CHAMADA PARA PUBLICAÇÕES: Dossiê “Devir-criança: o ingovernável da vida”
Editora: Alice Dalmaso (Universidade Federal de Santa Maria – UFSM)
Os artigos, ensaios, resenhas e produções artísticas e culturais devem ser adequados às normas para publicação e enviados à Comissão Editorial até o dia 30 de junho de 2020 por meio eletrônico para climacom@unicamp.br. O dossiê será publicado em setembro de 2020.
Leia a proposta do dossiê e conheça as normas de publicação da ClimaCom.
“Devir-criança: o ingovernável da vida”
Afirmar o ingovernável da vida. Afirmar os devires de uma criança: ser testemunha de seus modos de compor mundos, contraindo instaurações que dão a ver e nascer modos de existir das mesmas, legitimando e dando realidade a seus devires, suas infinitas maneiras de ocupar os tempos e espaços.
Observá-las, num delírio lúcido.
Uma criança brinca com aqueles que possam compor junto dela, desde que esse outro afirme algo de verdade em suas células, em sua biologia. É como se ela sussurrasse: ‘Se você não compor comigo, genuinamente, não vai rolar essa brincadeira’. Um corpo que compõe com o mundo porque vaza, extravasa, arremessa, extrai de seus átomos, ininterruptamente, um ser jovem levado ao limite. Insiste nos corpinhos minúsculos, molecularmente, uma teimosia: ‘Não há alimento que me faça parar! Não quero dormir!’. Só há movimento – mesmo parado – um modo de existir incompreendido pelos excessivamente organizados, disciplinados.
Notamos que há uma curiosidade alegre no próprio devir da criança, capaz de se alinhar e conjugar com seres minúsculos, animados e inanimados, na iniciativa de recorrer ao que seu corpo pede, de fazer um jogo com o corpo do outro ou com materiais que surgem para ela como algo animado de forças (LAPOUJADE, 2017). Um conjunto de pedras que podem ter som, uma formiga que se desloca, uma poça de água ou o esvaziar de uma onda do mar sob seus pés saltitantes, um amontoado de areia em seus dedos, um pote de tinta fresca lambuzada em suas mãos, um buraco a ser cavado infinitamente até encontrar ‘algo’ que a faça parar, um vento rápido que incita à perguntas: existências mínimas que a atravessam, compõem, aliam-se à existência da criança, tornando-se pontos de encontro, interesse, de vontade de saber, de conhecer. Querer brincar e pegar e rosnar e babar e rolar e combater e comer e dançar e cuspir e beijar e morder, tudo ao mesmo tempo. Incontrolavelmente, sentir-se protegida no limite de viver o próprio risco de estar viva:
“- Não vá aí, tem cobra!
– É? Eu quero ver!”
Em seus movimentos psíquicos e corporais há deslocamentos de um ‘ser’ criança. Potência de uma força inumana, tomada pela concretude do corpo que atesta e testa o cosmos, transbordando as fronteiras orgânicas e anorgânicas das coisas, a ponto de jogar o corpo-pensamento para lugares inéditos do pensar e do sentir.
Desse modo, se você não roubar o devir de uma criança, impondo-lhe uma história ou uma pré-história, órgãos e um organismo (DELEUZE; GUATTARI, 1997), você pode ser capaz de encostar nesse bloco de devires, fazendo irromper um sistema anárquico nos nossos modos de existência, nos nossos modos de ser, de escrever, de ler, de falar, de desenhar, de amar, de viver.
Como abrimos os poros para que outros modos de dizer, pintar, sentir o mundo, lance a comunicação, a divulgação, a educação, artes, ciências, linguagens “em um sentido futuro, habitados por novos modos de existência, novos povos, novas relações heterogêneas que não cabem em identidades prontas?” (OLIVEIRA, p. 21, 2017). Para isso, quem sabe, precisamos nos instalar num devir-criança, que consiste em formar “uma zona de osmose entre adulto e criança, zona de dessubjetivação do adulto e de contaminação pelo movimento de devir da criança” (GIL, 2009, p. 21). Busca-se, afinal, texturas, entremeios, contaminações, “superfícies que não desejam coagular a produção de signos, representar um mundo dado, se fechar em uma possibilidade única de pensamento” (PENHA, 2017, p. 139), desejo tão comum nos espaços, dispositivos e discursos educacionais e comunicacionais, preocupados que se entenda exatamente aquilo que se diz. Desejo tão comum em nossas vidas, ansiados por uma educação-comunicação que tem por finalidade conduzir a um bem, a uma verdade, a um ideal de criança, humano e de sociedade.
Desejamos contaminar esse Dossiê de testemunhas das desobediências, dos devires ingovernáveis de uma criança e o arsenal de batalhas cujas existências as mesmas resguardam. Acessar as vulnerabilidades as quais estão expostas e como inventam seus territórios armados de corpo, intensidade e indisciplina. Dar a ver essas existências, atentar ao que se passa em seus mundos específicos, no presente. Dar presença ao que ainda se coloca silenciado, gritantemente apunhalado e romantizado sobre a infância. O que é possível aprender com elas? Como seguir sua rede de linhas que se multiplicam de acordo com seus modos de serem afetadas, por suas perguntas, por seus afetos-devires, por suas próprias construções, elaborações, invenções?
Produzir alguns rastros de escuta: é como dizer que desejamos parar, por algum instante, de desqualificar o pensar, o perceber, o falar, o fazer, o existir de uma ou mais crianças. Habitar seus modos de movimento, acompanhá-las por suas nuances de ‘absurdo’ implica certa dignidade de manter em nós o que pode ser, ainda, uma qualidade não-humana de escapar a toda ordem de categorizações, diagnósticos, estagnações, e poder entrar em simbiose com corpos que vazam, que celebram inocentemente o viver, afirmando-o mesmo em miséria e dor. Se não as acompanharmos em presença, em algum momento, correremos o risco de pagarmos pela doença de sermos velhos e adultos – cientistas, professores, comunicadores – em demasia, incapazes de extrair de nossos segmentos físicos e mentais, as moléculas de um devir-criança, de agenciar em nós as forças de um devir-jovem que se extrai de cada idade (DELEUZE; GUATTARI, 1997).
Um chamado: abrir nossos poros, saturar a sensibilidade, e mesmo a coragem de manter ativo em nós um estado capaz de ser afetado, abatido por uma pergunta, uma palavra, uma conversa, um traço, um ruído, um olhar, um gesto mínimo, expressões de uma criança, que se hibridizam para vibrar a qualidade de um Dossiê contaminado e epidêmico, que se deseja mais animal do que humano, mais criança do que adulto, mais um devir ‘alguma coisa’, inaudito e impensado, um cosmos desordenado, ainda por vir.
Alice Dalmaso
Editora
Bibliografia
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. v. 4. São Paulo: 34, 1997. 176p.
GIL, J. A reversão. In: LINS, D. (Org.). O devir criança do pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
LAPOUJADE, D. As existências mínimas. São Paulo: n-1 edições, 2017.
OLIVEIRA. R. S. de M. O. Percepção e política na divulgação científica: em busca de um público-alvo. Revista ClimaCom [online], Campinas, ano 4, n. 9, ago. 2017 . Disponível em: <https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=7288>. Acesso em: 29 abr. 2019.
PENHA, Alessandra. et al. Artes. C:\tecnozoica. Revista ClimaCom [online], Campinas, ano 4, n. 9, dez. 2017, p. 139.
ClimaCom – NORMAS PARA A PUBLICAÇÃO
SEÇÃO PESQUISA
SUBMISSÃO DE ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS
A Revista ClimaCom recebe artigos, ensaios e resenhas originais para publicação nos Dossiês para os quais faz chamadas temáticas, e também recebe artigos, ensaios e resenhas originais em fluxo contínuo.
As contribuições são avaliadas pela Comissão Editorial e por pareceristas ad hoc, por meio de revisão às cegas, reservando-se o direito da Revista de propor modificações com a finalidade de adequar os artigos e demais trabalhos aos seus padrões editoriais.
Os originais submetidos à Revista não podem estar em processo de avaliação simultânea em outra publicação e devem ser inéditos no Brasil, cabendo ao Conselho Editorial avaliar a conveniência de publicar ou não trabalhos já divulgados em outros idiomas por revistas e órgãos editoriais de outros países.
Cabe à Comissão Editorial uma análise preliminar dos originais recebidos, a fim de verificar a conformidade com as linhas editoriais e as normas da Revista, podendo recusá-los ou encaminhá-los, caso aprovados, para processo de avaliação com vistas à sua publicação ou não. Poemas e outras modalidades de produção artístico-literária e iconográfica são também publicados, mas unicamente mediante convite da Comissão Editorial.
É condição para a publicação dos materiais a adequação à linha editorial da revista, o cumprimento das normas e a revisão prévia.
Instruções aos colaboradores:
Apreciação pela Comissão Executiva Editorial
Os trabalhos serão, primeiramente, apreciados pela Comissão Editorial Executiva, que solicitará pareceres aos Consultores ad hoc, que permanecerão anônimos. Os artigos serão encaminhados aos consultores sem identificação. Os autores serão notificados da aceitação ou recusa de seus artigos.
Quando forem indicadas modificações substanciais, o autor será notificado e poderá realizá-las, devolvendo o trabalho reformulado dentro do prazo estabelecido pela Comissão. Antes da publicação dos trabalhos, os pareceres serão enviados aos autores. Caso os autores não levem em consideração os apontamentos e sugestões de correção contidas nos pareceres, o texto não será publicado.
A decisão final acerca da publicação ou não do trabalho caberá sempre a Comissão Editorial Executiva.
ARTIGOS
Serão aceitos artigos inéditos em português, espanhol e inglês com o mínimo de 5 páginas (para as áreas de exatas e biológicas) e 10 páginas (área de humanas) e o máximo de 30 páginas, excluindo as referências finais.
ENSAIOS
Serão aceitos ensaios inéditos em português, espanhol e inglês entre 5 e 15 páginas, excluindo as referências finais. Os ensaios caracterizam-se pela maior liberdade formal na exposição do tema de interesse do autor e de seus argumentos. Seu caráter é o de um exercício do pensamento, mas não desprovido de rigor.
RESENHAS
Serão aceitas resenhas de livros indicados pela Comissão Editorial Executiva em português e espanhol de até 8 páginas, incluindo as referências finais.
FORMATAÇÃO PARA ARTIGOS, ENSAIOS E RESENHAS
Os artigos, ensaios e resenhas deverão obedecer estritamente à formatação apresentada nos respectivos templates (margens, tamanho da folha, espaçamentos, tamanho de fonte, estilos etc.), que trazem também exemplos das normas para citação e referenciação. Os casos não exemplificados deverão ser consultados nos documentos da ABNT linkados abaixo.
Template para resenha crítica de livro ClimaCom
Template para resenha crítica de filme ClimaCom
1) Serão aceitos arquivos somente nos formatos Microsoft Word 97-2003 ou versão superior, Oppen Ofice e RTF.
2)As citações deverão seguir a NBR 10520 – 2002;
3)As referências deverão seguir a NBR 6023 – 2002
4) Para o uso de Figuras ver tópico 5.9 da NBR 14724 – 2011
5) Para os artigos, havendo o uso de Quadro e Tabela devem deve ser consultadas as Normas IBGE completo, ou Normas IBGE simplificado.
6) As únicas expressões latinas que poderão ser usadas no corpo do texto e nas notas ao final, quando necessário, é apud e a abreviatura et al.
Observação: A avaliação dos pareceristas ad hoc será anônima. Por isso, solicitamos que os autores enviem, também, uma versão do trabalho sem identificação de autoria para apreciação dos pareceristas.
SEÇÃO ARTE
SUBMISSÃO DE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURAIS
Esta seção atua como um espaço expositivo da revista, no qual podem ser publicadas produções artísticas e culturais nas mais diversas modalidades (vídeo, áudio, fotografia, escrita, pintura, desenho, etc.) que possam multiplicar pensamentos em torno das mudanças climáticas na relação com o tema proposto por cada edição da revista. Também podem ser submetidos registros de produções (instalações, oficinas, exposições, intervenções, etc.), em formato digital para publicação.
A comissão julgadora das produções artísticas e culturais é composta pelo Conselho Editorial e avaliará as submissões com base nas seguintes normas:
1) A Revista ClimaCom é uma publicação eletrônica, por isso TODAS as produções submetidas devem ser convertidas em formato digital (áudio, vídeo ou imagem).
2) As produções devem vir acompanhadas de arquivo PDF, contendo:
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dados do(s) autor(es) (nome, instituição, e-mail, telefone);
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título da produção;
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resumo de no máximo 500 palavras;
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no caso das produções audiovisuais, deve conter ainda o link em que o arquivo se encontra disponível para avaliação;
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o FICHA TÉCNICA da produção no arquivo PDF, com as seguintes informações, quando for pertinente ao trabalho: título da obra, autor, diretor, roteirista, editor, coordenador, técnica, fotógrafo/câmera, música original, financiamento, projeto, país de produção, ano de produção.
3) As produções audiovisuais serão analisadas através de endereço eletrônico gerado pelo youtube ou vimeo, e, no caso das produções aceitas para publicação, o arquivo deve ser encaminhado via CD/DVD para o endereço da revista.
4) As produções submetidas em imagem digital devem possuir resolução mínima de 72 dpi, e com 1024 pixels no maior lado da imagem, nos formatos JPEG, GIF ou PNG.
5) O(s) autor(es) poderão submeter até 1 série de imagens, é aconselhado que cada série seja composta de até 10 imagens (se necessário a equipe da revista poderá efetuar alterações na qualidade e tamanho das imagens, para melhor adequação aos parâmetros da revista, após consultar os autores).
6) Caso seja necessário, um representante da revista entrará em contato com os responsáveis pelas obras selecionadas, por e-mail ou telefone, solicitando o envio de cópias autenticadas dos documentos exigidos por lei, tais como licença ou cessão de direitos autorais, autorização das pessoas filmadas para exibição de sua voz e imagem, autorização para uso de fonograma, músicas, obras audiovisuais, fotográficas ou de outros direitos autorais que sejam relacionados com o vídeo inscrito.
7) O produtor é responsável pela utilização de imagens ou músicas de terceiros em seus trabalhos. Todos e quaisquer ônus por problemas de direitos autorais recairão exclusivamente sobre o realizador do trabalho inscrito.
8) As submissões serão realizadas através do e-mail: <climacom@unicamp.br>, até 15 de junho de 2020. O(s) autor(es) deve(m) encaminhar no e-mail o arquivo PDF com os dados, título, link, resumo e ficha técnica da produção, junto às imagens que compõem a série.
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