Relação de cuidados e afetos entre criadores e vacas na Paraíba | Joelma Batista do Nascimento
Título | Relação de cuidados e afetos entre criadores e vacas na Paraíba
O ensaio fotográfico tem como objetivo evidenciar a relação de afetos e cuidados que se constroem com vacas leiteiras pela via alimentação, vínculo de proximidade com os bezerros e “partilha de sofrimento” (Haraway, 2011) quando elas adoecem. As fotografias foram produzidas em 2017, no sítio Palha Amarela, município de Piancó, Paraíba. Elas fazem parte de minha pesquisa de doutorado sobre criação de gado (Nascimento, 2021). As seis imagens iniciais retratam os cuidados especiais no primeiro mês pós-parição. A primeira, sobrevoo de urubus, próximo ao local onde estava a vaca recém-parida. Quando percebidos, o criador correu até ela, temendo a predação da bezerra. A poucos dias de parir, a vaca foi separada das demais, permanecendo nesse cercado por duas semanas, até ser agregada ao curral. Essa separação é feita, pois o leite, durante esse período, não é utilizado para comercialização ou consumo familiar, ele é apenas fonte alimentícia para o bezerro. Como a produção diária excede seu consumo, para evitar inflamações no úbere, o criador pratica a ordenha, descartando-o. No primeiro mês, pós-parição, as vacas, por questões fisiológicas, têm uma maior atenção em torno da alimentação, a fim de evitar processos inflamatórios e um maior índice de produção leiteira, evitando alimentá-las com rações de alto teor proteico, a palma é um excelente suplemento alimentar, rica em carboidrato e, abundante nas terras de Rosieudo. Em relação a cria é bastante comum vacas não permitirem a aproximação de nenhum ser humano, a não ser do criador, e até eles podem ser vistos como ameaça em alguma ocasião. A cena em que a bezerra recebe com agrado o toque de seu criador e, ao lado da mãe, com poucos dias de vida, foi uma das poucas que presenciei, geralmente, elas eram bastante arredios, sobretudo, pelos processos de contenção com cordas, após as vacas serem reagrupadas ao rebanho leiteiro, pois as tetas passavam a serem disputadas pelo filhote e pelas mãos do criador para esvaziar o úbere. Bezerros machos ou fêmeas possuíam tratamento e predileções distintas, enquanto os primeiros eram comercializados após o desmame, as fêmeas eram preservadas para aumento do rebanho leiteiro. Com elas, se adotava comportamentos de menor grau de agressividade e impaciência, com o intuito de desenvolver um relacionamento mais amistoso, considerando que elas seriam vacas leiteiras e, por conseguinte, a parceria se estabeleceria por alguns anos e para isso era fundamental estabelecer uma relação de confiança. Já, as três últimas fotografias, são referentes ao instante que, uma vaca, após alimentar-se com ração, não digeriu o alimento, podemos percebê-lo através das diferenças (lateral esquerda e direita) no tamanho da barriga. Ela foi cuidada com chá de alfazema brava, no primeiro dia e, no seguinte, com medicação receitada pelo veterinário. O uso de métodos alternativos, como plantas ou raízes, é bastante comum na região.
Joelma Batista do Nascimento
Doutora em Antropologia pela UFSC
E-mail: batistajoelma10@yahoo.com.br
(083) 991003374
NASCIMENTO, Joelma Batista do,. Relação de cuidados e afetos entre criadores e vacas na Paraíba. ClimaCom – Coexistências e cocriações [online], Campinas, ano 8, n. 20. abril 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/relacao-de-cuidados-e-afetos/
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