Estar à espreita, ensaiar: Pesquisar em educação e artes, marcas em coexistência | Marcela Bautista Nuñez
Marcela Bautista Nuñez [1]
Este ensaio, espreitensaio [2], é fruto de leituras, marcas, e pensamentos permeados pelas múltiplas intensidades e linhas oriundas do pesquisar em educação e artes. Um pesquisar permeado por imagens, sons, cheiros e escritas solitárias inundadas de vozes de outros e outras que me habitam, e contagiam concomitantemente. Ao referir-me a marcas, faço menção a tudo aquilo que durante minha trajetória investigativa e de vida me proporcionou e proporciona um pensar [3], um afeto que toca e aciona pensamentos. Encontros com signos que produzem potências [4] em nós.
Deixei-me habitar pelas inúmeras forças e intensidades que me atravessam durante uma aula. Online, remota, distante, conectada, envolta de saudade… Precisei reinventar-me frente a este cenário, onde se vê as paredes de casa muito mais do que antes, paredes que se tornam também local de labor, paredes que não somente acolhem e aconchegam durante o descanso de um dia longo vivido “lá fora”. Paredes que hoje nos separam de nós mesmos, em um caso singular de saúde pública, questão de vida ou morte.
Como ficar à espreita em meio ao caos? Como produzir e vivenciar potências no isolamento? Quem sabe algum ânimo… Quem sabe um profundo respirar, para não sufocar. Pensamentos que não pedem licença e me invadem a todo momento.
Na última semana de aula me foi solicitada a realização de um espreitensaio. Foi a oportunidade necessária, um respiro para materializar algumas ideias e pensamentos por meio da escrita, assim como na criação/produção de imagens com o intuito de forçarem o pensamento, criando caminhos além dos já assinalados pelas palavras, caminhos que nascem pelo “meio” (Preciosa, 2010). Uma busca incessante de agarrar provisoriamente alguns dos movimentos que me capturaram em meio a escritas, informações, imagens, e que me escapam com sua força mobilizadora e arrebatadora. Onde marcas são deixadas umas por cima de outras, marcas pequenas, grandes, rachaduras, infiltrações, sulcos e porosidades que me habitam e coexistem. Sobrejustapostas (Mossi, 2017) sem uma ordem a priori. Desse modo, tornando possível a coexistência de tempos e atualizações de memórias. Estando à espreita do que pode acontecer na produção deste tear artesanal descontínuo.
(Leia o ensaio completo em PDF).
Recebido em: 20/03/2021
Aceito em: 15/04/2021
[1] Mestre em educação, pela linha de pesquisa Educação e Artes (LP4). Licenciada em artes visuais. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: marcelachemy@gmail.com
[2] Proposta ofertada pelas professoras Francieli Regina Garlet e Marilda Oliveira de Oliveira, na disciplina de Mestrado, Seminário Temático da LP4: Experiência estética ‘entre’ leituras, escritas e imagens – por uma formação ‘menor’ em educação. Ano 2020.
[3] Pensar não significa exercitar movimentos mecânicos de reconhecimento de modo corriqueiro ou com algo já estabelecido. Pensar tem relação direta com a criação. Ao pensar mergulhamos em possibilidades de inventar outras perspectivas de vida no mundo em que vivemos, pois “o melhor dos mundos é não aquele que reproduz o eterno, mas aquele em que se produz o novo, aquele que tem uma capacidade de novidade” (Deleuze, 2007, p. 136).
[4] Toda potência é ativa e se encontra em ato, estando intimamente em relação com o poder de ser afetado pelo outro (pessoas, ideias, situações e coisas). Essa capacidade de ser afetado está invariavelmente ocupada por afecções que o efetuam (Spinoza, 2010).
Estar à espreita, ensaiar: pesquisar em educação e artes, marcas em coexistência
RRESUMO: Esta escrita se coloca à disposição de uma linha de pensamento que foi se produzindo mediante uma aula, permeada por leituras das filosofias da diferença. Diversos temas e conceitos como singularidade, ensaio, coexistência, pesquisa e arte foram se entrecruzando e formando um tear artesanal ensaístico. De maneira a evocar potencialidades e vivências oriundas dos estados inéditos nos quais podemos nos encontrar em meio à pandemia e à reclusão. Intentos de captura de potências e modos de criação que acionam as mais variadas vontades e desejos ao pensarmos os caminhos e as marcas aferradas em nossa existência, assim como na pesquisa em educação. Onde nos tornamos catadores das mais variadas coisas, escritas, imagens, cheiros, conversas. Um caminho realizado pelo meio, onde início e final coexistem.
PALAVRAS-CHAVE: Ensaio. Pesquisa. Marcas. Coexistência.
Be on the prowl, rehearse: researching in arts and education, memories in coexistence
ABSTRACT: This writing is placed at the disposal of a line of thought that was produced through a class, permeated by readings of the philosophies of difference. Where various themes and concepts such as singularity, essay, coexistence, research, art, have been intertwined and forming a handmade essay loom. In order to evoke potentialities and experiences coming from the unprecedented states of which we can find ourselves in the midst of the pandemic and the seclusion. Intentions of capturing powers and modes of creation that trigger the most varied wills and desires when we think of the paths and the marks held in our existence, as well as in educational research. Where we become collectors of the most varied things, writings, images, smells, conversations. A path taken through the middle, where the beginning and the end coexist.
KEYWORDS: Researching. Rehearse. Memories. Coexistence.
NUÑEZ, Marcela Bautista,. Estar à espreita, ensaiar: Pesquisar em educação e artes, marcas em coexistência. ClimaCom – Coexistências e cocriações [Online], Campinas, ano 8, n. 20, abril. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/estar-a-espreita/