Arteficiências e cocriações a partir de uma perspectiva dietética intensiva | Alessandro Gonçalves Campolina

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Alessandro Gonçalves Campolina [1]

 

Coexistências

As práticas dietéticas podem ser entendidas como processos que conjugam hibridações ético-estéticas em processos de subjetivação dos estilos do querer (Ponte, 2020). Partindo de interpenetrações recíprocas entre arte, filosofia e ciência (arteficiências), a noção de dietética repousa sobre a ideia de assimilação, de interdependência funcional, de relação de forças em tensão permanente, que concorrem por um estado de potência das vontades (Peixoto Jr., 2010).

No pensamento dietético, o corpo é expressão de uma coletividade mais ou menos regrada, na qual uma determinada instância reina ou toma o poder, e, portanto, exclui, descarta ou escolhe; simplifica, iguala ou traduz, assimilando o necessário à compreensão valorativa da vida, através da seletividade alimentar (Nasser, 2018). O sistema digestivo procede, portanto, assimilando forças: “ele absorve aquilo que é estranho e se esforça para reduzi-lo à sua singularidade, à sua identidade múltipla, diversa e plural” (Nasser, 2018).

Neste sentido, como então não ser arrastado por devires bio-tanatológicos de um pensamento selvagem que afirma a antropofagia e a devora geral das condições que nos constituem? “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” “O último a devorar o outro, por favor, apague a luz” (Andrade, 1928). Oswald de Andrade, amoroso e utópico poeta brasileiro, era também, o pensador de uma natureza em processo, que germina e espontaneamente produz.

Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignitários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. Tínhamos a Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário. […] A inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos. Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem (Andrade, 1928, p. 3).

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Recebido em: 20/03/2021

Aceito em: 15/04/2021

 

[1] Médico e Pesquisador do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo; Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Av. Dr Arnaldo, 251 – 8° Andar; Cerqueira César – São Paulo – SP – Brasil; Cep 01246-000 tel.: 11 3893-3024; e-mail: alessandro.campolina@hc.fm.usp.br