Por | Gláucia Perez
Editora | Susana Dias
A artista visual Cláudia Tavares, em seu trabalho “Jardim em floresta”, criou um verdadeiro rio voador entre o Rio e a Floresta, entre a cidade do Rio de Janeiro e a cidade de Floresta no sertão de Pernambuco. Para isso se propôs a recolher em garrafas de vidros a água retirada do seu ateliê úmido no Rio e transportá-las para a cidade de Floresta no sertão nordestino. Conta ela, em sua tese de doutorado, em processos artísticos contemporâneos, defendida no Instituto de Artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que “tinha decidido que iria construir um jardim para regá-lo com a água engarrafada”. Em um filme produzido pela artista, pudemos acompanhar como essa ideia ganha vida, como se tece um rio voador para pôr em comunicação arte e a natureza, água, palavra e imagem. Uma busca em que “a natureza assume o lugar de parceria em trabalhos de arte contemporânea”, afirma.
Para o desenvolvimento desse trabalho, Claudia mesclou observação, pensamento e pesquisa, propôs um convívio entre rios, plantas, garrafas e pessoas, exercitou encontros entre jardinagem, produção de cadernos de artista, desenho, fotografia e vídeo. Repensou a relação arte-natureza-homem-coletividade-planeta em diálogo com pensadores como Milton Santos, Michel Serres, Félix Guattari e artistas renomados, como Giuseppe Penoni, Nelson Félix, Brígida Baltar. Deixou-se afetar por uma percepção de que a realidade envolve um coexistir com trocas, com linguagens distintas, com respeito ao tempo-espaço de cada ser. Experimentou, assim, a natureza como arte para se comunicar, levando não apenas a água, mas a própria ideia de comunicação, a se relacionar com outros possíveis, e fez-nos pensar: por que nos comunicamos?
Ao longo da viagem, nas casas onde houvesse um jardim, a artista relatou seu objetivo de construir um jardim na cidade de Floresta regado com a água transportada. E, assim, deu início a trocas de conhecimentos e afetos com os moradores através das doações de plantas recebidas. Uma intervenção artística que nos faz enxergar outras formas de coexistir, de ser afetado e de interagir com o mundo, nestes tempos tão preocupantes: “Trago então o termo Antropoceno, que vem sendo utilizado por alguns cientistas para aludir a uma nova camada geológica que registra comprovadamente a ação humana na Terra. É a iminência de uma nova era que se inicia em estado de alerta que coloca em risco a vida humana na terra”, diz Claudia.
O trabalho da artista “Um Jardim em Floresta” foi apresentado no 2° Simbioses – “Encontro de Artes, Ciências, Filosofias e Mudanças Climáticas”, que teve como tema “Refúgios para espantar o Antropoceno”, realizado na Faculdade de Educação da Unicamp, no dia 22/11/2019. Este evento contou com o apoio do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC), do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e faz parte do projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2, financiado por: CNPq projeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014. Foi organizado pelo grupo multiTÃO e revista ClimaCom (Labjor–Nudecri–Cocen-Unicamp).
Para conhecer outros trabalhos relacionados à pesquisa da artista Cláudia Tavares, segue link do trabalho “Redes para aranhas, folhas, insetos e afins” <https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/claudia–tavares-redes-para-aranhas-folhas-insetos-e-afins/>, publicado na ClimaCom em dezembro de 2019.