As vozes dos povos originários na COP26 | Gláucia Pérez

A participação da indígena Txai Suruí que discursou na abertura da COP26 e da artista visual indígena Mavi Morais, fazem pensar na necessária inclusão dos povos originários nas cúpulas do clima.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

Fonte: BBC News Brasil

 

Txai Suruí, do povo indígena paiter suruí de Rondônia, foi destaque na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021), que ocorreu entre os dias 1º ao 12 de novembro deste ano em Glasgow, na Escócia. A ativista, de 24 anos, fez um discurso  na abertura da COP26 e disse que para ela apesar de ter sido uma grande honra participar do evento, que considera tardia essa participação, pois  apenas agora, em 2021, um representante do povo originário teve voz em uma conferência que aborda decisões sobre as mudanças climáticas. Ela defendeu que os povos originários precisam sentar à mesa de negociações e decidir junto os compromissos e medidas a serem tomadas, pois são os guardiões da floresta e ainda não foram realmente incluídos nesse debate.

Avaliando a inclusão dos povos originários em debates e decisões quanto as mudanças climáticas em cúpulas do clima a professora do departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Joana de Oliveira, afirma: “Precisamos traçar alianças generosas, capazes de reconhecer que outras formas de saber e existir são tão complexas e fundamentadas quanto as nossas. Abrir nossos ouvidos a essas vozes, saber pensar juntos, sem constituir relações de assimetria”. Ela considera, ainda, que as comunidades indígenas “insistem em existir e em serem ouvidas”, e dá o exemplo da constituição de 1988, quando foi garantido aos povos originários os seus direitos fundamentais para a permanência das suas comunidades e culturas: “Isso não foi dado, foi conquistado pela luta de muitos”.

Fonte: midianinja (Foto: Thomas Hermanns)

 

Na mesma conferência ocorreu a “Cúpula dos Povos”, que são movimentos da sociedade que têm como interesse denunciar corporações empresariais e políticas governamentais que contribuem com a degradação do meio ambiente, e consequentemente cometem violações em relação aos povos originários locais. O modo de resistência desses movimentos é denunciar a atuação de governos que vão contra o meio ambiente, e as falsas medidas que prometem trazer soluções climáticas. A reunião desses movimentos, como aconteceu na COP26, é uma forma de fortalecimento de convicções e estratégias políticas e socioambientais.

Reportagens que cobriram a cúpula do clima, como a da mídia ninja “A COP26 é nossa, mas nem tanto”, levantaram a questão da sociedade estar preparada e informada sobre as mudanças climáticas. Defendendo que apenas assim diferentes grupos poderão cobrar ações práticas e políticas governamentais efetivas dos responsáveis pelas políticas públicas de preservação do meio ambiente e combater a vulnerabilidade diante das fake news que pregam o negacionismo climático.

 

Fonte: @moraismavi

 

A arte também esteve presente na cúpula do clima como força de resistência dos povos originários. A artista visual e fotógrafa Mavi Morais de origem kariri-sapuyá, do sul da Bahia, expôs sua arte nos outdoors nas ruas de Glasgow, na campanha “Choose Earth”, que teve como objetivo apoiar as lutas e resistência das comunidades indígenas. Assim como promover trocas de conhecimento através da arte e uma nova percepção da sociedade em relação a esses povos. Através dessa campanha, líderes indígenas serão beneficiados financeiramente para continuar suas lutas a favor da preservação do meio ambiente e do planeta.

A professora Alik Wunder, da Faculdade de Educação da Unicamp, fala sobre a potência desse trabalho: “O trabalho artístico de Mavi Morais tem impacto visual, altera a paisagem das cidades. Na guerra de narrativas e na maquinaria midiática a arte vem com muitas potências: filosóficas, poéticas, de encantamento, de crítica e reflexão de abertura de olhares, todas válidas e necessárias”. (Link com a notícia completa em pdf)

 

 

Bibliografia consultada:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59215594

https://brasil.elpais.com/brasil/2021-11-09/txai-surui-destaque-da-cop26-vivo-sob-clima-de-ameacas-desde-que-me-conheco-por-gente.html

https://midianinja.org/?s=cupula+dos+povos+foca

https://midianinja.org/?s=povos+ind%C3%ADgenas+n%C3%A3o+querem

https://mudancasclimaticas.fapesp.br/2021/11/01/o-que-esperar-das-resolucoes-da-cop26/

 

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.