É necessária uma ação coletiva e ambiciosa para diminuição no aquecimento global até 2030 | Gláucia Pérez

Em artigo da Revista Nature, Roberto Schaeffer, pesquisador da UFRJ e do INCT Mudanças Climáticas Fase 2, avalia que ações coletivas que visam diminuir o aquecimento global já acontecem, mas, ainda assim, precisam de maior rapidez e envolvimento eficaz de diferentes setores da sociedade. No Brasil é urgente o combate ao desmatamento legal e ilegal.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

De acordo com o artigo “Emissions: world has four times the work or one-third of the time” da Revista Nature de março de 2020 é urgente reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa para não ultrapassar o aquecimento global de 1,5ºC proposto no acordo de Paris; e para ter uma diminuição nos efeitos das mudanças climáticas até 2030. Cada país, atuando apenas individualmente, não tem como sozinho viabilizar esta meta, as emissões aumentaram e é necessário um corte maior nos níveis de emissão de gases. As políticas tomadas pelos países que participaram desse acordo não são mais suficientes e é preciso reavaliar essas metas coletivamente, pois caso contrário não haverá uma diminuição considerável no aquecimento global, e isso será um desastre em termos climáticos para o planeta.

Algumas medidas surgiram nos últimos dez anos. São ações ambiciosas de nações, cidades e empresas ao redor do mundo que levaram mudanças radicais, e que se intensificaram a partir do acordo de Paris; e ainda com a intenção de atingir as metas dos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) estipuladas pela ONU, tendo em mente que são as emissões cumulativas de dióxido de carbono que determinam o aumento da temperatura a longo prazo. De acordo com Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e pesquisador do INCT Mudanças Climáticas Fase 2, subcomponente de energia e mudanças climáticas, “Há que se criar, rapidamente, metas de emissão ambiciosas para os vários setores da economia e, com isso, facilitar a entrada acelerada de tecnologias de baixa emissão de gases de efeito estufa. Do lado da demanda de energia, há que se criar programas vigorosos de eficiência energética e de mudanças de hábitos de consumo”.

O artigo traz algumas medidas que já foram propostas até o momento: indústrias pesadas e de aviação em zerar a emissão de gases na produção de aço e cimento até 2050; voos de curta distância e domésticos com emissões zero até 2040; maior uso do transporte elétrico; ampliação da utilização de energias renováveis, como a solar e a eólica por serem mais competitivas em valores econômicos do que as usinas de carvão; países como China e Índia, que ainda dependem do carvão diminuíram seu consumo e, consequentemente, houve uma melhora na qualidade do ar, da saúde e segurança energética; bancos deixaram de financiar novas usinas térmicas a carvão;  o Reino Unido, junto com outros 75 países, têm objetivos de se tornarem neutros em carbono.

Em relação às medidas que deveríamos tomar no país, o pesquisador Schaeffer nos diz: “No caso do Brasil, a resposta é muito simples: simplesmente estancar, de imediato, o desmatamento ilegal, e criar mecanismos para também se viabilizar o fim do desmatamento legal”. Em sua avaliação, diferente de outros países, o combate de emissões de gases de efeito estufa no Brasil “é muito mais uma questão de lidar com o uso do solo do que, por exemplo, lidar com as emissões do setor energético nacional”.

Por fim, o artigo confirma que se não houver um envolvimento rápido, ambicioso e eficaz por diferentes setores da sociedade como governos, setores privados e comunidades, não será possível alcançar as metas do Acordo de Paris e, pior do que isso, os resultados para as mudanças climáticas e o aumento do aquecimento global serão dramáticos.

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Também participaram do artigo da Revista Nature, os seguintes pesquisadores: Niklas Höhne, Michel den Elzen, Joeri Rogelj, Bert Metz, Taryn Fransen, Takeshi Kuramochi, Anne Olhoff, Joseph Alcamo, Harald Winkler, Sha Fu, Michiel Schaeffer, Glen P. Peters, Simon Maxwell & Navroz K. Dubash

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.