Fotografias-bordadas: construindo paisagens para (re)existir | Nicole Cristina Machado Borges e Lucia de Fatima Dinelli Estevinho | ClimaCom


Fotografias-bordadas: construindo paisagens para (re)existir | Nicole Cristina Machado Borges e Lucia de Fatima Dinelli Estevinho


Nicole Cristina Machado Borges[1]

 Lucia de Fatima Dinelli Estevinho[2]

 

ATINGINDO O PAPEL

Quem conta um conto aumenta um ponto e no conto que aqui conto vários pontos unem vários outros contos. Contos de uma vivência, experiências de vida, experimentações científicas, sonhos e penhascos, de um se jogar no abismo sem saber se há fim. Experimentamos com fotografias, linhas e agulhas.

Susana Dias (2020) dialogando com autores como Donna Haraway, Deleuze e Guattari e Anna Tsing nos faz pensar sobre experimentações lúdicas e processos de criações que elegem o papel como fonte de inspiração e experimentação.

[…] Há que se atingir uma certa infância do papel, onde não sabemos de antemão o que pode ser comunicado e nos lançamos em experimentações lúdicas com os materiais (revistas, jornais, fotografias, linhas, tintas, etc.), sem impor formas, projetos e objetivos, antes farejando e tateando as propensões criativas da matéria papel, exercendo modos de arruiná-la, abri-la, desfazê-la e torná-la disponível para outros cruzamentos, conexões inesperadas e ligas discordantes (DIAS, 2020, p. 15)

Inspiradas nesta autora, no “atingir uma infância do papel”, uma caixa de lembrança foi aberta e entramos em contato, com fotografias e cadernos de campo de uma pesquisa realizada em 2016 por ecólogos do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação dos Recursos Naturais.  A pesquisa era sobre o comportamento de abelhas em cultivo convencional de tomates e ligada ao Laboratório de Ecologia e Comportamento de Abelhas da Universidade Federal de Uberlândia (LECA-UFU).

As fotografias, histórias e experiências que compõem esse artigo foram registradas em 2016 nas monoculturas de tomate junto ao LECA-UFU. Saíamos pela manhã da universidade, paramentados com roupas específicas para campo, já que íamos passar horas trabalhando no sol e no meio de uma plantação de tomates. Nossos equipamentos incluíam: caderno de campo, sacos de organza, máquina fotográfica e protetor solar. No LECA desenvolvíamos pesquisas relacionadas à ecologia e comportamento de abelhas sem ferrão. Nas monoculturas de tomate observávamos os comportamentos das abelhas, taxa de produtividade e análises de frutos.

Remexendo as fotografias dos cultivos, das centenas de fotos, 14 foram impressas e espalhadas na mesa de trabalho. Ao som de uma música desconhecida me deixei levar pelas fotos e cinco foram bordadas. Para a escolha das fotos, pensei na composição das paisagens, de como os objetos utilizados na pesquisa em ecologia aparecem e como o Antropoceno nos afetam.  Rememorando os momentos de campo, horas no sol, tomateiros enfileirados, flores ensacadas, tomates verdes-vermelhos-amarelos, abelhas em trânsito, relato abaixo alguns momentos que passam a ser considerados acontecimentos.

 

 

(Leia o artigo completo em PDF).

 

Recebido em: 20/11/2021

Aceito em: 10/12/2021

 

[1] Mestra em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Licenciada e Bacharel pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia. Integrante da Matilha de Estudos, Arte e Vida Uivo (UFU). Email: nicolecristinam@gmail.com

[2] Licenciada em Ciências Biológicas, Mestre e Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora no Instituto de Biologia (INBIO) e no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Integrante do UIVO – Matilha de estudos em criação, arte e vida (UFU). E-mail: lestevinho@gmail.com

 

Fotografias-bordadas: construindo paisagens para (re)existir

RESUMO: Vivemos em uma era marcada pela destruição em massa, mudanças climáticas aceleradas, uso indiscriminado de agrotóxicos, queimada e desmatamento das florestas, o Antropoceno que destrói, ao mesmo tempo que permite o surgimento de outras vidas. Em meio às paisagens em ruínas, este trabalho busca repensar a biologia, para conectá-la com a filosofia, a política e os estudos multiespécies contribuindo com as discussões sobre o Antropoceno. Literalmente cartográficas, as abelhas se relacionam com o mundo num rizoma sem fim de conexões. As abelhas se adaptam e criam modos de (re)existir em meio às paisagens em ruínas. Entendendo que as abelhas encontram-se afetadas pelas plantations, criamos refúgios a partir de fotografias, fotografias-bordadas, para assim provocar pensamentos e filosofia e biologia e arte e …. Pensando no conceito de paisagens com Anna Tsing, criamos refúgios com as fotografias-bordados com a intenção de sobreviver e (re)existir ao Antropoceno. Essas criações nos possibilitaram, em meio às ruínas, pensarmos a educação em uma perspectiva multiespécie. Uma educação multiespécie baseada no afeto, afetando e sendo afetada, criando possibilidades de coexistência e (re)existência.

 

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Ciências e Biologia. Antropoceno. Estudos Multiespécies. Educação Multiespécie.

 


Embroidered-photographs: making landscapes for (re)existing

 

ABSTRACT: We live in an era marked by mass destruction, accelerated climate change, indiscriminate use of pesticides, burning and deforestation of forests, the Anthropocene that destroys, while allowing the emergence of other lives. Amid the ruined landscapes this work emerges to rethink biology, to connect it with philosophy, politics and multispecies studies and to contribute to discussions about the Anthropocene. Literally cartographic, bees relate to the world in an endless rhizome of connections. Bees adapt and create ways to (re)exist amidst ruined landscapes. Understanding that bees are affected by plantations, we created refuges from photographs, embroidered photographs to provoke thoughts connecting philosophy and biology and art and Thinking about the concept of landscapes with Anna Tsing, we created refuges with embroidered photographs with the intention of surviving and (re)existing in the Anthropocene. These creations enabled us, amidst the ruins, to think about education in a multispecies perspective. A multispecies education based on affect, affecting and being affected, creating possibilities for coexistence and (re)existence.

 

KEYWORDS: Anthropocene. Multispecies Studies. Multispecies Education.


BORGES, Nicole Cristina Machado; ESTEVINHO, Lucia de Fatima Dinelli. Fotografias-bordadas: construindo paisagens para (re)existir. ClimaCom – Diante dos Negacionismos [Online], Campinas, ano 8,  n. 21,  abril.  2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/fotografias-bordadas-construindo/