mudança em resiliência a desastres – TOCO_DR, projeto financiado pela FAPESP por meio do edital Belmont Forum, que é coordenado pela Faculdade de Saúde Pública da USP e desenvolvido em parceria com Indian Institute of Technology Roorkee, Department of Hydrology. O evento contou ainda com a importante colaboração do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas Fase 2 – INCT (MC2) em função da forte sinergia entre ambos os projetos nos estudos sobre vulneabilidade aos desastres, desenvolvimento urbano e resiliência. O evento contou ainda com a colaboração do Centro de Pesquisa em Matemática Aplicada à Indústria da USP – CEMEAI, e do Centro de Inteligência Artificial da USP – C4AI.

O workshop teve como propostas contribuir com a consolidação de uma metodologia de base para análise de risco e avanço da resiliência nas megacidades as inundações; fortalecimento entre os grupos de pesquisas e disseminação de métodos e procedimentos já utilizados para otimizar estudos futuros; elaboração e divulgação de material de apoio para pesquisas futuras, e consequentemente contribuir para trabalhos e estudos em conjunto.

Um conceito utilizado no webinar e nos estudos dos pesquisadores foi o de “modelagem de resiliência”. De acordo com os pesquisadores, a modelagem consiste em representar a realidade de um processo ou fenômeno usando métodos específicos que permitirão a tomada de decisões. No caso das inundações são utilizadas imagens de satélite, modelos climáticos, dados socioeconômicos que visam contribuir com as pesquisas para diminuir os impactos das inundações nas megacidades e permitir a resiliência das cidades e das comunidades a eventos extremos climáticos. E a resiliência seria a capacidade de uma comunidade ou cidade de antecipar, resistir e se recuperar dos eventos climáticos com o menor impacto para a população e o ambiente.

Participaram do evento online os professores e pesquisadores: profª. Adelaide Cassia Nardocci do Observatório de teoria da mudança em resiliência a desastres – TOCO_DR; profº. Eduardo Mário Mendiondo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas Fase 2 – INCT (MC2) – subcomponente hidrologia e segurança hídrica; professores NK Goel, Mathew Kurian e Ashutosh Sharma do Indian Institute of Technology Roorkee, Department of Hydrology.

Como palestrantes os pesquisadores: Ana Carolina Buarque; Maria Clara Fava; Marina Batallini de Macedo; Roberto Fray; Karisma Yumnam (Índia).

Também participam dos grupos de pesquisas e que se apresentaram no evento: Harshita Tiwari; Sujata Kulkarni; Greicelene Jesus da Silva; Fabricio Alonso Richmond Navarro; Luis Miguel Castillo Rapalo; Vitória Passos.

(Link com a notícia completa em pdf)

 

 

Outras bibliografias consultadas:

BERNARDES, G.; ANGELI, M.E. Chuvas na Bahia e em Minas causam 12 mortes e deixam mais de 9 mil desabrigados. Correio Braziliense. 14 de dezembro de 2021. Disponível em: < https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/12/4970601-12-mortos-nas-chuvas-na-bahia-e-em-minas.html>

Chuvas na Bahia e em Minas: o fator humano e os extremos do clima. Nexo Jornal. Podcast “Durma com essa”. 13 de dezembro de 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=I48bkYuK25U>

Depois da Bahia, chuvas fortes devem atingir Rio, São Paulo e Minas Gerais. Agência O Globo. 29 de dezembro de 2021. Disponível em: < https://exame.com/brasil/reveillon-ameacado-apos-bahia-chuvas-fortes-devem-atingir-rio-sp-e-mg/>

PIVETTA, Marcos. Risco de ocorrer secas entre 2011 e 2040. Revista Pesquisa Fapesp 249. Novembro de 2016. Disponível em: < https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2016/11/016-023_CAPA_Desastres_249.pdf>

 

 

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Oliveira Dias.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.