Ondas longínquas. Fotoperformance de um encontro artístico-geográfico | Silvana Sarti Silva e Rosalina Burgos


 

Silvana Sarti Silva[1]

Rosalina Burgos[2]

 

Numa tarde sob as águas de março que fecham o verão duas mulheres foram para a Ilha Comprida compartilhar seus respectivos olhares geográficos e artísticos sedentos de mar e cansados do concreto cinza dos dias grises de uma infinita quarentena que se multiplica a perder de vista…

 

A artista sorocabana Silvana Sarti se deteve profundamente tocada em sua alma artística diante da sequência de árvores majestosas que estavam enfileiradas na areia da praia, arrancadas desde a raiz pela força das águas, na ponta norte da Ilha Comprida onde deságua o Rio Ribeira de Iguape… Numa conjugação de instinto e técnica, saberes acumulados e percepção aguçada, pôs-se a reunir alguns materiais naturais dispostos na praia, cabendo à geógrafa Rosalina Burgos expor algumas das informações apresentadas nesse ensaio em meio aos registros fotográficos que mergulharam ambas numa simbiose espontânea e potente sob o sol poente que trouxe o dourado que inundou essa sensitiva e inquietante cocriação.

 

A faixa litorânea brasileira exibe, entre muitas de suas paisagens, a exuberante Mata Atlântica. Bioma complexo que abriga um mosaico de ecossistemas, com seus respectivos microclimas, variando conforme altitude, latitude, substrato rochoso, dentre outros fatores naturais. Dessa diversidade, resulta que nela vamos encontrar desde a mata atlântica de altitude, a de encosta e a de planície, onde também se estende a vegetação de restinga e os manguezais na confluência das águas do mar com as águas doces dos rios. O encontro entre tantos elementos e fatores resulta num ambiente extremamente dinâmico que permanentemente reproduz os próprios condicionantes para seu equilíbrio. A evaporação das águas, que toma a forma de ar úmido, encontra na “muralha que cerca o mar” – a Serra do Mar, uma barreira natural para que essa se condense e precipite formando as chamadas chuvas orográficas, ou seja, aquelas que se formam no alto da serra não chegando ao planalto em razão das elevadas altitudes existentes entre o nível do mar e os planaltos que se estendem em direção oeste do território nacional.

 

A cadeia de morros que conformam a serra ao longo da costa é formada por substrato rochoso cristalino antigo, já bastante desgastado pela ação do intemperismo, das condições climáticas em seu conjunto de fatores que envolve a ação dos ventos, da temperatura, da precipitação pluvial e a ação poderosa das águas dos rios. As rochas mais resistentes, a exemplo do granito, resta exposta nos topos de morros e encostas que por vezes exibem cachoeiras de inigualável beleza cênica. Mas a ação do tempo é implacável e as rochas menos resistentes vão cedendo e se transformam em seixos rolados ladeira abaixo, no tempo geológico lento e potente em seu desenho e redesenho das paisagens terrestres. As terras baixas então são as receptoras dos sedimentos levados pela força das águas e da gravidade até alcançarem as planícies costeiras onde finalmente os rios serpenteiam lentamente em amplas planícies que se recobrem de restinga e manguezais. Soma-se a isso uma das mais ricas faunas do planeta, entre mamíferos, anfíbios, répteis, aracnídeos, aves e peixes, bem como da flora, com espécies arbóreas que atingem metros de altura, a exemplo do Pau-Brasil e do Guapuruvu, até plantas rasteiras que junto ao solo vão formar a serrapilheira – matéria orgânica em decomposição que age junto ao intemperismo das rochas que resulta em solo.

 

 

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Recebido em: 20/03/2021

Aceito em: 15/04/2021

 

[1] Artista visual e performer. Graduada em Letras (UNISO) e Bacharela do Desenho (Faculdade Santa Marcelina). Tutu-Marambá. Pesquisa em Artes do Corpo. silvana.sarti@gmail.com

[2] Geógrafa. Doutorado em Geografia, Docente do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades da UFSCar- Campus Sorocaba. rburgos@ufscar.br

 

Ondas longínquas. Fotoperformance de um encontro artístico-geográfico

 

RESUMO: No complexo estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape-Peruíbe, encontra-se a Ilha Comprida. A tranquilidade de suas paisagens serenas e preservadas – que recentemente vem conhecendo acelerado avanço de sua ocupação, o que também contribui para o quadro geral de destruição e impacto observados – contrasta com ruínas das edificações na linha da costa, as quais anos atrás subestimaram as ações do aumento do nível do mar e dos excessos causados pela voraz sede de lucros da humanidade. Para além da destruição completa de quarteirões inteiros de casas e toda a infraestrutura urbana, outra imagem impacta e alerta para nosso futuro incerto. Majestosas árvores jazem deitadas na areia da praia. Foram arrancadas do solo inteiras desde a raiz, e se apresentam como metáfora da vida-morte-vida no vai-e-vem das ondas do mar, e foram motivação central para a fotoperformance que resultou desse encontro artístico-geográfico.

 

PALAVRAS-CHAVE: Fotoperformance. Ilha Comprida. Dinâmica costeira.

 


Distant waves. Photoperformance of an artistic-geographic encounter

 

ABSTRACT: In the Cananéia-Iguape-Peruíbe estuarine-lagoon complex, Ilha Comprida is found. The tranquility of its serene and preserved landscapes – which has recently been experiencing an accelerated advance in its occupation, which also contributes to the general picture of destruction and impact observed – contrasts with the ruins of buildings on the coast that years ago underestimated the actions of the increase sea ​​level and the excesses caused by humanity’s voracious thirst for profits. In addition to the complete destruction of entire blocks of houses and the entire urban infrastructure, another image impacts and alerts us to our uncertain future. Majestic trees lie on the beach sand. They were uprooted from the ground whole from the root, and are presented as a metaphor of life-death-life in the back and forth of sea waves, and were the central motivation for the photoperformance that resulted from this artistic-geographic encounter.

 

KEYWORDS: Fotoperformance. Ilha Comprida. Coastal dynamics.

 


SILVA, Silvana Sarti; BURGOS, Rosalina. Ondas longínquas. Fotoperformance de um encontro artístico-geográfico. ClimaCom – Coexistências e cocriações [Online], Campinas, ano 8, n. 20,  abril. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ondas-longinquas/