Madalena Ramos | Água de pé olho d’água cabeceira ou O Arquivo Vivo das Coisas
Título: Água de pé olho d’água cabeceira ou O Arquivo Vivo das Coisas
Igarapé Rio Grande. O nome tem força. Pequeno grande rio, imagens de fundo e da superfície das águas, memórias fluidas de um igarapé. Se as águas são tão fluidas, algo permanece? O que permanece? De imaginário, de objectual, de depósito do tempo de várias coisas? Permanecem memórias de uma família, a minha, à volta de disputas pela posse do igarapé, assim como, permanece a autonomia das águas que alimentam, por décadas, a vida dessas pessoas. Ambos os lados, gentes e rio, labutam, a sua maneira, pela própria sobrevivência no tempo. A briga pelo igarapé continua. De minha parte, fui ao encontro das águas do igarapé Rio Grande, pus-me humilde a palmilhar aquele corpo e na escuta, pelos pés, do seu dialogar silencioso.
…fiz caminhadas em grupo, de cerca de três horas e meia, cada uma, entorno das margens direita e esquerda do igarapé, desenhando o movimento do percurso por um dispositivo de georreferenciamento (GPS). O mapa apresentado como obra artística, nessa ação, é fruto do desenho elaborado por esse dispositivo. Posteriormente, esse desenho foi reproduzido no tecido de algodão. Ao longo do trajeto empreendido em torno do igarapé, diversos elementos foram coletados, assim como, fez-se registro fotográfico das paisagens do lugar. A caminhada proporcionou a captura, não só por meios digitais, da prodigalidade da vida do entorno. De fato, foi empreendida uma coleta manual dos diversos objetos e elementos que pulsam junto com o igarapé. Levei mochila e diversos recipientes limpos. Eles armazenaram água, pedras, terra úmida e seca, seixos, gravetos, pequenos troncos, folhas caídas das árvores, raízes, lascas de troncos, pegadas, cheiro da terra. Foram catalogados e reunidos para uma instalação. Essa instalação reforça uma poética de desarquivamento. O lugar do espaço experienciado, praticado ao longo de suas margens, o espaço-matriz de toda essa ação poética, no qual todo o percurso se deu por meio de um trajetar em espaços não-convencionais, reorganiza um desdobrar da experiência a partir da instauração de um colecionismo da vida que guarnece as águas do igarapé.
…se o intuito foi registrar o desenho do corpo do igarapé, por que o título da ação poética destaca apenas um dos elementos que integram esse corpo, a “cabeceira”? Segundo relatos de alguns parentes meus, a cabeceira do igarapé Rio Grande, esse ente que tem alimentado minha família por um arrastar de décadas, tem sido alvo de depredação paulatina, desde que a área foi invadida com a intenção de prosseguimento de obra residencial por um parente. Esse assolamento da nascente do igarapé, a partir de um ato invasivo, põe em risco todo o corpo, a saúde desse corpo, considerando que da cabeceira jorra a fonte vital que são as águas do igarapé.
FICHA TÉCNICA
Artista-pesquisadora: Madalena Felinto Ramos
Curadoria: Madalena Felinto Ramos e Geraldo Ramos
“água de pé olho d’água cabeceira Ou O Arquivo Vivo das Coisas” é um recorte fotográfico do projeto de pesquisa em arte de mesmo nome, selecionado para o XXVI Salão de Arte Primeiros Passos do Centro Cultural Brasil- Estados Unidos. O projeto artístico integra pesquisa de pós-graduação da artista-pesquisadora.
https://aguadepeolhodaguacabeceira.wordpress.com/?fbclid=IwAR0yF60ZchS3lQDVStoH
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Maria Madalena Felinto Pinho Ramos
Programa de Pós-graduação em Artes, PPGARTES, da Universidade Federal do Pará – UFPA.
E-mail: mariafelintoramos@yahoo.com
Telefone: (91) 988919690
RAMOS, Madalena F. água de pé olho d’água cabeceira Ou O Arquivo Vivo das Coisas. ClimaCom – Fabulações Miceliais[online], Campinas, ano. 6, n. 14. Abr. 2019 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=10861
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SEÇÃO ARTE | FABULAÇÕES MICELIAIS | Ano 6, n. 14, 2019
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