Felipe Mammoli e Vitor Chiodi | Minas de escrita
Título: Felipe Mammoli e Vitor Chiodi | Minas de escrita
Os minerais nunca estão completos. É por conjunção múltipla, em tempos quase incompressíveis, que eles se formam, deformam-se e desformam-se. Tão certo quanto diamante e grafite não são um, a constituição dos minerais não é determinada por uma essência pré-determinada, mas por uma conjunção de fatores endógenos e exógenos.
Nas escalas temporais apropriadas, grandes demais para os tempos humanos, percebemos que o estado de um mineral é circunstancial, ainda que sua aparência nos indique uma eternidade do tamanho de sua exuberância, diversidade e dureza. Os minerais podem ser imponentes, mas são tão circunstanciais como uma pedra no meio do caminho.
O que nos moveu a construir essa oficina foi especular o que possa ser uma escrita mineral. As formações geológicas de milhões de anos que nos impressiona com galerias em grutas, falésias e montanhas? Serão os desenhos e arte feita por humanos desde a idade da pedra com os muitos e diversos pigmentos minerais? Ou ainda a escrita destruidora da mineração? Os poemas de Carlos Drummond de Andrade sobre uma cidade de ferro consumida pela mineração? A arte de Sérgio de Marzano que é canto melancólico sobre a velocidade voraz das mineradoras? Os computadores e objetos tecnológicos que têm nos minerais matéria prima essencial? O alerta de David Kopenawa Yanomani sobre a irresponsabilidade com a qual arrancamos os minerais da terra? A sabedoria melancólica de Ailton Krenak diante um Rio Doce que parece anunciar um mundo em ruínas? A água que esculpe a pedra e é esculpida pelo rejeito das barragens destruídas?
Os minerais são elementos fundamentais na transformação da Terra, em episódios de criação e destruição que se confundem. Nos reunimos para pensar e escrever com os minerais. Criamos publicações coletivas e multi-autorais, resultados da reflexão sobre uma escrita mineral feita com grandes pensadores que escrevem no limite da escrita.
Podem escrever os minerais? O que se pode escrever com as ruínas da mineração? O que é preciso para perceber outras escritas?
Nossa intenção foi escrever zines-manifestos coletivos, manualmente costurados. Experimentamos escritas e editamos papéis e pedras, especulando o que seja uma escrita mineral. Pigmentos minerais, papéis, cartões, fotos, recortes, poesias, pedras e rochas, madeira e uma diversidade de materiais que puderam expandir as possibilidades do nosso experimento. Atravessada por materiais impróprios, restos, texturas, pedaços e recortes, a escrita se transforma em outra coisa. Pulverizada, a escrita passa de mão em mão, de cidade em cidade, vai até Itabira e retorna.
O resultado é multi-autoral, sympoiético e circunstancial como uma pedra no meio do caminho. Prolongado por sua diversidade e insistente como pó-de-ferro, que não passa. Como nos alertou Drummond para a dor fantasma de escala geológica: cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.
Parte de nossos pedaços ficaram no zines-manifesto como registros materiais de nossas minas de escrita.
FICHA TÉCNICA
Concepção da oficina | Felipe Mammoli, doutorando em política científica e tecnológica (IG/Unicamp) e Vitor Chiodi, doutorando em ciências sociais (IFCH/Unicamp)
Fotos | Tatiana Plens
Oficina 1
Esta oficina foi realizada na abertura do 6° Encontro Ciência, Tecnologia e Sociedade da Unicamp, realizado no Instituto de Geociências da Unicamp.
Lugar | Instituto de Geociências – Unicamp
Data | 29 de outubro de 2019
Oficina 2
Esta oficina foi realizada com os alunos e professora da disciplina “Sócio-antropologia da ciência e da tecnologia” do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (Labjor/IEL/Unicamp), a convite da Profa. Dra. Daniela Manica.
Lugar | Labjor – Unicamp
Data | 28 de novembro de 2019
Oficina 1
Oficina 2
MAMMOLI, Felipe; CHIODI, Vitor. Minas de escrita. ClimaCom – Povos ouvir – a coragem da vergonha [online], Campinas, ano 6, n. 16. Dez. 2019 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/felipe-mammoli…nas-de-escrita/
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SEÇÃO ARTE | POVOS OUVIR – A CORAGEM DA VERGONHA | Ano 6, n. 16, 2019
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