CHAMADA PARA PUBLICAÇÕES: Dossiê “Desvios do ‘ambiental'”
Editoras: Michele Fernandes Gonçalves e Ana Maria Hoepers Preve – Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)
Os artigos, ensaios, resenhas e produções artísticas e culturais devem ser adequados às normas para publicação e enviados à Comissão Editorial até o dia 15 de setembro de 2024 por meio eletrônico para climacom@unicamp.br. O dossiê será publicado a partir de novembro de 2024.
Leia a proposta do dossiê e conheça as normas de publicação da ClimaCom.
Imagem | “Desvios do ‘ambiental'” Fotografia de Tatiana Plens
Numa música, o que é que mantém junto tudo aquilo que componho, toco ou ouço? Sem dúvida existe um ponto do qual vale nos afastarmos por algum momento, aquele em que compor é tecer uma sequência teoricamente explicada de efeitos ou gestos ou símbolos ou truques, e buscar um outro modo de ver as coisas…
Sílvio Ferraz (2018)
A Educação Ambiental, embora configure um campo disciplinar em seu modo de funcionamento, aparece nos documentos oficiais da Educação Básica brasileira como tema transversal. Ainda assim, vê-se que muito de sua operação limita-se a algumas áreas consideradas de caráter “ambiental”, e mesmo nelas adquire a forma da informação – é necessário saber sobre a “natureza”, o “ambiente” e suas complexas relações internas para deixar de agredi-los. Entretanto, muitos pensadores ao longo dos séculos XX e XXI criticaram e ainda criticam a ideia desse saber sobre, advogando que o saber, por si só, já não garante qualquer transformação. A crise da experiência, já anunciada por Walter Benjamin (2012) nas primeiras décadas dos anos 1900, segue sendo colocada em discussão por autores de distintos campos do saber, das ciências à filosofia e às artes e delas à própria educação, e em todos eles se relaciona de algum modo a uma outra crise, a da informação – a ideia de que basta estar informado sobre as causas e consequências de uma ação ou acontecimento para transformá-los ou evitá-los. Grande parte da comunicação, de acordo com Maurício Lazzarato (2006), normatiza a existência de maneira intencional ao disseminar a informação como um dispositivo moderno que limita a criação de possíveis a uma simples transmissão, agindo no sentido de reduzir o imprevisível e o desconhecido ao já sabido e esperado e inaugurando um novo terreno de luta entre as lógicas e práticas da informação e as da expressão.
Afastando-se das lógicas informacionais e caminhando em direção às lógicas expressivas, pensadores contemporâneos como Bruno Latour, Lynn Margullis, Ana Primavesi, Ana Tsing, Emanuelle Coccia, Donna Haraway, Estefano Mancuso, Ailton Krenak e tantos outros, todos transitando entre por entre campos distintos do conhecimento, vêm ganhando destaque ao afirmar que é necessário, para além do “sobre”, pensar com, escrever com, fazer com, sentir com, viver com, saber com. O que se coloca como urgência em todos eles é a necessidade de uma mudança no modo de fazer e de pensar que seja capaz de afetar o modo de sentir e de se relacionar com as coisas, e que retire a primazia da informação como redenção dos problemas sociais, ambientais, psíquicos, emocionais, relacionais etc. Entretanto, se a informação, como nos mostram Ana Maria Preve e Guilherme Corrêa (2007), se mostra insuficiente para responder aos tempos em que vivemos por plasmar o pensamento à uma “ecologia de rebanho” moral e simplificadamente recostada na ordem do “sobre” do vivido, há de se pensar o que surge como contraponto. Nesse sentido, a insistência do presente parece exigir uma mudança profunda na sensibilidade, como sugere Franco Berardi (2020), a qual, necessariamente, toca o campo educacional.
Carlos Skliar (2003) sugere que a educação é o lugar onde o encontro com o outro pode se dar no âmbito do sensível, de um reverberar permanente que cria, a cada vez, facetas inauditas de todos nós, como em uma melodia que nunca se repete da mesma maneira embora sejam sempre as mesmas notas a serem tocadas, pois que a variação em sua repetição depende do movimento que a produz, o qual carrega em si a possibilidade de uma pequena diferença. Para que essa diferença apareça é necessário, contudo, desfazer-se de antigas canções ou modos de execução musical cuja fixação pela forma vazia, advinda da divisão aristotélica entre forma e conteúdo, impeça o curso constante de suas transformações. Em outras palavras, para que esse reverberar se faça soar a plenos pulmões é preciso abandonar antigas práticas que pensem e produzam mundos a partir das “divisões fundamentais” e das grandes dicotomias herdadas e/ou aprofundadas na Modernidade: humano x animal, cultura x natureza, teoria x prática, ambiente x sociedade, sujeito x objeto, razão x emoção, educação x ignorância etc.
Tendo em vista a potência e a urgência desse abandono, nos propomos, para este dossiê, a seguinte pergunta: e se pensássemos a Educação fundada na separação entre o “ambiente” e os que o tomam e examinam por seu “objeto” como uma canção démodé cuja fixidez de seu refrão – o refrão “ambiental” – precisasse ser incessantemente traída, até que dessa traição derivasse uma pequena diferença, um desvio composicional, um intervalo dissonante? Desejamos reunir pesquisadores, educadores, artistas e pensadores de diversas áreas do saber que estejam produzindo/experimentando práticas, em espaços formais e não formais de educação, que se disponham a trair esse refrão, o refrão da Educação Ambiental feita com letras maiúsculas, arriscando-se a pensá-la e problematizá-la a partir de um deslocamento de seu lugar confortável – o lugar institucionalizado e “salvador de todos perante a crise climática”. Práticas que estejam dispostas a considerá-la a partir de um novo refrão, uma melodia outra que não a disciplinar, uma educação ambiental que, inspirados em Gilles Deleuze e Félix Guattari (2014) e, mais contemporaneamente, em Ana Godoy (2008) e Sílvio Gallo (2008), chamaremos menor, feita com letras minúsculas, cadências “estranhas” e compassos inimagináveis, na direção da produção de afetos que fendam a ideia de que há um “ambiente” a ser salvo por uma condição “humana”.
Convidamos à proposta de artigos, ensaios acadêmicos, ensaios fotográficos, relatos de experiência, reportagens, entrevistas e resenhas que coloquem em jogo essas práticas “desviantes” na sua composição possível com o cinema, a fotografia, a dança, a literatura, o teatro, a música, a agroecologia, a permacultura, a sala-de-aula, a Educação Básica, a escola pública, a rua, a praia, o museu, o herbário, o laboratório, o jardim etc. Artigos que mobilizem questões que tem como mote nossa relação com: o meio, as coisas, a “natureza”, o outro em sua alteridade radical – esse, que reverbera, sempre, junto.
Editoras | Michele Fernandes Gonçalves e Ana Maria Hoepers Preve
Referências
BENJAMIN, Walter, 1982-1940. Magia e Técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura/ Walter Benjamin. Tad. Sérgio Paulo Rouanet. 8ª. Ed. Revista. São Paulo: Brasiliense, 2012 – (Obras Escolhidas v.1).
BERARDI, Franco. Asfixia: capitalismo financeiro e a insurreição da linguagem. Trad. Humberto do Amaral. São Paulo: Ubu, 2020.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 2014.
FERRAZ, Silvio. Livro das sonoridades: [notas dispersas sobre composição]: um livro de música para não-músicos ou de não-música para músicos. 2a. ed. Rio de Janeiro: 7letras, 2018.
GALLO, Sílvio. Deleuze e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
GODOY, Ana. A menor das ecologias. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
LAZZARATO, Maurizio. As revoluções do capitalismo/ Maurizio Lazzarato. Trad. Leonora Corsini. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (A Política do Império).
PREVE, Ana Maria H.; CORRÊA, Guilherme. Ecologia de rebanho. In: Ana Maria H.; CORRÊA, Guilherme (Org.). Ambientes da Ecologia: perspectivas em política e educação. Santa Maria, Ed. da UFSM, 2007.
SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Trad. Giane Lessa. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
ClimaCom – NORMAS PARA A PUBLICAÇÃO
SEÇÃO PESQUISA
SUBMISSÃO DE ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS
A Revista ClimaCom recebe artigos, ensaios e resenhas originais para publicação nos Dossiês para os quais faz chamadas temáticas, e também recebe artigos, ensaios e resenhas originais em fluxo contínuo. Os autores deverão observar o tempo de 2 anos para nova publicação na ClimaCom.
As contribuições são avaliadas pela Comissão Editorial e por pareceristas ad hoc, por meio de revisão às cegas, reservando-se o direito da Revista de propor modificações com a finalidade de adequar os artigos e demais trabalhos aos seus padrões editoriais.
Os originais submetidos à Revista não podem estar em processo de avaliação simultânea em outra publicação e devem ser inéditos no Brasil, cabendo ao Conselho Editorial avaliar a conveniência de publicar ou não trabalhos já divulgados em outros idiomas por revistas e órgãos editoriais de outros países.
Cabe à Comissão Editorial uma análise preliminar dos originais recebidos, a fim de verificar a conformidade com as linhas editoriais e as normas da Revista, podendo recusá-los ou encaminhá-los, caso aprovados, para processo de avaliação com vistas à sua publicação ou não. Poemas e outras modalidades de produção artístico-literária e iconográfica são também publicados, mas unicamente mediante convite da Comissão Editorial.
É condição para a publicação dos materiais a adequação à linha editorial da revista, o cumprimento das normas e a revisão prévia.
Instruções aos colaboradores:
Apreciação pela Comissão Executiva Editorial
Os trabalhos serão, primeiramente, apreciados pela Comissão Editorial Executiva, que solicitará pareceres aos Consultores ad hoc, que permanecerão anônimos. Os artigos serão encaminhados aos consultores sem identificação. Os autores serão notificados da aceitação ou recusa de seus artigos.
Quando forem indicadas modificações substanciais, o autor será notificado e poderá realizá-las, devolvendo o trabalho reformulado dentro do prazo estabelecido pela Comissão. Antes da publicação dos trabalhos, os pareceres serão enviados aos autores. Caso os autores não levem em consideração os apontamentos e sugestões de correção contidas nos pareceres, o texto não será publicado.
A decisão final acerca da publicação ou não do trabalho caberá sempre à Comissão Editorial Executiva.
ARTIGOS
Serão aceitos artigos inéditos em português, espanhol e inglês com o mínimo de 5 páginas (para as áreas de exatas e biológicas) e 10 páginas (área de humanas) e o máximo de 30 páginas, excluindo as referências finais.
ENSAIOS
Serão aceitos ensaios inéditos em português, espanhol e inglês entre 2 e 15 páginas, excluindo as referências finais. Os ensaios caracterizam-se pela maior liberdade formal na exposição do tema de interesse do autor e de seus argumentos. Seu caráter é o de um exercício do pensamento, mas não desprovido de rigor.
RESENHAS
Serão aceitas resenhas de livros indicados pela Comissão Editorial Executiva em português e espanhol de até 8 páginas, incluindo as referências finais.
FORMATAÇÃO PARA ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS
Os artigos, ensaios e resenhas deverão obedecer estritamente à formatação apresentada nos respectivos templates (margens, tamanho da folha, espaçamentos, tamanho de fonte, estilos etc.), que trazem também exemplos das normas para citação e referenciação. Os casos não exemplificados deverão ser consultados nos documentos da ABNT linkados abaixo.
(baixe o template em word aqui)
(baixe o template em word aqui)
(baixe o template em word aqui)
1) Serão aceitos arquivos somente nos formatos Microsoft Word 97-2003 ou versão superior.
2) A avaliação dos pareceristas ad hoc será anônima, por isso deverão ser enviados dois arquivos: um com autoria e outro sem os nomes dos autores e sem qualquer informação que identifique autoria. No lugar dessas informações deverá ser usada a palavra AUTOR.
3) As citações deverão seguir a NBR 10520 – 2002;
4) As referências deverão seguir a NBR 6023 – 2002;
5) Para o uso de Figuras ver tópico 5.9 da NBR 14724 – 2011;
6) Para os artigos, havendo o uso de Quadro e Tabela devem deve ser consultadas as Normas IBGE completo, ou Normas IBGE simplificado;
7) As únicas expressões latinas que poderão ser usadas no corpo do texto e nas notas ao final, quando necessário, é apud e a abreviatura et al.
SEÇÃO ARTE
SUBMISSÃO DE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS
Esta seção atua como um espaço expositivo da revista, no qual podem ser publicadas produções artísticas e culturais nas mais diversas modalidades (vídeo, áudio, fotografia, escrita, pintura, desenho, etc.) que possam multiplicar pensamentos em torno das mudanças climáticas na relação com o tema proposto por cada edição da revista. Também podem ser submetidos registros de produções (instalações, oficinas, exposições, intervenções, etc.), em formato digital para publicação.
A comissão julgadora das produções artísticas e culturais é composta pelo Conselho Editorial e avaliará as submissões com base nas seguintes normas:
1) A Revista ClimaCom é uma publicação eletrônica, por isso TODAS as produções submetidas devem ser convertidas em formato digital (áudio, vídeo ou imagem).
2) As produções devem vir acompanhadas de arquivo em doc do word contendo:
-
dados do(s) autor(es) (nome, instituição, e-mail, telefone);
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título da produção;
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resumo de no máximo 500 palavras;
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no caso das produções audiovisuais, deve conter ainda o link em que o arquivo se encontra disponível para avaliação;
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FICHA TÉCNICA da produção no arquivo com as seguintes informações, quando for pertinente ao trabalho: título da obra, autor, diretor, roteirista, editor, coordenador, técnica, fotógrafo/câmera, música original, financiamento, projeto, país de produção, ano de produção.
3) As produções audiovisuais serão analisadas através de endereço eletrônico gerado pelo youtube ou vimeo, e, no caso das produções aceitas para publicação, o arquivo deve ser encaminhado via CD/DVD para o endereço da revista.
4) As produções submetidas em imagem digital devem possuir resolução mínima de 72 dpi, e com 1024 pixels no maior lado da imagem, nos formatos JPEG, GIF ou PNG.
5) O(s) autor(es) poderão submeter até 1 série de imagens, é aconselhado que cada série seja composta de até 10 imagens (se necessário a equipe da revista poderá efetuar alterações na qualidade e tamanho das imagens, para melhor adequação aos parâmetros da revista, após consultar os autores).
6) Caso seja necessário, um representante da revista entrará em contato com os responsáveis pelas obras selecionadas, por e-mail ou telefone, solicitando o envio de cópias autenticadas dos documentos exigidos por lei, tais como licença ou cessão de direitos autorais, autorização das pessoas filmadas para exibição de sua voz e imagem, autorização para uso de fonograma, músicas, obras audiovisuais, fotográficas ou de outros direitos autorais que sejam relacionados com o vídeo inscrito.
7) O produtor é responsável pela utilização de imagens ou músicas de terceiros em seus trabalhos. Todos e quaisquer ônus por problemas de direitos autorais recairão exclusivamente sobre o realizador do trabalho inscrito.
8) As submissões serão realizadas através do e-mail: <climacom@unicamp.br>. O(s) autor(es) deve(m) encaminhar no e-mail o arquivo PDF com os dados, título, link, resumo e ficha técnica da produção, junto às imagens que compõem a série.
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