Coexistências-rio: poética pós-antropogênica no livro interativo ///rios.força.fluxo (2020) | Cláudio Filho e Fernanda Oliveira


 

Cláudio Filho[1]

Fernanda Oliveira[2]

 

Coexistências-rio: poética pós-antropogênica no livro interativo ///rios.força.fluxo  (2020)

 

Vivemos em um tempo de perturbação antropogênica (Tsing, 2019). Esta frase dita o tom deste ensaio. Antropogênico foi o termo escolhido para definir o momento da história geológica da Terra marcada pelo impacto da presença humana no ambiente. Autores como Isabelle Stengers, Bruno Latour, Alyne Costa, Anna L. Tsing e Cesar Baio, percebem os conflitos que marcam a “era antropogênica”. Eles observam conflitos nas relações de território, migrações, trabalho e exploração, todos estes são parte do mesmo processo de intervenção humana na paisagem do mundo.

Escolhemos o termo a partir da concepção de Anna L. Tsing, que nos apresenta uma característica de emergências para com o tempo do Antropoceno.

Na intersecção entre etnografia e história natural, temos muito a aprender sobre como os humanos e outras espécies criam modos de vida através de redes de relações sociais. E agora que estamos começando a imaginar uma Terra antropogênica na qual os seres humanos estão em toda parte, envolvidos em transformar tudo precisamos saber quais socialidades mais que humanas estão sendo produzidas. (Tsing, 2019, p. 120)

 

O Antropoceno envolve uma série de preocupações geradas pela proposição da época geológica na qual as atividades humanas ultrapassaram as geleiras ao mudar a face da terra (Tsing, 2019, p. 203). Todavia, partimos aqui do entendimento do Antropoceno não por seu uso limítrofe ou direcionado para a “solução” ou para a reconciliação de natureza e humanidade, como em casos de apoiadores do progresso, nome dado por Bruno Latour aos entusiastas da modernidade.

Até os anos 1990 ainda se podia associar o horizonte da modernização a noções de progresso, emancipação, riqueza, conforto, até mesmo de luxo, e, principalmente, de racionalidade (ao menos para os que dele se beneficiavam), a fúria da desregulação, a explosão das desigualdades e o abandono das solidariedades associaram-no gradativamente à noção de uma decisão arbitrária surgida do nada para beneficiar apenas alguns. O melhor dos mundos passou a ser o pior.  (Latour, 2020, p.23)

 

(Leia o artigo completo em PDF).

 

Recebido em: 20/03/2021

Aceito em: 15/04/2021

 

[1] Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Unicamp, desenvolve pesquisa teórico-prática nas relações entre o corpo e paisagens multiespécies em meio à perturbações e contaminações. E-mail: c165075@dac.unicamp.br

[2]  Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Unicamp, bolsista FAEPEX 2029/19 vinculada ao projeto de pesquisa Estéticas pós-antropocêntricas: rumo a sistemas ‘bhiobridos’ sob orientação do Prof. Dr. César Baio. E-mail:  fefe_so@hotmail.com

 

Coexistências-rio: poética pós-antropogênica no livro interativo ///rios.força.fluxo (2020)

 

RESUMO: Consideramos modos de existência e criações conjuntas como processos de aprendizagens entre humanos e não-humanos, vivos e não-vivos, as quais promovem importantes reflexões acerca da habitabilidade do mundo à nossa volta. Este ensaio entrelaça conceitos e propostas sobre a poética pós-antropogênica, com o objetivo de articular estratégias para ressignificar as relações entre humano-data-paisagem para além das heranças epistemológicas modernas. Este percurso foi realizado a partir da experiência colaborativa ///rios.força.fluxo (2020), livro interativo de nossa autoria, na qual a união entre campos da natureza e tecnologia é potencializada pelo devir artístico atravessado pela virtualidade espaço-rio com o fluxo de rastros-memória recuperados de nossos bancos de dados imagéticos pessoais.

 

PALAVRAS-CHAVE: Humano-data. Antropogênico. Banco de dados.

 


River-coexistence: post-anthropogenic poetics in the interactive book ///rios.força.fluxo (2020)

 

ABSTRACT: Modes of existence and joint creations, in our perspective, are considered as processes by which learning between humans and non-humans, living and non-living are taken, which promote important reflections about the habitability of the world around us. This essay tangles concepts on “post-anthropogenic”, articulating strategies to reframe the relationships between human-data-landscape beyond modern epistemological inheritances. This was made based on the collaborative experience ///rios.força.fluxo (2020), an interactive book of our authorship, in which the union between fields of nature and technology is enhanced by the artistic development crossed by the space-river virtuality with the flow of memory trails retrieved from our personal image databases.

 

KEYWORDS: Human-data relationships. Anthropogenic World. Databases.

 


FILHO, Cláudio; OLIVEIRA, Fernanda. Coexistências-rio: poética pós-antropogênica no livro interativo ///rios.força.fluxo (2020). ClimaCom – Coexistências e cocriações [Online], Campinas, ano 8, n. 20,  abril. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/coexistencias-rio/