Aids e autonomia nas artes visuais: apontamentos de pesquisa | Ricardo Henrique Ayres Alves | ClimaCom


Aids e autonomia nas artes visuais: apontamentos de pesquisa | Ricardo Henrique Ayres Alves


Ricardo Henrique Ayres Alves[1]

 

A autonomia da arte é um tema abordado por diferentes teóricos que debatem a arte europeia, bem como suas continuidades nos contextos decorrentes do colonialismo. A esse respeito, o antropólogo inglês Alfred Gell propõe o conceito de agência para compreender manifestações artísticas que diferem da matriz europeia, produzindo sua teoria a partir do efeito que a arte provoca na vida social, algo muito diverso das discussões hegemônicas no campo das artes visuais. Nesse caso, é a partir de outra episteme que se constitui a reflexão sobre a arte instituída a partir do domínio europeu na América Latina por meio da colonização, cujos modelos e discursos continuam parcialmente vigentes.

Ao início do processo de dominação, marcado também pela imposição dos preceitos artísticos e estéticos dos colonizadores, as primeiras influências eram as correntes renascentistas e barrocas, que preconizavam uma relativa autonomia da arte – ainda mais se comparadas com a perspectiva da produção artística no período da Idade Média. No entanto, é a partir do pensamento desenvolvido pelo filósofo Immanuel Kant, no séc. XVIII, que se estabelece com maior vigor a arte como uma esfera apartada da continuidade da vida. Assim, em uma perspectiva kantiana, que pensa o domínio das belas artes a partir dos preceitos do juízo estético, a arte estaria no âmbito da contemplação, constituindo um domínio autônomo, já que não possuiria qualquer finalidade exterior a ela própria. Essa perspectiva penetra cada vez mais no continente americano a partir do estabelecimento do ensino formal promovido pelas escolas de belas artes que aqui foram constituídas, formatando os contextos das colônias a partir dos paradigmas das metrópoles, ainda que com suas especificidades locais (leia o ensaio completo em pdf).

 

Recebido em 15/11/2020

Aceito em 25/11/2020

 

[1] Doutor e mestre em Artes Visuais (UFRGS), bacharel em Artes Visuais (FURG). Professor do Centro de Artes da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Campus Curitiba I da UNESPAR. E-mail: ricardohaa@gmail.com

 

 

Aids e autonomia nas artes visuais: apontamentos de pesquisa

RESUMO: Neste ensaio procuro refletir, a partir da constituição do campo das artes visuais e do conceito de autonomia, sobre algumas situações que tensionam os limites de uma pesquisa que aborda a aids na história da arte. Nessa perspectiva, relato duas experiências em eventos acadêmicos que problematizam o paradigma da autonomia do domínio artístico em relação ao mundo social. A partir desses exemplos, discuto o uso do discurso da autonomia como uma ferramenta a serviço da exclusão de temas contra-hegemônicos como as questões de gênero, sexualidade e da aids, e também problematizo a compreensão da arte que aborda a enfermidade em relação a outros campos. Observo, por fim, como a relação entre a arte e o meio social é produzida por meio de uma série de discursos e práticas que estão em constante negociação, compreendendo tanto a relativa autonomia do campo artístico, bem como a sua relação com a sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Aids. Autonomia. História da Arte.

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Notes on research: AIDS and the autonomy in visual arts

ABSTRACT: From a constitution of the field of Visual Arts and the concept of autonomy, this essay aims to reflect on some situations which propose tensions to the limits of a research that addresses AIDS in Art History. In this perspective, I report two experiences in academic events that problematize the autonomy’s paradigm of artistic domain regarding the social world. From these examples, I discuss the use of autonomy discourse as a tool for the exclusion of counter-hegemonic themes as gender, sexuality and AIDS, and I also problematize the understanding of art that approaches the disease in relation to other fields of knowledge. Finally, I observe how the relationship between Art and his social environment is produced through a series of discourses and practices that is constantly in negotiation, comprising the relative autonomy of the artistic field, as well as its relationship with the society.

KEYWORDS: AIDS. Autonomy. Art History.

 

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ALVES, Ricardo Henrique Ayres. Aids e autonomia nas artes visuais: apontamentos de pesquisa. ClimaCom – Epidemiologias [Online], Campinas, ano 7,  n. 19,  Dez.  2020. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/aids-autonomia-artes-visuais/