Estudos multiespécies: cultivando artes de atentividade*


Thom van Dooren[1]

Eben Kirskey[2]

Ursula Münster[3]

 

Tradução de Susana Dias

 

Todos os seres vivos emergem e fazem suas vidas dentro de comunidades multiespécies. Como Gregory Bateson coloca, a unidade fundamental da sobrevivência é o organismo-em-seu-ambiente[4]. A vida não pode surgir e ser sustentada de forma isolada. Mas, as relações têm histórias. Além de uma troca ecológica equilibrada – como nos circuitos ecológicos de energia mapeados pelos primeiros ecologistas[5] – os organismos estão situados dentro de profundas, e emaranhadas, histórias. E assim, para além da mera sobrevivência, formas particulares de vida, em toda a sua diversidade resplandecente, emergem de padrões entrelaçados de viver e morrer, de ser e tornar-se, em um mundo maior. A íntima relação entre uma flor e sua abelha polinizadora é aquela em que ambas as formas de vida são modeladas e se tornam possíveis através de um patrimônio comum, um entrelaçamento que Isabelle Stengers caracteriza como “captura recíproca”[6]. Como tal, elas não simplesmente se encontram – esta abelha e esta flor –, mas, ao invés disso, a sua relação emerge a partir de histórias co-evolutivas, a partir de ricos processos de co-tornar-se. Este co-tornar-se envolve o intercâmbio e o aparecimento de significados, a imersão em teias de significação que podem ser linguísticas, gestuais, bioquímicas e muito mais[7]. A partir de marcadores visuais e olfativos dirigidos, através dos quais uma flor chama seus polinizadores para convites de jogos canídeos com os seus modos complexos de uma etiqueta responsiva, o mundo é uma matriz comunicativa animada tecida através de “sinais e maravilhas”[8]. A relacionalidade multiespécies atenta aos registros temporais e semióticos evidencia um mundo animado em que o ser é sempre tornar-se, em que tornar-se é sempre um tornar-se-com[9].

Os estudos multiespécies tomam esta compreensão do nosso mundo, inspirando-se nas ciências naturais e indo além, trazendo diferentes corpos de conhecimento para conversar e empurrando-os em novas direções. Os estudiosos multiespécies estão se perguntando como vidas humanas, modos de vida e responsabilidades terminam se constituindo nesses entrelaçamentos. Ao assumirem essas questões, os estudiosos também se envolvem em longas histórias de um pensamento de relações e agências a partir dos povos indígenas[10]. Tal como acontece com todos os organismos vivos, vidas humanas e modos de vida não podem acontecer e serem descritos de forma isolada. Como Anna Tsing observa “a natureza humana [em todas as suas miríades de formas] é uma relação entre espécies”[11]. Histórias apenas-humanas não servirão a ninguém em uma época modelada pelo agravamento e fortalecimento mútuo de processos de destruição biosocial – da extinção em massa às mudanças climáticas, da globalização ao terrorismo. Há muitos nomes para a nossa atual condição Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno, Cena-de-supremacia-branca, a lista continua [12] –, mas seja lá como for chamada, o que parece exigir são práticas minuciosas de atentividade para as formas complexas que nós, todos nós, nos tornamos numa relação consequente com os outros. Levando a sério essa provocação, os estudiosos multiespécies estão explorando e reformulando questões políticas: como é que o colonialismo, o capitalismo e suas relações de poder desiguais associadas acontecem dentro de uma “teia de vida” mais ampla?[13] O que vai contar como conservação em nosso mundo “pós-natural”?[14] Como devemos repensar “o humano” após o estouro da bolha antropocêntrica? Quais formas de responsabilidade são necessárias e como chegaremos a aprender a responder de outras formas, talvez melhores, às comunidades que estão se ganhando existência em “paisagens destruídas”[15].

Estas questões complexas e vitais são exploradas por estudiosos multiespécies de uma maneira particular: através da imersão na vida de fungos, microorganismos, animais e plantas. Desta forma, tais estudos visam abrir novos espaços para a pesquisa interdisciplinar e colaborativa. Embora ambos “animal” e “meio ambiente” tenham sido nas últimas décadas objecto de novas abordagens de pesquisas acadêmicas nas ciências humanas e sociais, os estudos multiespécies prometem algo um pouco diferente. Em contraste aos animal studies, os estudiosos multiespécies se ocupam de um escopo taxonômico mais amplo de investigação. Não se trata de uma simples substituição do foco em um animal por um foco em uma planta ou bactéria. Muitos, mas não todos, dos trabalhos em animal studies têm se centrado nas relações das pessoas com um determinado animal (um enfoque dialógico que é facilmente perceptível no termo “estudos humanos-animais”). Em vez disso, uma abordagem multiespécies concentra-se nas multidões de agentes animados que fazem com que eles estejam em meio a relações emaranhadas que incluem, mas sempre também excedem, dinâmicas de predador e presa, parasita e hospedeiro, pesquisador e pesquisado[16], de parceiro simbiótico, ou vizinho indiferente. Mas esses contextos maiores não são meros “ambientes”, no sentido de um fundo homogêneo, estático, para um sujeito focalizado. Ao contrário, eles são complexas “ecologias de seres”[17], meios dinâmicos que estão continuamente em modelagem e remodelagem; ativamente – mesmo que nem sempre conscientemente – trabalhados através da partilha de “significados, interesses e afetos”[18], bem como de carne, minerais, fluidos, materiais genéticos e muito mais. Como é discutido mais adiante, esta multiplicidade, essa multiplicação de perspectivas e influências, é a chave para aquilo que fazem os estudos multiespécies.

Além disso, como a coleção de textos da edição especial “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities ilustra[19], esta abordagem imersiva tem sido cada vez mais aplicada a formas de vivacidade que muitos de nós, mas não todos, consideram seres não-vivos: desde pedras e sistemas meteorológicos até inteligências artificiais e espécies químicas[20]. Por exemplo, em sua contribuição para essa coleção, Vinciane Despret e Michel Meuret articulam uma abordagem “cosmo-ecológica” que traz deuses, ancestrais e espíritos para nossos relatos de formas de vida, e assim para os modos de relacionamento e conexão que constituem mundos[21]. Desta forma, um grupo crescente de estudiosos está desafiando os preconceitos bióticos dos trabalhos multiespécies[22]. A partir desta perspectiva, o “biocentrismo” muitas vezes não é mais visto como um importante corretivo de abordagens previamente “antropocêntricas”, mas sim, ele mesmo, como uma tendência injustificável. Fundamentado em insights importantes de uma gama de campos, incluindo novos materialismos[23], geologia política[24] e metafísicas indígenas[25] – a vivacidade do abiótico está sendo trazida à tona. Muitas entidades, de formações geológicas, aos rios e até geleiras, podem ser pensadas como tendo “modos de vida” distintos, histórias e padrões de tornar-se e emaranhar-se; isto é, modos de afetar e ser afetado, e assim eles também podem se tornar assunto de “etologias”, no sentido deleuziano do termo[26]. Se estas abordagens multiespécies podem ser úteis, e de que modos, para pensar a vivacidade abiótica, e como eles podem lançar luz sobre o trabalho consequente feito por várias maneiras de criar fronteiras entre o vivo e o não-vivo, são questões que permanecem em aberto nesta fase.

O termo “espécies” nos “estudos multiespécies” expressa “modos de vida” particulares e qualquer reunião relevante de um conjunto de parentes e/ou tipos (como Donna Haraway argumenta apontando para os significados históricos do termo “espécie”[27]). “Espécie” aqui não pretende, de maneira alguma, sugerir que os tipos são fixos ou homogêneos; nem deve o termo ser levado a assumir um modo de taxonomia especificamente Ocidental e científica (como discutido adiante[28]). Embora alguns críticos culturais tenham sugerido que a noção de espécie é uma imposição antropocêntrica sobre o mundo[29], a atenção mais cuidadosa a outros tipos de vida revela que os seres humanos não são excepcionais em nossa capacidade de classificar e categorizar. Para os nossos ouvidos, a noção de “espécie” mantém abertas questões chave: como esses agentes entrelaçados se torcem uns aos outros com as suas próprias práticas de classificação, reconhecimento e diferenciação? Como diferentes tipos de ser são promulgados e sentidos, nesse fluxo contínuo de ir e vir de agências em mundos multiespécies?

Enquanto um termo guarda-chuva, a expressão “estudos multiespécies” reúne diversos enfoques disciplinares e interdisciplinares que têm surgido nos últimos anos. Que incluem “etnografias multiespécies”[30], “etho-etnologia”[31], “antropologia da vida”[32], “antropologia além da humanidade”[33], “estudos de extinção”[34] e “geografias mais-que-humanas”[35]. Apesar de suas diferenças, vemos todas essas abordagens como sendo unidas por um interesse comum de melhor compreensão do que está em jogo – eticamente, politicamente e epistemologicamente – para diferentes formas de vida flagradas em diversas relações de conhecer e viver juntas. Em outras palavras, cada um deles é um exemplo dos “new science studies” que Anna Tsing apontou, e que se baseiam em uma “imersão apaixonada na vida dos não-humanos que são estudados”[36].

Há duas partes principais no artigo dela. A primeira oferece uma visão geral, uma miscelânea de tipos, do que consideramos ser alguns dos modos dominantes de “imersão” que fundamentam e guiam a pesquisa na ampla área de estudos multiespécies. Cada uma dessas abordagens pode ser entendida como um método de cultivo que Tsing chamou de “artes de perceber”[37]: desde compromissos e colaborações com cientistas, agricultores, caçadores, povos indígenas, ativistas e artistas, até o desenvolvimento de novas formas de investigação etnográfica e etológica. A segunda parte explora o contexto teórico mais amplo das questões multiespécies, os tipos de indagações e tópicos que estas abordagens visam abrir e refazer. Transformando perceber em atentividade – no cultivo de habilidades tanto para prestar atenção aos outros como para responder significativamente –, esta parte do artigo está preocupada com a política e a ética de como nós podemos vir a conhecer os outros e assim (re)criar os modos de viver e morrer num mundo ricamente variado, mas, fundamentalmente, compartilhado – ou como Bruno Latour diria, “comum”[38].

 

Imersão apaixonada

Uma imersão apaixonada pode assumir muitas formas. Em seu âmago envolve atentas interações com os diversos modos de vida. Além de ver as outras criaturas como meros símbolos, recursos ou fundo para a vida dos seres humanos, os pesquisadores dos estudos multiespécies têm por objetivo fornecer consistentes relatos de distintos mundos experienciais, modos de ser e ligações bioculturais de outras espécies[39]. Caminhos imersivos de conhecer e estar com os outros envolvem uma cuidadosa atenção ao que importa para eles – atenção para como eles criam vidas e mundos partilhados. “Paixão” não significa aqui praticar um entusiasmo sem reservas ou fundamento para o florescimento do outro. A imersão na vida do estranho, o não amado, ou mesmo o odiado, é muito possível[40]. Como tal, alguns dos estudiosos vão contra as tendências das normas e sentimentos dominantes, cultivando atentividade com criaturas como carrapatos[41], vírus patogénicos[42] e urubus[43]. Outros trabalhos – como os companheiros caninos de Donna Haraway[44] e as culturas microbianas pós-Pasteur de Heather Paxson[45] – tem orbitado em torno de criaturas que são boas para conviver com os seres humanos. Outros, ainda, estão estudando assemblages multiespécies em zonas selvagens que proliferam além das esferas de influência e controle humanos[46]. Uma diversidade de focos é possível; nem todos eles são agradáveis e afirmadores-da-vida (embora a questão a vida de quem é afirmada é, em si, de interesse central e crítico). Em resumo, uma imersão apaixonada significa tornar-se curioso e então emaranhado, “aprendendo a ser afetado”[47] e, assim, talvez, entender e cuidar de maneira um pouco diferente.

Em seus esforços para compreender melhor mundos multiespécies, alguns estudiosos estão entrando profundamente nos arquivos das ciências humanas e sociais para envolver aliados intelectuais às vezes inesperados – vários deles escrevendo em um período anterior à consolidação das “duas culturas”[48]. Por exemplo, The american beaver and his works (1868) de Lewis Henry Morgan que é um estudo realizado antes da biologia e da antropologia serem estabelecidas como disciplinas distintas[49]. De maneira semelhante, na disciplina que hoje chamamos de filosofia, uma série de pensadores primordiais e fundamentais já praticavam formas de cuidadosa atenção para os modos de vida de outras espécies, mesmo que nem sempre fazendo a coisa certa: podemos pensar The history of animals de Aristóteles. The metamorphosis of plants (1790) de Goethe se destaca como um dos primeiros exemplos de rigor observacional vindo junto com a imaginação teórica. Goethe era um jardineiro apaixonado, cujo interesse pelas plantas floresceu na primavera de 1776, quando ele começou a plantar e cuidar de um jardim que lhe foi dado pelo Duque Charles Augustus em Weimar[50]. Michael Marder trabalhou através dos arquivos da filosofia européia trazendo pensadores como Goethe, que continuam a ser relevantes para conversas contemporâneas sobre o  “pensamento das plantas” e os estudos multiespécies em geral[51]. Gary Steiner fez algo semelhante com o pensamento animal[52].

Leituras criativas e críticas da literatura das ciências naturais contemporâneas também permitiram aos estudiosos desconstruir e reconstruir as reivindicações de verdade para uma melhor compreensão dos mundos dos outros. O trabalho de Donna Haraway sobre os primatas se destaca como um dos primeiros exemplos dessa abordagem na literatura anglófona[53]. Outros, como o da filósofa belga Vinciane Despret, desenvolveram extensos trabalhos relacionados: desde o pássaro Arabian babbler, até babuínos e ovelhas, Despret ofereceu releituras críticas da literatura etológica e biológica[54]. Essas releituras estão atentas aos contextos históricos e as formas complexas em que as práticas e conhecimentos científicos são formados pela política, gênero e pelo posicionamento do “observador”[55]. Nessa mesma linha, Carla Hustak e Natasha Myers têm explorado a inteligência e a agência de plantas, repensando a centralidade do individualismo competitivo nos relatos biológicos dominantes, desde Darwin aos neo-darwinistas[56]. Além de um envolvimento com a literatura científica publicada, esses estudiosos têm também passado um tempo em campo entrevistando e observando os cientistas e as plantas, animais, fungos e micróbios que interessam a eles[57]. Despret chama de praticar uma “etologia dos etólogos”, interrogando ferramentas de observação do comportamento animal desenvolvidas por Konrad Lorenz (uma figura complexa e problemática[58]) e, em seguida, devolvendo formas modificadas aos próprios cientistas. Este espaço de intervenção crítica também está vivo e dentro de comunidades científicas fundamentalmente heterodoxas. Biólogos comportamentais, como Jane Goodall, Barbara Smuts, Thelma Rowell, Marc Bekoff, Frans de Waal e muitos outros, há muitos anos se empenham ativamente no desafio de reinventar as práticas de conhecer e experimentar dentro das suas áreas, reconhecendo a subjetividade e individualidade de seus parceiros de pesquisa, bem como o contexto próprio do pesquisador, localmente incorporado e implicado com o que é capaz de ser conhecido[59].

Estes biólogos mais criativos e generosos, bem como invasores de outras disciplinas que se aventuram no domínio das ciências da vida, têm sido frequentemente acusados de antropomorfismo e de uso ilegítimo de anedota (entre outras coisas). Mesmo levando a sério o perigo de projetar normas e sensibilidades “humanas” (?) em outros – cada antropocentrismo é também um etnocentrismo, como Dominique Lestel nos lembra – estudiosos multiespécies também enfatizam a promessa de escrever narrativas que são ricas em anedotas, metáforas e figurações. A acusação de antropomorfismo encerra a discussão, de acordo com Val Plumwood, ao invés de abrir uma investigação crítica sobre a forma como os elementos de uma determinada característica podem ou não ser compartilhados por não-humanos[60]. Ao mesmo tempo, como Eileen Crist argumenta, os esforços para adotar uma “linguagem neutra” foram muitas vezes “mecanomórficos”, projetando características de máquinas para as formas de vida, e exibiram formas arraigadas daquilo que Waal chamou de “Anthropodenial”[61]. Da mesma forma, embora as observações de campo, especialmente de indivíduos ou casos isolados, carece da (suposta) repetição dos experimentos de laboratório, eles também criam novas oportunidades para apreciar a personalidade, a inovação e a improvisação. Como alguns etólogos observaram, a anedota pode ser um recurso notável[62], permitindo-nos mover para fora de um espaço estreito de “comportamentos típicos de espécie” para reconhecer a diversidade individual ou social e a capacidade criativa dentro de outros modos de vida.

No entanto, as ciências naturais estão longe de ser a única forma de conhecer e compreender as vidas de outras espécies. Enquanto os saberes e práticas das ciências têm desempenhado um papel fundamental nos estudos multiespécies, o campo também tem procurado uma série de outras abordagens com o objetivo de “des-colonizar”[63] e, mais amplamente, desafiar os pressupostos dominantes sobre o conhecimento e a expertise de quem está autorizado a falar pela Natureza. Todos nós criamos vidas compartilhadas em comunidades multiespécies. Mas o fazemos de diversas maneiras, e com mais ou menos atenção. Esta diversidade biocultural tornou-se um tópico central dos estudos multiespécies. Baseando-se tanto em materiais escritos, quanto em pesquisa etnográfica, os estudiosos exploram as formas que as comunidades indígenas, caçadores, agricultores e muitos outros compreendem e habitam mundos. Esses trabalhos vão desde os sonhos de indígenas australianos que exaltam as relações de polinização e florescimento mútuo[64], aos íntimos conhecimentos ecológicos de animais dos caçadores amazônicos e circumpolares[65], até as culturas de manutenção do gramado químicamente-carregadas nas perspectivas contemporâneas estadunidenes[66]. Multiplicando perspectivas, estas abordagens abalam a hegemonia de relatos científicos da Natureza, destacando os caminhos complexos e, muitas vezes, contraditórios de conhecer, valorizar e viver que estão sempre, inevitavelmente, em cena e em jogo na formação dos mundos.

Artistas também se tornaram participantes centrais em projetos acadêmicos que questionam abordagens convencionais para falar pela Natureza, explorando oportunidades de imersão na vida dos outros[67]. Em vez de se limitarem a produzir “a monografia” ou “o ensaio” os artistas há muito tempo geram instalações multimídia e intervenções performativas para chamar a atenção para os animais, plantas, fungos e outros seres da periferia dos mundos antropocêntricos[68]. Em sua contribuição para esta coleção, Cary Wolfe e Maria Whiteman brincam com as convenções do mundo acadêmico, atraindo-nos para os modos de vida e paisagens dos besouros de pinheiros das montanhas através de poesia, imagem e som.

Experiências performativas também estão sendo usadas por artistas e etnógrafos para sondar dimensões especulativas de mundos multiespécies, como Eben Kirksey e colegas ilustram em sua contribuição para o dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities. Ao invés de simplesmente descreverem como é a vida em determinadas épocas e lugares, ou como uma vez foi, os estudiosos multiespécies estão se envolvendo com as pessoas em suas especulações sobre o que a vida pode ou poderia ser[69]. A arte performática com outros tipos de criaturas remetem ao trabalho de Joseph Beuys, que viveu com um coiote em uma galeria de arte de Manhattan por três dias em 1974. Baseando-se em mais de 40 anos de arte ecológica, que começou a aparecer com Beuys, artistas contemporâneos estão catalisando modos alternativos de falar e pensar sobre como a nossa própria sobrevivência é um enredamento contingente de assemblages multiespécies[70]. Mostrando o material desagradável e as conexões semióticas que ligam sua própria carne e sangue com o domínio de vírus e plantas, Caitlin Berrigan realizou o que ela chamou de “gesto nutridor” no The Multispecies Salon. Desenhando com seu próprio sangue, que está infectado com o vírus da hepatite C, Berrigan ofereceu um fertilizante rico em azoto para um dente de leão. Encenando uma relação de sofrimento compartilhado, de mútua ajuda e violência, Berrigan disse às pessoas da platéia que ela toma a raiz do dente de leão como remédio para ajudar seu fígado a lidar com as infecções virais[71]. Outros artistas – como Miriam Simun, Kathy High e Natalie Jeremijenko – aumentaram o sensório humano para reconfigurar os nossos compromissos com mundos multiespécies. Ao invés de fingir estar distante e afastado dos seus temas de estudo, muitos pesquisadores dos estudos multiespécies estão aceitando a sugestão dos artistas de abraçar mais plenamente o trabalho de observação como parte de uma performance contínua no mundo.

Encontros pessoais com criaturas companheiras – algumas delas comumente chamadas de “animais de estimação” (pets) e “plantas domésticas” – também deram origem a um rico corpus de conhecimento empírico: dos cães de Haraway e Sebastian Abrahamsson, assim como das artes de vermicompostagem de Filippo Bertoni, ao engajamento pegajoso de Franklin Ginn com lesmas de jardim, até as “flores más” de Jennifer Hamilton e os bolores limosos de Tarsh Bates[72]. Nestes trabalhos, as práticas de viver-com e observar permitiram aos estudiosos repensar o “laboratório” e o “campo” para criar locais de encontros para-etnográficos, formando a base de novos conhecimentos sobre outras espécies e nossas possibilidades de elaboração de vidas compartilhadas[73]. No Centre for Feline Studies, Jeffrey Bussolini e Ananya Mukherjea criaram um novo tipo de laboratório com seis gatos em seu apartamento em Manhattan[74]. Jogando com um ethos tradicional experimental incorporado por Lorenz e outros (que vivia com alguns dos animais estudados), o laboratório de Bussolini e Mukherjea oferece oportunidades para fazer observações etho-etnográficas detalhadas de gatos envolvidos em interações diárias que um laboratório formal nunca poderia proporcionar[75]. Ao mesmo tempo, este espaço de experimentos “informais” mostra que não apenas uma parte (os cientistas) está decidindo quais são as perguntas interessantes e impondo-as aos “sujeitos de pesquisa”. Em vez disso, interações mais diplomáticas e gentis emergem, tal como os gatos exploraram uma infinidade de oportunidades de serem inventivos, propositivos e demonstrarem suas capacidades e interesses[76]. Além do imediatismo de nossos próprios encontros, os vídeos virais no YouTube e os meios de comunicação sociais agora fornecem um fluxo ininterrupto de imagens e comentários sobre as relações entre espécies. Se os documentários de natureza da televisão do século 20 ajudaram a moldar como os cientistas pensam, o trabalho emergente no campo de estudos multiespécies está respondendo a estes meios de comunicação do século 21 com projectos que instalam câmeras-(em)-bichos, ou orbitam em torno das páginas de fãs do Facebook e Meetup Groups[77].

O mergulho em mundos multiespécies necessita frequentemente da formação equipes colaborativas para colocar junto habilidades e expertises complementares. Enquanto áreas como a antropologia cultural, a filosofia e a história privilegiam o manuscrito de uma única autoria na produção do conhecimento acadêmico, os estudiosos multiespécies estão explorando práticas de escrita colaborativa dentro de certas disciplinas[78] e, ao mesmo tempo, formando novas associações multidisciplinares[79]. Associações colaborativas estão indo além de abordagens anteriores dos estudos científicos que colocavam os biólogos sob o microscópio, para criar projetos com cientistas que possam construir experimentos que abordam questões e preocupações compartilhadas ou re-criam os métodos empíricos existentes[80]. Biólogos e ecologistas se tornaram “amigos críticos” para estudos multiespécies[81], já que os novos modos de colaboração e engajamento permitem movimentos promíscuos através dos limites que pareciam fixos, pelo menos durante as Science Wars da década de 1990. Não é surpreendente, portanto, que muitas das contribuições para a coleção “Multispecies Studies”, publicada na revista Environmental Humanities, sejam de co-autorias. Algumas das equipes são compostas por artistas, filósofos e etnógrafos: em um caso nós aprendemos a usar rãs vivas para fazer experimentos com a lacuna especulativa que emerge com a gravidez humana, em outro caso nós encontramos paisagens devastadas moldadas por complexas assemblages multiespécies. Outras equipes incluem filósofos e biólogos, por exemplo, na exploração de pastoreio na França; outro, ainda, reúne etnógrafos com experiência de trabalho com elefantes e mundos microbianos para explorar seus encontros e remakes em surtos de vírus dos elefantes.

Nada desse material empírico – desde dados científicos até o trabalho de artistas – pode simplesmente ser considerado como conhecimento sem interferência. Os estudiosos multiespécies estão, consequentemente, explorando como estas abordagens diversas pode ser empregadas de modo responsável. Muitas vezes, a multiplicação de perspectivas leva a conflitantes compreensões, valores, prioridades e, finalmente, mundos. Neste contexto, importa que perguntas fazemos[82], que modos de investigação adotamos, que práticas de mediação, de performance[83], de tornar-se[84] e de tradução[85] empregamos – bem como quais as histórias que contamos. Multiplicar perspectivas não se trata apenas da composição [assemblage] da diversidade, nem da adoção de um relativismo fácil; em vez disso, trata-se de “ficar com o problema”[86], em um esforço para navegar significativamente através da complexidade dos mundos-em-processo. Esta navegação é fundamentalmente uma questão de ética e política. É para estas questões que agora nos voltamos: como as diferentes práticas de conhecimento – diferentes modos de imersão atentiva – dão existência a diferentes mundos?

 

Criações de mundos multiespécies [Multispecies worldings]

Recusando a escolha entre o realismo ultrapassado e um fácil relativismo – entre um mundo singular “lá fora” aguardando descrição e um idealista “livre para todos” – a noção de “worlding” insiste na co-constituição, na interação material-semiótica, que modela o que é[87]. Há uma variedade de “realismos” – que Karen Barad chamou de “realismo agencial”[88] – em jogo aqui: enquanto tabelas, átomos e couves-flores são muito reais, eles também são moldados por modos de compreensão e engajamento. A partir desta perspectiva, qualquer divisão absoluta entre epistemologia e ontologia cai por terra enquanto que mundos emergem e são continuamente reformulados através de dinâmicas “intra-ações”[89]. Assim, os meios de conhecimento e compreensão têm consequências profundas: eles moldam mundos. Não sozinhos, não de uma vez por todas, mas através do trabalho confuso e colaborativo que alguns chamam de “construção social”. Como Latour nos lembra, o social não é a coisa ou material desta construção, mas sim nomeia o processo de assemblage em que diversas agências exercem sua própria força na definição de resultados[90]. Como Laura Ogden e seus colegas colocam, o trabalho dos estudos multiespécies “procuram compreender o mundo como materialmente real, parcialmente cognoscível, multicultural e multinatural”, surgindo no meio de “relações contingentes de vários seres e entidades”[91]. Em suma, enquanto mundos são feitos, eles não são “compostos”[92] ; eles são criados no “múltiplo”, mais do que um, mas menos do que muitos[93].

Fundamentada nestas ideias, a atenção cuidadosa e crítica à especificidade de mundos de vida de outras espécies oferece uma via importante para estudos em ciências humanas e sociais, durante uma era de crescente mudança. Partindo de um precedente, e muitas vezes implacável, foco no anthropos, os trabalhos em estudos multiespécies juntam outros estudos – em curso sob nomes como “natureza-culturas” e “pós-humanismo” – que visam reconfigurar criticamente “o ser humano” a medida que problematiza e trabalha através dos dualismos natureza/cultura e natureza/humano[94]. Este trabalho é mais forte onde o impulso não é o de simplesmente dissolver as distinções entre essas categorias e criar um nivelamento amorfo. Como observa Mick Smith, fazendo referência a Jacques Derrida, esse estudioso “reconhece ‘a fragilidade e a porosidade do limite entre natureza e cultura’, não para colapsar essas categorias umas nas outras (como, por exemplo, a sociobiologia faz), mas para ‘multiplicar a atenção às diferenças’ em todos os níveis”[95]. Ou seja, prestar atenção às diferenças de todos os tipos, bem como ao poderoso trabalho que diversos modos de diferenciar e distinguir fazem ao moldar mundos. Com isto em mente, as abordagens multiespécies tratam, precisamente, da multiplição de diferenças e modos de atenção, e da especificidade de emaranhados natural-cultural vividos em espessas zonas de contato, com as suas próprias histórias e possibilidades muito particulares[96].

Evitando a generalização e a abstração, este tipo de imersão apaixonada na vida dos outros abre uma série de possibilidades. Criticamente, a atenção para o particular nos obriga a perguntar como worldings específicos tornam-se importantes, e são importantes diferentemente, para certos seres [97]. Para levar esta questão a sério, os estudos multiespécies insistem na multiplicidade biossocial que reside dentro de vários “tipos”. Espécies envolvem danças intergeracionais onde os agentes emaranhados torcem uns aos outros em loops contínuos de multiespécies intra-ação[98]. Emergindo no centro, um meio a partir do qual ele cresce e desborda, uma espécie jamais sossega quieta[99]. Esta complexidade é confrontada com as ciências biológicas e outras tradições taxonômicas de varias maneiras, criando múltiplos conceitos de espécies, ou “promíscuos” como John Dupre chama, que são mais ou menos apropriados para diferentes esferas da vida[100]. Além disso, os modos de estabelecer distinções entre o eu e o outro, entre o semelhante e o diferente, estendem-se muito além do humano. Por exemplo, as vespas polinizam seletivamente e, portanto, constituem o que poderia ser considerado uma espécie de figueira em particular[101]. Enquanto alguns filósofos influentes assumem que as espécies não-humanas estão presas em bolhas[102], os estudiosos do campo multiespécies estão seguindo as vidas de “anfíbios ontológicos” que desfazem a gaiola de suposições equivocadas que prende os organismos-aos-ambientes[103]. Se prestarmos atenção, por toda parte assemblages de multiespécies emergentes estão minando essas visões de estagnação e fechamento; como enxames virais, as multidões de animais ferozes e outros agentes difíceis de classificar se juntam para formar novos mundos[104], ao mesmo tempo que criam reformulam performativamente o que contará como seu “tipo”[105].

Ao mesmo tempo, prestando atenção aos outros, não podemos deixar de obter uma nova compreensão e apreciação do “humano”. Em todos os níveis – desde o organismo individual, através das diversas formas de vida comunitária e coletiva, até a própria espécie – a humanidade é co-constituída dentro de densas redes de trocas vivas. Por exemplo, dentro de nossos corpos e estendendo-se bem além delas, descobertas emergentes sobre o microbioma revelam que cada um de nós é uma espécie múltipla; cada um de nossos corpos está cheio de diversos tipos de formas de vida parasíticas e simbióticas[106]. Este trabalho dá uma nova perspectiva à afirmação de Annemarie Mol de que um corpo é “uma multidão intricada e coordenada”[107]. Nas palavras de Deleuze e Guattari, os corpos tornam-se “multiplicidades de multiplicidades que formam um mesmo agenciamento, que se exercem no mesmo agenciamento: as matilhas nas massas e inversamente”[108]. Rompendo a separação entre o interior dos corpos e ambientes externos, os estudiosos estão analisando assemblages multiespécies onde os organismos são co-presentes e estão conectados heterogêneamente entre eles mesmos, sendo puxados em diferentes direções, sempre em processo de devires múltiplos e paralelos, ao lado deles mesmos com dissoluções, intermitentemente presentes a si próprias; cada um deles um para-ser[109]. Em sua contribuição a edição especial “Multispecies Studies”, Jamie Lorimer conecta essas ecologias “internas” e suas possibilidades emergentes de “reabilitação microbiana” com processos maiores de conhecimento, comunidade e criação de riqueza.

Além do que poderíamos chamar de funcionamento “biológico” dos corpos, os contornos da experiência humana vivida são moldados por enredamentos diversos e consequentes. Não há humano em-isolamento, nenhuma forma de vida humana que não tenha surgido em diálogo com um mundo mais amplo. Devemos entender “as origens animais da cultura humana” ao longo de linhas relacionadas, como Lestel argumentou. Desta perspectiva, as culturas humanas não são desvios, ou consequências, de uma natureza biológica mais essencial, mas são uma outra expressão dessa natureza: “os seres humanos não emergiram do estado de natureza, mas exploraram um nicho extremo dessa natureza”[110].

Embora isso seja certamente verdadeiro no abstrato – “o humano” não é de modo algum o que muitos de nós foram levados a acreditar[111] – novamente, a atenção ao particular exige que perguntemos como essa relacionalidade co-formadora se torna importante diferentemente. Tendo escapado da visão de túnel do anthropos para o grande mundo além, pesquisadores de estudos multiespécies também estão trabalhando para cuidadosamente evitar uma conceituação redutora, homogeneizadora, da vida humana. Embora os seres humanos possam todos estar ligados a outros, eles não estão todos emaranhados da mesma maneira: “a especificidade e a proximidade das conexões são importantes”[112]. Como tal, grande parte deste trabalho procurou explorar, em ricos detalhes históricos e etnográficos, o trabalho desigual, os riscos, as posições e as exposições, bem como as formas de ser e conhecer, de diferentes indivíduos e comunidades[113]. Histórias de gênero e raça, de economia política e colonização, estão distribuídas em camadas dentro do desdobrar mundos multiespécies – como não poderiam ser? – moldando possibilidades para todos[114]. Vemos isso nas realidades da gestão de resíduos neocoloniais com os povos Inuit e uma variedade de animais “indesejáveis” no norte canadense e, do outro lado do mundo, os impactos desiguais sobre os trabalhadores indígenas e os elefantes em cativeiro que, a seu modo, “trabalham para a floresta” no estado indiano de Kerela[115].

Essas realidades bagunçadas, incômodas, perturbadoras e sempre desiguais exigem que os estudos multiespécies sejam mais do que mera descrição e celebração de comunidades emaranhadas e processos de co-tornar-se. Aproveitando uma sugestão de Haraway: “A ideia é fazer uma diferença no mundo, e lançar a nossa parte para alguns modos de vida [morte, ser e tornar-se] e não outros. Para fazer isso, é preciso estar na ação, ser finito e sujo, não transcendente e limpo”[116]. A expressão “no mundo” importa aqui. Os trabalhos em estudos multiespécies partem da proposição de que não há espaço fora da ação a partir do qual se possa obter conhecimento absoluto ou universal; e ainda assim devemos agir. Mas também importa no sentido de que a participação em um mundo de co-tornar-se necessariamente implica em nós: na medida em que todos nós ajudamos a moldar mundos, somos responsáveis por como eles se tornam. Como diz Barad: “A ética não é, portanto, uma resposta correta a um outro radicalmente exterior/izado, mas a responsabilidade e o comprometimento com as vivas relacionalidades de tornar-se das quais fazemos parte”[117]. Ou, como afirma Beth Carruthers: estamos “agindo como se tudo fosse importante”[118].

Recusando a oposição desgastada entre três exigências incomensuráveis – justiça social em uma veia humanista; ética focada no bem-estar de entidades individuais (geralmente animais não-humanos, mas em menor grau plantas, fungos, pedras e outros); e uma ética ambiental preocupada principalmente com a saúde dos ecossistemas e espécies – trabalhos em estudos multiespécies abraçam abordagens éticas relacionais para lidar com diversas reivindicações concorrentes. Estes trabalhos inspiram-se em ricas tradições de pensamento ético em estudos de ciência e tecnologia feministas, filosofias feministas e continentais e suas interseções. Permanecendo com o problema, eles pretendem se manter em obrigações éticas concorrentes, multiplicando as perspectivas sobre o que conta como “o bem”. Não há respostas claras e finais aqui, nem há trunfos que encerram o processo político através de apelos a incontestáveis princípios ou expertises[119]. Tampouco são permitidos relativismos fáceis. Esse tipo de relativismo – “você tem a sua verdade e eu a minha”, “você habita o seu mundo e eu habitarei o meu” – é acomodado e perigoso. No final do dia precisam ser tomadas decisões sobre como vamos conviver em um mundo que é, embora múltiplo, também compartilhado, finito e (em muitos aspectos) difícil. Os recursos devem ser distribuídos, reivindicações de direitos e justiça serão ouvidas ou ignoradas. Os moldes de produção de sentido, de avaliação e de verificabilidade, sob os quais as deliberações são feitas ou as respostas rotineiras executadas, são importantes.

Lutar por mundos melhores requer aprender a levar os outros a sério em sua alteridade, encontrando modos de confundir que evitam a fantasia da tradução universal ou de um critério singular – geralmente “nosso” – de avaliação ou verificação. Também requer o aprendizado de novos modos de levar em conta outros enigmáticos que não podem ser – ou talvez que não queiram ser – representados, ou mesmo tornados cognoscíveis ou práticos dentro de qualquer modo disponível de compreensão[120]. E assim, como sugere Hugo Reinert em sua contribuição em seu para o dossiê sobre estudos multiespécies da Environmental Humanities, para experimentar mundos melhores o estudo também deve manter aberta “a questão de quem – e o quê – é levado a existir, e de como determinados modos de existência são (e não são) feitos para serem levados em conta”. Nada disto é simples, e nem significa que há certo ou errado; em vez disso, significa que o certo e o errado devem ser cuidadosamente criados, repetidas vezes, dentro de um processo maior de contestação. Essa ética exige um questionamento contínuo, um esforço para cultivar novos modos de atentividade – “inovações narrativas nas práticas de escutar como técnicas arriscadas de cuidado cosmopolítico”[121] – que podem nos ajudar a viver bem dentro de relacionamentos que raramente podem ser resolvidos com a satisfação de todos, e nunca de uma vez por todas.

Nessa perspectiva, a ética está no cerne das narrativas multiespécies – não algo adicionado, anexado lateralmente. Abraçando e retrabalhando a noção deleuziana de que “a ética é a etologia”[122], as abordagens multiespécies estão fundamentadas no entendimento de que a atenção cuidadosa às diversas formas de ser e de tornar-se é inseparável do trabalho da ética. Como van Dooren e Rose argumentam em sua contribuição, a etologia/etografia é um ato de testemunhar: a atenção aos outros é vital para responder adequadamente, enquanto a narração de suas histórias também tem o potencial de atrair outros para novos relacionamentos e responsabilidades. Como todos os outros relatos, as histórias multiespécies são tecnologias ativas de um desdobrar mundos [worlding]: “As histórias são meios de viver”[123]. Dessa forma, em vez de simplesmente celebrar a mistura multiespécies – um fato básico da vida – este trabalho também envolve as questões mais analiticamente interessantes e politicamente cobradas que se seguem ao perguntar, cui bono?, quem se beneficia quando as espécies se encontram?[124] Ao fazer isso, os estudos multiespécies preocupam-se com o cultivo do que chamamos de artes de atentividade. Essa atentividade é uma proposição de duas partes: uma prática de conhecer o outro em sua particularidade íntima – aplicando constantemente as faculdades e energias observantes, como diz o Oxford English Dictionary – e, ao mesmo tempo, uma prática de aprender como se poderia melhor responder ao outro, como se poderia trabalhar para cultivar mundos de florescimento mútuo – isto é, na linguagem um pouco antiquada do OED, como alguém poderia ser “assíduo em oferecer conforto ou prazer aos outros, dando cautelosa atenção aos seus desejos”. Em suma, as artes da atentividade nos recordam que o conhecimento e a vida estão profundamente enredados; que prestar atenção pode e deve ser a base para elaborar melhores possibilidades de vida compartilhada.

A coleção de textos do dossiê “Multispecies Studies”, publicada na revista Environmental Humanities, é um esforço para reunir um pouco da diversidade que delineamos acima. Enquanto a fertilização cruzada já está ocorrendo entre várias abordagens “multiespécies”, no espírito deste dossiê estamos interessados no que poderia ser obtido reunindo estudiosos de perspectivas disciplinares distintas. Esta coleção inclui principalmente contribuições de filósofos, antropólogos, geógrafos e artistas, mas estudos culturais, estudos literários e história são atraídos para a conversa também. A coleção reunida no dossiê nos leva aos mundos de ovelhas e pastores, de pedras, vermes, salmões e besouros devoradores de florestas, de vírus e seus elefantes, de focas, corvos e fluxos de lava no Havai e, finalmente, aos rãs-usadas-em-testes-de-gravidez e possíveis agentes de propagação fúngica patogênica. Cada uma das contribuições praticam modos particulares de imersão, artes de atentividade e, ao fazê-lo, convidam-nos a compreender o mundo um pouco diferente; para perceber que diferença poderia fazer uma atenção curiosa e cuidadosa com os outros.

 

Agradecimentos

Este artigo se beneficiou do generoso feedback fornecido por Celia Lowe, Jamie Lorimer, Veit Braun, Jean Langford e Deborah Bird Rose. Os autores puderam se reunir para redigir e revisar este trabalho graças aos recursos de viagem e bolsas concedidos pelo fundo Thomas A. Barron à Universidade de Princeton, à Fundação Humboldt e ao Australian Research Council (DP150103232 e DE140100918).

 

 

 

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Recebido em: 16/09/2016

Aceito em: 27/09/2016


 

* Permission is granted for non-exclusive world rights in the Portuguese language for one edition of the ClimaCom journal/Spring 2016. No other rights are granted. This is for electronic/digital media only, of the following described material: “Multispecies studies: cultivating arts of attentiveness”, in Environmental Humanities, Volume 8.1 Copyright, 2016, Duke University Press. All rights reserved. Republished by permission of the copyright holder, Duke University Press (www.dukeupress.edu).

Nossos mais sinceros agradecimentos a Thom van Dooren pela gentileza e generosidade.

[1] Thom van Dooren é professor sênior em Humanidades Ambientais na Universidade de Nova Gales do Sul, Austrália, e co-editor da revista Humanidades Ambientais. Sua pesquisa focaliza primeiramente a ética nas dimensões filosóficas e políticas mais amplas da conservação, extinção e das relações do ser humano/animais selvagens. E seu livro mais recente é Flight ways: life and loss at the Edge of Extinction (Columbia University Press, 2014).

[2] Eben Kirksey é autor de dois livros pela Duke University Press: Freedom in entangled worlds (2012) e Emergent ecologies (2015) – bem como uma coleção editada: The Multispecies Salon (2014). Atualmente é professor visitante na Universidade de Princeton (2015-2016) na cátedra Currie C. Thomas A. Barron e também é membro permanente do corpo docente no programa Humanidades Ambientais da UNSW Austrália.

[3] Ursula Münster é pesquisadora pós-doutora no Centro Rachel Carson de Meio Ambiente e Sociedade e no Departamento de Antropologia Social e Cultural da Universidade de Munique Ludwig Maximilians. Ela está escrevendo sobre os encontros com a vida selvagem do sul da Índia em tempos de rápida extinção de espécies.

[4] Bateson, Steps to an ecology of mind: collected essays in anthropology, psychiatry, evolution, and epistemology, 457.

[5] Odum, Fundamentals of ecology. Ver também a discussão sobre circuitos energéticos em Murphy, Sick building syndrome and the problem of uncertainty: environmental politics, technoscience, and women workers.

[6] Stengers, Cosmopolitics I, 35-36.

[7] Buchanan, Onto-ethologies; von Uexküll, “A stroll through the worlds of animals and men”; Hoffmeyer and Haveland, Signs of meaning in the universe.

[8] Haraway, Modest_witness, 8.

[9] Nos últimos anos, essas ideias reconfiguraram e quebraram uma longa divisão entre as ciências da evolução e ontogenia, exigindo que os cientistas e aliados repensem as heranças (genética, epigenética, comportamental e cultural) como parte de processos de desenvolvimento maiores. Veja, por exemplo: Oyama, Griffiths; Gray, Cycles of contingency: developmental systems and evolution; Jablonka; Lamb, Evolution in four dimensions; Gilbert, Developmental biology (Eighth Edition). Este novo pensamento sobre a herança é parte integrante da nossa compreensão do que é e do que pode ser a vida; de como tomamos o passado e somos moldados por ele.

[10] Descola e Scott, In the society of nature; Ingold, The perception of the environment; Rose, Dingo makes us human: Life and land in an aboriginal australian culture; Graham, “Some thoughts about the philosophical underpinnings of aboriginal worldviews”.

[11] Tsing, “Unruly Edges”.  Pensar o humano desta maneira requer o tipo de “abordagem de trans-saberes expansível indefinidamente” que Donna Haraway chamou de “EcoEvoDesenHistoEtnoTecnoPsi (Estudos Ecológicos Evolutivos de Desenvolvimento Histórico Etnográfico Tecnológico e Psicológico)”. Haraway, Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene.

[12] Moore, “The Capitalocene: part 1: on the nature and origins of our ecological crisis”; Malm; Hornborg, “The geology of mankind? A critique of the Anthropocene narrative”; Haraway, “Anthropocene, Capitalocene, Plantationocene, Chthulucene: making kin”; Mirzoeff, “It’s not the Anthropocene, it’s the white supremacy scene, or, the geological color line”.

[13] Capra, “The web of life: a new scientific understanding of living systems”; Moore, Capitalism in the web of life: ecology and the accumulation of capital; Tsing, The mushroom at the end of the world: on the possibility of life in capitalist ruins.

[14] Lorimer, Wildlife in the Anthropocene: conservation after nature; Kirksey, Emergent ecologies; van Dooren, Flight ways: life and loss at the Edge of Extinction; Reinert, “The care of migrants: telemetry and the fragile wild”; Chrulew, “Managing love and death at the zoo: the biopolitics of endangered species preservation”; Collard, “Putting animals back together, taking commodities apart”; Collard, Dempsey; Sundberg, “A manifesto for abundant futures”; Dempsey, “Tracking grizzly bears in British Columbia’s environmental politics”; Candea, “Habituating meerkats and redescribing animal behaviour science”; Münster, “Working for the forest: the ambivalent intimacies of human–elephant collaboration in south Indian wildlife conservation”.

[15] Tsing, “Blasted landscapes, and the gentle art of mushroom picking”; Kirksey, Shapiro e Brodine, “Hope in blasted landscapes”.

[16] Aliás, o “pesquisador” nem sempre precisa ser humano. Para uma breve discussão sobre as formigas que realizam pesquisas sobre pessoas dormindo, veja as opiniões de Steve Meredith (um ancião aborígene australiano Ngiyampaa) em Rose, “Val plumwood’s philosophical animism: attentive inter-actions in the sentient world,” 99.

[17] Kohn, How forests think: toward an Anthropology beyond the human.

[18] Lestel, Brunois e Gaunet “Etho-ethnology and ethno-ethology”.

[19] Este artigo é uma apresentação do Dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, Volume 8, N. 1, maio de 2016, organizado por Thom van Dooren, Ursula Münster, Eben Kirksey, Deborah Bird Rose, Matthew Chrulew e Anna Tsing. Os artigos referenciados no decorrer do texto estão disponíveis em:  http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current

[20] The Multispecies Salon começou recentemente a considerar as “espécies químicas” como um quadro para explorar as possibilidades inesperadas e espectros obscuros surpreendentes que emergem em encontros entre matéria orgânica e matéria inorgânica – entre a água e a rocha, entre organismos biológicos, metabólitos e toxinas. Forças imperceptíveis trabalham ao redor, contra, ou apesar de nossas tentativas de controlá-las e catalogá-las. As espécies químicas, medidas pelos aparelhos técnicos e científicos, são efêmeras – mudam rapidamente. Veja: http://www.multispecies-salon.org/events.

[21] Em particular, no Dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities ver também as contribuições de Reinert; van Dooren e Rose; Wolfe e Whiteman. Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[22] TallBear, “Beyond the life/Not life binary: a feminist-indigenous reading of cryopreservation, interspecies thinking and the new materialisms.” Ver também Reinert; van Dooren and Rose, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[23] Bennet, Vibrant matter: a political ecology of things; Barad, Meeting the universe halfway: quantum physics and the entanglement of matter and meaning; Dolphijn e van der Tuin, New materialism: interviews & cartographies; Ingold, “Toward an ecology of materials”.

[24] Clark, Inhuman nature: sociable life on a dynamic planet, Sage; Clark; Yusoff, “Combustion and society: a fire-centred history of energy use”; Yusoff, “Geologic life: prehistory, climate, futures in the Anthropocene”.

[25] TallBear, “Beyond the life/Not life binary: a feminist-indigenous reading of cryopreservation, interspecies thinking and the new materialisms”. Os estudiosos estão, cada vez mais, apontando a enorme dívida que os trabalhos “pós-humanistas”, e outros relacionados, têm para com o pensamento indígena; uma dívida que muitas vezes não é reconhecida. Veja: Todd, “An indigenous feminist’s take on the ontological turn: ‘ontology’ is just another word for colonialism”; Sundberg, “Decolonizing posthumanist geographies.”

[26] Ver Despret e Meuret, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[27] Haraway, Companion species manifesto.

[28] Kirksey, “Species: a praxiographic study”; Rose and van Dooren, “Encountering a more-than-human world: ethos and the arts of witness”.

[29] Ingold, “Anthropology beyond humanity,” 19.

[30] Kirksey e Helmreich, “The emergence of multispecies ethnography”.

[31] Lestel, Brunois e Gaunet “Etho-ethnology and ethno-ethology”.

[32] Kohn, How forests think: toward an Anthropology beyond the human.

[33] Ingold, “Anthropology beyond humanity”.

[34] Rose e van Dooren, “Unloved others: death of the disregarded in the time of extinctions”; Rose, van Dooren e Chrulew, Extinction studies: stories of time, death and generations.

[35] Lorimer and Driessen “Wild experiments at the Oostvaardersplassen: rethinking environmentalism in the Anthropocene”; Whatmore, “Introduction: more than human geographies”.

[36] Tsing, “Arts of inclusion, or, how to love a mushroom”, 19.

[37] Tsing, “Arts of inclusion, or, how to love a mushroom”.

[38] Latour, “Telling Friends from foes in the time of the Anthropocene”. Para uma leitura generativa e crítica das limitações da noção de Latour do comum ver Watson, “Cosmopolitics and the Subaltern: Problematizing Latour’s Idea of the Commons”.

[39] Sobre “consistentes relatos” (de uma variedade um pouco diferente) ver Geertz, “Thick description: toward an interpretive theory of culture”. Para uma gentil reelaboração de Geertz neste tópico ver Van Dooren e Rosa, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[40] Ginn, Beisel e Barua, “Living with awkward creatures: vulnerability, togetherness, killing,” (edição especial da Environmental Humanities); Rose e van Dooren, “Unloved others: death of the disregarded in the time of extinctions” (edição especial da Australian Humanities Review); Raffles, The illustrated insectopedia: insect love from AZ.

[41] Hatley, “Blood intimacies and biodicy: keeping faith with ticks”.

[42] Lowe, “Viral clouds: becoming H5N1 in Indonesia”; Berrigan, “The life cycle of a common weed”.

[43] van Dooren, “Pain of extinction: the death of a vulture”.

[44] Haraway, When species meet.

[45] Paxson, “Post-pasteurian cultures: the microbiopolitics of raw‐milk cheese in the United States”.

[46] Kirksey, Emergent ecologies; Collard, “Putting Animals Back Together, Taking Commodities Apart”; Lorimer, Wild life in the Anthropocene.

[47] Despret, “The body we care for: figures of anthropo-zoo-genesis”, 131.

[48] Snow, The two cultures.

[49] Feeley-Harnik, “The ethnography of creation: Lewis Henry Morgan and the American Beaver”; Kirksey e Helmreich, “The emergence of multispecies ethnography.”

[50] Miller, “Introduction”, xvi.

[51] Marder, Plant-thinking: a philosophy of vegetal life.

[52] Steiner, Anthropocentrism and its discontents: the moral status of animals in the history of western philosophy.

[53] Haraway, Primate visions.

[54] Buchanan, Chrulew e Bussolini, “Vinciane Despret”; Despret, “The body we care for: figures of anthropo-zoo-genesis”; Despret, “Sheep do have opinions”; Despret, “Domesticating practices: the case of Arabian babblers.”

[55] Ver também Barad, “Invertebrate visions: diffractions of the brittlestar”.

[56] Hustak e Myers, “Involutionary momentum: affective ecologies and the sciences of plant/insect encounters”.

[57] Despret et al., “On asking the right questions”; Despret, What would animals say if we asked the right questions?

[58] Deichmann, Biologists under Hitler. Enquanto escrevemos esta introdução, a Universidade de Salzburgo anunciou a sua decisão de tirar a Lorenz, um Prémio Nobel, seu doutorado honorifico pelos seus laços com o Partido Nacional Socialista e as suas ideologias.

[59] Rowell, “The concept of social dominance”; Bekoff, The emotional lives of animals; de Waal, “Anthropomorphism and Anthropodenial”; Goodall, In the shadow of man; Smuts, Sex and friendship in baboons.

[60] Plumwood, “Nature in the active voice”, 127.

[61] Crist, Images of animals; de Waal, “Anthropomorphism and Anthropodenial”.

[62] Bekoff, “Animal passions and beastly virtues”; Fuentes, “Ethnoprimatology and the anthropology of the human-primate interface”.

[63] Apffel-Marglin and Marglin, Decolonizing knowledge: from development to dialogue.

[64] rose, “flying fox: kin, keystone, kontaminant”.

[65] Kohn, How forests think: toward an anthropology beyond the human; Ingold, The perception of the environment; Descola, beyond nature and culture.

[66] Robbins, Lawn people.

[67] da Costa and Philip, Tactical biopolitics: art, activism, and technoscience; Haraway, When species meet; Kirksey, The Multispecies Salon.

[68] Ver Kirksey et al. e Wolfe e Whiteman, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[69] Ingold, Making: anthropology, archaeology, art and architecture.

[70] Spaid, Ecovention; Broglio, Surface encounters; Baker, Artist/animal.

[71] Berrigan, “The life cycle of a common weed”.

[72] Haraway, Companion species manifesto; Abrahamsson e Bertoni, “Compost politics: experimenting with togetherness in vermicomposting”; Ginn, “Sticky lives: slugs, detachment and more-than-human ethics in the garden”; Hamilton, “Bad flowers: the implications of a phytocentric deconstruction of the western philosophical tradition for the environmental humanities”; Bates, “Cutting together-apart the mould”.

[73] Marcus, Para-sites: a casebook against Cynical Reason; Kirksey, The Multispecies Salon.

[74] Bussolini, “Toward cat phenomenology: a search for animal being”; Lestel, Bussolini e Chrulew, “The phenomenology of animal life”.

[75] Sobre etho-ethnologia ver Lestel, Brunois, e Gaunet, “Etho-ethnology and ethno-ethology.”

[76]  Sobre modos refinados de pesquisa com outros ver Despret, “Sheep do have opinions”; Despret, “Responding bodies and partial affinities in human−animal worlds”.

[77] Despret, “Y is for YouTube: are animals the new celebrities?”; Haraway, When species meet; Mukherjea and Bussolini, “Lil bub and friendz visit the Center for Feline Studies”.

[78] Matsutake Worlds Research Group, “A new form of collaboration in cultural anthropology: matsutake worlds”; Helmreich, Sounding the limits of life.

[79] Kirksey, The Multispecies Salon.

[80] Kelly e Lezaun, “Urban mosquitoes, situational publics, and the pursuit of interspecies separation in Dar Es Salaam”; Swanson, “Methods for multispecies anthropology: thinking with salmon otoliths and scales”; Kirksey, Emergent ecologies.

[81] O termo “amigos críticos” vem do trabalho colaborativo de Jenny Reardon e do Grupo de Trabalho de Ciência e Justiça da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. http://scijust.ucsc.edu/working-group/areas-of-inquiry-themes.

[82] Despret, What would animals say if we asked the right questions?

[83] Abram e Lien, “Performing nature at world’s ends”.

[84] Papadopoulos, “Generation M. Matter, Makers, Microbiomes”.

[85] Callon, “Some elements of a sociology of translation”.

[86] Haraway, Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene.

[87] Haraway, When species meet.

[88] Barad,  Meeting the universe halfway: quantum physics and the entanglement of matter and meaning.

[89] Ibid.

[90] Latour, “The promise of constructivism.”

[91] Ogden, Hall e Tanita. “Animals, plants, people, and things: a review of multispecies ethnography.”

[92] Haraway, Modest_witness, 129.

[93] Mol, The body multiple: ontology in medical practice. O que está em jogo aqui, entre outras coisas, são formas de responsabilidade nas quais os modos de conhecer nunca são inocentes – nunca simplesmente relatam uma “realidade externa” – mas são práticas situadas e históricas. Ver Haraway, “Situated knowledges”.

[94] Wolfe, What is posthumanism?; Haraway, Modest_witness; Whatmore, Hybrid geographies; Castree e Braun, Social Nature; Latour e Porter, We have never been modern; Papadopoulos, “Insurgent posthumanism”; Plumwood, Feminism and the mastery of nature.

[95] Smith, “Ecological community, the sense of the world, and senseless extinction”; Derrida, The beast and the sovereign, Volume 1.

[96] Sobre zonas de contato ver: Pratt, Imperial eyes: travel writing and transculturation; Haraway, When species meet.

[97] É importante ver Butler, Bodies that matter; Barad, “Posthumanist performativity.”

[98] Kirksey, “Species: a praxiography in three acts”; van Dooren, Flight ways, 21-43.

[99] Deleuze e Guattari, A thousand plateaus: capitalism and schizophrenia, 21.

[100] Dupre, “Species: theoretical contexts”.

[101] Kirksey, “Species: a praxiography in three acts”.

[102] Sloterdijk, “Atmospheric politics”; Sloterdijk, Spheres: volume 1 microspherology.

[103] Kirksey, Emergent ecologies, 18-23.

[104] Lowe, “Viral clouds: becoming H5N1 in Indonesia”.

[105] Chrulew, “Sacrificial reintroduction: saving the golden lion tamarin”; Buchanan, “Bear down: resilience in multispecies cohabitation”; van Dooren, “Authentic crows: identity, captivity and emergent forms of life.”

[106] Haraway, When species meet; Paxson, Life of cheese: crafting food and value in america; McFall-Ngai et al., “Animals in a bacterial world, a new imperative for the life sciences”. Ver também Lorimer, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[107] Mol, The body multiple: ontology in medical practice, viii.

[108] Deleuze e Guattari, A thousand plateaus: capitalism and schizophrenia, 34.

[109] Rotman, Becoming beside ourselves: the alphabet, ghosts, and distributed human being, 104.

[110] Lestel e Rugemer, “Strategies of life”.

[111] Haraway e Gane, “When we have never been human”.

[112] van Dooren, Flight ways: life and loss at the Edge of Extinction, 60.

[113] Münster, “Working for the forest: the ambivalent intimacies of human–elephant collaboration in South Indian Wildlife Conservation”; Parreñas, “Producing affect: transnational volunteerism in a Malaysian Orangutan Rehabilitation Center”; Kirksey, “Living with parasites in Palo Verde National Park”; Tsing, The mushroom at the end of the world: on the possibility of life in capitalist ruins.

[114] Munoz et al., “Theorizing queer inhumanisms”; TallBear, “Beyond the life/Not life binary: A feminist-indigenous reading of cryopreservation, interspecies thinking and the new materialisms”; Goldberg-Hiller e Silva, “Sharks and pigs: animating hawaiian sovereignty against the anthropological machine”; Instone e Taylor, “Thinking about inheritance through the figure of the Anthropocene, from the antipodes and in the presence of others”; Pacini-Ketchabaw e Nxumalo, “Unruly raccoons and troubled educators: nature/culture divides in a childcare centre”; Todd, “Fish pluralities: human-animal relations and sites of engagement in Paulatuuq, Arctic Canada”.

[115] Zahara e Hird, “Raven, dog, human: inhuman colonialism and unsettling cosmologies”; Münster, “Working for the forest: the ambivalent intimacies of human–elephant collaboration in south indian wildlife conservation.”

[116] Haraway, Modest_witness, 36.

[117] Barad, Meeting the universe halfway: quantum physics and the entanglement of matter and meaning, 393.

[118] Carruthers, “Praxis: acting as if everything matters.”

[119] Latour e Porter, Politics of nature.

[120] Watson, “Cosmopolitics and the subaltern: problematizing Latour’s idea of the commons.” Ver também Lowe e Münster, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[121] Watson, “Derrida, Stengers, Latour, and subalternist cosmopolitics”, 91.

[122] Ver Despret e Meuret, no dossiê “Multispecies Studies” da revista Environmental Humanities, 8 (2016). Disponível em: http://environmentalhumanities.dukejournals.org/content/current.

[123] Haraway, Primate visions, 8.

[124] Star, “Power, technology and the phenomenology of conventions: on being allergic to onions”; Haraway, When species meet.

Estudos multiespécies: cultivando artes de atentividade

 

RESUMO: Estudiosos das ciências humanas e sociais estão experimentando novas maneiras de se engajarem com mundos em torno de nós. Uma imersão apaixonada na vida dos fungos, microorganismos, animais e plantas está abrindo novos entendimentos, relações e responsabilidades. Este artigo oferece uma introdução a este campo emergente: estudos multiespécies. Perturbando certas noções de espécie, explora um ampla gama de modos possíveis de classificar, categorizar e prestar atenção aos diversos “modos de vida” que constituem mundos. A partir de uma atenção detalhada dada a entidades particulares, uma multiplicidade de conexões e compreensões possíveis se abre: espécies são sempre múltiplas, multiplicando suas formas e associações. Essa reunião de questões sobre os tipos e suas multiplicidades é que caracterizam os estudos multiespécies. Uma variedade de abordagens para conhecer e compreender outros – modos de imersão – embasa e orienta estas pesquisas: engajamentos e colaborações entre cientistas, agricultores, caçadores, povos indígenas, ativistas e artistas estão catalisando novas formas de investigação etnográfica e etológica. Este artigo também explora o contexto teórico mais amplo dos estudos multiespécies, perguntando: o que está em jogo – epistemologicamente, politicamente e eticamente – na aprendizagem de estar atento às diversas formas de vida? Seriam todas as entidades vivas biológicas, ou talvez um tornado, uma pedra, ou um vulcão, passíveis de formas semelhantes de imersão? O que significa viver com os outros em mundos emaranhados da contingência e da incerteza? Ou, mais precisamente, como podemos fazer bem o trabalho de habitar e co-constituir? Ao propor essas questões, este artigo explora como cultivar “artes de atentividade”: modos de tanto prestar atenção aos outros, como de elaborar uma resposta significativa.

PALAVRAS-CHAVE: multiespécies; métodos imersivos; atentividade; éticas mais-do-que-humanas; fazer-mundos; co-tornar-se; responsabilidade; vivacidade.


Multispecies studies: cultivating arts of attentiveness

 

ABSTRACT: Scholars in the humanities and social sciences are experimenting with novel ways of engaging with worlds around us. Passionate immersion in the lives of fungi, micro-organisms, animals, and plants is opening up new understandings, relationships and accountabilities. This article offers an introduction to this emerging field: multispecies studies. Unsettling given notions of species, it explores a broad terrain of possible modes of classifying, categorizing and paying attention to the diverse “ways of life” that constitute worlds. From detailed attention to particular entities, a multiplicity of possible connection and understanding opens up: species are always multiple, multiplying their forms and associations. It is this coming together of questions of kinds and their multiplicities that characterizes multispecies studies. A range of approaches to knowing and understanding others—modes of immersion—ground and guide this research: engagements and collaborations with scientists, farmers, hunters, Indigenous peoples, activists and artists are catalyzing new forms of ethnographic and ethological enquiry. This article also explores the broader theoretical context of multispecies studies, asking what is at stake—epistemologically, politically, ethically—in learning to be attentive to diverse ways of life? Are all lively entities biological, or might a tornado, a stone, or a volcano be amenable to similar forms of immersion? What does it mean to live with others in entangled worlds of contingency and uncertainty? Or, more fundamentally, how can we do the work of inhabiting and co-constituting worlds well? In taking up these questions this article explores how to cultivate “arts of attentiveness”: modes of both paying attention to others and crafting meaningful response.

KEYWORDS: multispecies; immersive methods; attentiveness; more-than-human ethics; world-making; co-becoming; responsibility; liveliness

 


 

van DOOREN, Thom; KIRKSEY, Eben; MÜNSTER, Ursula. Estudos multiespécies: cultivando artes de atentividade. Trad. Susana Oliveira Dias. ClimaCom [online], Campinas, Incertezas, ano. 3, n. 7, pp.39-66, Dez. 2016. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/wp-content/uploads/2014/12/07-Incertezas-nov-2016.pdf