Degradação ambiental planetária: uma evidência que transita entre o negacionismo e o reconhecimento | Soraya Romero Villarreal


Soraya Romero Villarreal[1]

 

Dentro das tensões mais subjacentes da política encontra-se aquela que exibe a distância entre o agora e a utopia, entre o dever ser e o presente vivido.  Na teoria, todo discurso deveria ser amparado em algo concreto – discursos vazios costumam não se sustentar no longo prazo. Mas, o que fazer quando, em um momento específico, eles parecem se alastrar na esfera pública? Ou, ao menos, ter força para construir realidades paralelas ou colocar em dúvida aquilo que é cientificamente verificável?

Um sistema de governo e as figuras políticas que o acompanham, por se mesmos carecem de legitimidade ou, dito de outro modo, não são absolutos ou autossuficientes. Uma das faces dessa legitimidade, baseia-se na valoração rotineira sobre o papel desempenhado pelo poder público por parte dos cidadãos como um todo. Neste contexto, o poder da ação comunicativa – entendida como o exercício vivo e latejante de emitir e receber informação, ideias, dados, sentimentos e emoções-, ainda que sendo em cada tempo e em cada sociedade de natureza dinâmica e multifatorial, aparece sempre como preponderante.

As nuances nas avaliações, opiniões e juízos expressam o nível de discernimento dos governados – mas também dos governantes-, frente à marcha dos acontecimentos num momento determinado. Os questionamentos levantados pelos cidadãos quando convertidos em atores políticos surgem a partir das demandas explicitas ou tácitas que giram em torno de vários elementos, como podem ser: o estilo de liderança dos referentes políticos, os temas relevantes nesse espaço/tempo, a percepção sobre a solidez ou não da democracia e até da gestão pública, o ideário de sociedade e bem-estar comum, entre outros.

Estes mesmos elementos influenciam, é claro, o acionar dos governantes. A supervivência e o desenvolvimento dos projetos políticos e seus executores – ou suas personalidades em destaque -, estão inevitavelmente atrelados a este tipo de relação social e comunicativa. Esta relação nos seus componentes ideais, deveria ser clara, no sentido de expor abertamente as agendas de poder em curso, e respeitosa, relevando que seu âmbito de ação é o cenário público, onde convergem cidadania e democracia. Embora, o curso e a resultante desse fluxo nem sempre é simples de prever, já que bem pode solidificar uma liderança ou abrir passo para novas bandeiras e projetos políticos, como pode configurar um quadro de repudio e intolerância, limitando inclusive a presença estatal em alguns ambientes ou dimensões sociais.

 

(Leia o ensaio completo em PDF)

 

Recebido em: 20/11/2021

Aceito em: 10/12/2021

 

[1] Administradora pública e cientista política da Escuela Superior de Administración Pública (Bogotá-Colômbia); Mestre em meio ambiente e desenvolvimento da UFPR; discente da Faculdade de Letras da Universidade Católica Paulista. E-mail: soraya.romerov@gmail.com

Degradação ambiental planetária: uma evidência que transita entre o negacionismo e o reconhecimento

 

RESUMO: O presente ensaio propõe uma reflexão crítica sobre a postura negacionista de alguns atores políticos perante a crescente degradação ecossistêmica global. Para tal finalidade, analisa de forma contextualizada o cenário socioambiental brasileiro do período governamental em curso, sob a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, que tem se caracterizado por um estilo de liderança que sistemática e permanentemente injeta indiferença e até menosprezo à crise ambiental em curso. Serve-se como pano de fundo dos aportes da Teoria Crítica nascida no seio do direito e da filosofia nos anos 1990, baseada no reconhecimento das diversas demandas coletivas como via alternativa de justiça social, numa ação contrária à apatia ou desinteresse, recolhendo, assim, para enriquecimento do debate, algumas das contribuições dos filósofos Axel Honnet e Ana Fascioli. São identificadas algumas interfaces entre o projeto político vigente brasileiro, as narrativas que o sustentam e elementos da realidade vivenciada na gestão pública local e internacional de cunho ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Negacionismo. Meio Ambiente. Reconhecimento.


Planetary Environmental Degradation:

evidence that transits between denial and recognition.

 

ABSTRACT: This essay proposes a critical reflection on the denialism stance of some political actors towards the growing and evident degradation of the global ecosystem. Therefore, it contextualizes the Brazilian socio-environmental context of the current government period, under the responsibility of President Jair Bolsonaro, who, according to the author, has been characterized by a leadership style that systematically and permanently injects indifference and even contempt for the current environmental crisis. As a background, this essay uses the contributions of the Critical Theory born within the law and philosophy in the nineties, which is based on the recognition of the various collective demands as an alternative means of social justice, contrary to apathy or disinterest, thus collecting some of the contributions of the philosophers’ Axel Honnet and Ana Fascioli. Some interfaces are identified between the current Brazilian political project, the narratives supporting it, and the reality experienced in local and international environmental public management.

KEYWORDS: Denial. Environment. Recognition.

 


VILLARREAL, Soraya Romero. Degradação ambiental planetária: uma evidencia que transita entre o negacionismo e o reconhecimento. ClimaCom – Diante dos Negacionismos [Online], Campinas, ano 8, n. 21,  dezembro. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/degradacao-ambiental-planetaria/