Doações despropositadas
TÍTULO: Doações despropositadas
Há uma caixa arquivo. Há um pedido. Retirar três cartões do arquivo e escrever: “doar o seu propósito para a floresta”. Os cartões contêm imagens e palavras com as quais é preciso lidar para doar uma escrita à floresta. A escrita deve ser feita em pequenos papéis coloridos e penduradas num varal. Palavras e imagens que querem convocar um desarquivamento do próprio gesto de escrever, querem solicitar a disposição para um movimento que força a sair das lógicas de escrita habituais (sejam opinativas, clichês, informativas, ou mesmo as ditas “críticas” ou “poéticas”). Ler os cartões de quem lidou com o arquivo permite perceber que escrever emerge como gesto de lidar com os materiais, de inventar um modo de se reunirem e suscitarem novas sensibilidades, onde não há um propósito individual, de um sujeito, antes uma escrita que não sabe de onde vem, quem fez, e que se mostra aberta ao diálogo com uma floresta enigmática e futurística. Mas a doação à floresta não passava apenas pela escrita, mas também por escolher galhos e dar a eles uma nova qualidade de existência ao envolvê-los delicadamente com linhas coloridas. Galhos que agora parecem pequenas flautas e varinhas mágicas. Juntos fazem uma fogueira de cores. No refotografar do material criado – uma pequena instalação feita numa árvore – os papéis-palavras-galhos-linhas coloridos compõem uma doação despropositada e dizem de uma potente infância dos materiais. Algo nos diz que as árvores sonham e preparam linhas e livros.
Ficha técnica
Concepção e coordenação da produção do arquivo e varal de escritas | Glauco Silva, Vaneza Macellari e Susana Dias
Concepção e coordenação da produção dos galhos coloridos | Glauco Silva
Resumo | Susana Dias
Fotos e instalação na árvore | Tatiana Plens e Susana Dias
Materiais produzidos em duas oficinas |
“Re-existências sensíveis” no 5o. EDICC – Encontro de Divulgação e Cultura. Coord. Susana Dias. Participantes: Andressa Boel, Carolina Scartezini, Érica Araium, Maria Luiza Canela de Almeida, Rodrigo Reis Rodrigues, Sara Melo, Sebastian Wiedemann e Susana Dias (no 5o. EDICC Praça da Paz-Unicamp) |
“Co-criando com o chão da floresta” no 21o. COLE – Vivências Dissonantes. Coord. Susana Dias e Sebastian Wiedemann. Org. Glauco Silva, Lavínia Rangel e Maria Rita Moraes. Participantes: Adão Fernandes Lopes, Alzira Fabiana de Christo, Carla J. Moraes, Bethania Vernaschi de Oliveira, Carla Franciele Borges, Francis R. Jesus, Gustavo Grizzo Messenberge, Jéssica Fernanda Silva, Liz Angela Gonçalves Almeida, Lucas Ribeiro Mendes, Lucilia Vernaschi de Oliveira, Luiz Fernando Ribas, Mariana da Cunha Sotero, Mirele Corrêa, Michele M. S. de Freitas, Regiane Fontane, Rejane Cristine Santana Cunha, Renata Rosa Meira e Vilma Pereira da Luz Santos (no 21o. COLE – Gramado da Faculdade de Educação-Unicamp).a primeira realizada durante o 5o. EDICC – Encontro de Divulgação e Cultura a convite dos alunos do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural Labjor-IEL-Unicamp
Local | Praça da Paz – Unicamp e FE-Unicamp
Uma criação do grupo multiTÃO e Coletivo Orssarara
Datas | maio e julho de 2018
Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp primeiro semestre de 2018
Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia
Professora – Dra. Susana Dias
Nesta disciplina experimentaremos as florestas como parceiras de pensamento e escrita, ou seja, a transformação das florestas em material de pensamento e escrita. Um pensar e escrever (seja por imagens, palavras, sons, tintas, corpos…) que busca se afetar pelos não-humanos – uma ênfase muito importante hoje dos estudos de ciência e tecnologia, nos estudos multiespécies, nas chamadas linhas de pensamento pós-humanistas. Trata-se de ganhar intimidade com as florestas, conviver com as coisas, seres, mundos e correr o risco de ser devorado por eles. Co-evoluir perto-dentro-junto às florestas, em que nada está só e tudo se converte numa complexidade viva, numa multirelacionalidade em constante transmutação. Talvez assim, acordar uma divulgação científica e cultural que prefere não falar sobre as florestas, mas antes propor-se como encontro com as potências-florestas. Pois que seria menos pensar em comunicar florestas já dadas, e mais um entrar em comunicação com florestas que estão (e precisam estar) em constante formação e movimento. Quem sabe, deste modo, nos tornemos dignos de que as florestas entrem em comunicação conosco, nos tornemos dignos de que elas proliferem por textos, fotografias, pinturas, esculturas, criações sonoras etc., em novas e originais emoções, em novos modos de existir e afetar. A disciplina será dividida em três blocos: 1. Da intimidade com os materiais; 2. Do aprender a pensar com a Terra; 3. Da atentividade e re-ligação com múltiplos modos de existência. Em cada bloco estão propostas leituras e encontros com práticas singulares de distintos ofícios (cineasta, escultor, cientista, babalorixá e ialorixá), pois nos interessam as artes, ciências e tecnologias – com minúsculas e no plural – envolvidas em um fazer. Trata-se de um enfoque mesopolítico (Stengers) em que o foco não são as abstrações e idealizações, mas as técnicas, procedimentos e materiais. Por isso as leituras serão experimentadas nas aulas não apenas através de uma conversa/debate, mas por meio da invenção de passagens incessantes entre o ler-falar-escrever-desenhar-pintar etc. durante a criação coletiva de composições sensíveis. Uma aposta na necessidade de colocarmos o corpo para pensar e escrever, de fazer corpo com as coisas-seres-mundos. Uma aposta que levamos a sério em nosso grupo de pesquisa multiTÃO e na revista ClimaCom. Uma aposta de quem trabalha com comunicação-divulgação para quem só faz sentido uma ideia de leitura ligada à escrita (ler é escrever), assim como uma ideia de escrita expandida, que passa não apenas pelas palavras, mas pelos mais diversos materiais e procedimentos, pelos mais diversos problemas.
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Grupo de pesquisa multiTÃO e Orssarara Ateliê
Projetos:
– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)
– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).
– “Imediações aberrantes: processos de pesquisa-criação entre artes, ciências e filosofia para experimentação da comunicação como ecologia de afetos” (Pibic-Faepex)
– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/
SILVA, Glauco; MACELLARI, Vaneza; PLENS, Tatiana; DIAS, Susana (Org.) Doações despropositadas (oficina). ClimaCom – Inter/Transdisciplinaridade [online], Campinas, ano. 5, n. 13. Nov. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=10432
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SEÇÃO LABORATÓRIO-ATELIÊ |INTER/TRANSDISCIPLINARIDADE|Ano 5, n. 13, 2018
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