Por | Gláucia Pérez
Editora | Susana Oliveira Dias
No dia 08 de outubro o governo federal fez um corte de 600,3 milhões de reais no orçamento da ciência e tecnologia. Esse corte significa que 87% do que estava destinado financeiramente ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação não será repassado, e que apenas 89,7 milhões serão destinados ao órgão. Segundo avalia Alfredo Lopes, filósofo, escritor, e autor do blog Brasil Amazônia Agora: “ciência, educação e a qualificação das pessoas são instrumentos de resistência e mudanças. Sem isso iremos para o caos. E o caos já está instalado no Brasil pátria armada que nós já estamos vivendo”. Essa avaliação ele fez no dia 15 de outubro durante o evento online “Qual o impacto dos cortes em C&T e educação para o Brasil, e em particular para a Amazônia? ”, realizado pela Academia Brasileira de Ciências, feito com o intuito de discutir e buscar possíveis soluções para o corte no orçamento de C&T.
O evento contou também com a participação de: Emmanuel Tourinho, reitor da Universidade do Pará; Camila Ribas, coordenadora da biodiversidade do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA; Sanderson de Oliveira, professor da Universidade do Amazonas, lidera grupo de pesquisa sobre línguas e culturas amazônicas. O evento foi mediado por Adalberto Luis Val membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA.
Os palestrantes mostraram-se indignados com os cortes e ressaltaram a necessidade de uma união da comunidade acadêmica brasileira, principalmente agora, para enfrentar mais esse ataque do governo federal à ciência e tecnologia no Brasil. Essa união deve ser imediata e não deve ser marcada por “relações coloniais dentro do próprio Brasil”, como defendeu Camila.
Isso passa por mudar a percepção que se tem em relação, por exemplo, a algumas regiões do país. O Estado do Amazonas é considerado por muitos uma região desabitada e sem competência científica intelectual instalada. Isso não corresponde à realidade, a região é habitada por povos e culturas do local que são “capazes de nos ensinar como criar novos modelos civilizacionais que respeitem os nossos recursos, as nossas florestas, e que possibilitem um aproveitamento sustentável das nossas riquezas naturais”, ressaltou Tourinho.
De acordo com os palestrantes, a região Amazônica sempre teve uma parcela menor na distribuição de recursos dentro do país. Para que haja desenvolvimento na região é necessário desenvolver a pesquisa e cultura na Amazônia capacitando pessoas do local para que esse conhecimento permaneça na região amazônica, valorizando o fato de que são as pessoas locais que conhecem e são mantenedoras da cultura e biodiversidade da região.
Os palestrantes também colocaram que o desenvolvimento de ciência e tecnologia no país é recente, mais ainda no Amazonas, mas que já acontecia uma descentralização da ciência no Brasil e que agora com os cortes coloca em risco o desenvolvimento da ciência na região. Desde 2015 há cortes no orçamento para C&T, e os cursos de graduação e pós-graduação que vinham tendo um aumento foram prejudicados, bem como os alunos que dependem de bolsa de pesquisa de órgãos como a Capes. Projetos já estavam em defasagem devido a recursos financeiros não serem repassados, e agora correm o risco de provavelmente ficarem estagnados ou até mesmo serem finalizados.
A evasão de pessoas que são locais e que foram capacitadas na região mostra a falta de perspectiva de futuro da C&T. Há um custo de investimento nesses pesquisadores e eles acabam saindo devido a melhores ofertas.
(Link com a notícia completa em pdf)
Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.
Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)
Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.