Preservar o homem? Afectografia de Estamira


Waldirene de Jesus[1]

 

 

 

Incertar passa a ser um verbo que corta, desvia certezas que não servem, sejam elas futuras ou passadas. Com Estamira temos um novo homem não-comum conectado às forças cósmicas que incerta e ultrapassa o homem como único condicional, descuidado e predatório. O homem transparente não tenta deter a natureza, mas antes juntar-se a ela no movimento incessante de mudanças. O desvio se dá no re-encontro. Sarapuí e o Capitão Gramacho. Novo contorno, escritas incertas, poetar com águas, plantar futuros com palavras.

 

Incertar com Estamira.

Lixo, desigualdade e a doença apresentados no documentário lançado em 2005 sob direção de Marcos Prado e produção de José Padilha. Estamira a-léns, alíens, além do próprio nome incertando a existência humana. Na dis-cussão forças cósmicas em-cenam a Terra.

Estamira interroga a preservação do homem como único condicional, ações predatórias e inabilidade na exploração da natureza. Superação, homem não-comum com relações cósmicas singulares.

Excessiva, Estamira traz o infinito, não cabe no filme. Visões dos trocadilos, dos canaviais e dos Tupinambás ameaçados pelo Capitão. Estamira-par do Sarapuí.

 

Certezas passadas e futuros indiferentes.

 

Incertezas transbordam.

 

Estamira lança-se ao mar e ao in-visível Sarapuí.

 

Estamira é Estamar, filha marítima.

 

Estamira é desvio.

 

Incertar é desviar a vida para o que ela pode.

Estamira?

Encontrar o Capitão Gramacho?

Encontrar o consumo “descuidado”?

Encontrar  o rio elétrico, o Sarapuí?

Encontrar o  mar?

Encontrar os peixes que comem frutas de carandá nos cachos!

 

Estamira trata sobre a incerteza do humano.

Homem como único condicional, trocadilo antropocêntrico, fome e  miséria. Uma lei só para o homem e para o homem entre outros homens. Trocadilo do homem- querer-ser- superior.

Terra calada, terra e tantas outras carnes, sangue. Mortos e indefesos enquanto carnes. Astros, sobre-viventes cantam a lucidez in-lúcida.

Afetografia, incertezas-devires e certezas ilógicas, além do olho-cérebro-ciente. Trans-bordam passantes. Outros bordados, contornos afectos.

 

            Restar algumas palavras e um pouco de carne.

Visionar além da imagem-indicação.

Produzir in-certezas que trovejem sobre os espaços-tempo de descuído, desbotando as linhas tiranas e deixando novas marcas da humanidade, ecosofias à beira do fim de uma era.

Conexão ambiental, social e da subjetividade humana. Explosão dos espaços para a diversidade humana e igualmente planetária.Tempo-refúgio.

 

Comandante Cometa. Estrela com cabelos.

Estamira no formato cérebro não-cegado vê pelos olhos do astro.

Estamira testemunha o lugar das coisas desprotegidas e deficientes de utilidades.

Estamira vê o trocadilo meio-homem e meio-astro negativo, meio-cientista. A mão que lança a pedra e a quadrilha que a controla.

 

Ser muitos, viver com Estamira.

Ninguém pode viver sem Estamira, sem ser muitos e proliferar incertezas.

Estamira é cada visão e afeto,  abstrata como  água, peixe como água. Fogo.

Sentimentos inoxidáveis.O fogo queima e testa. Estamira-astro não “vai ceder o ser à nada”.

 

            Ser outro.

Não há deficiência ou antes, apenas falta.

Intensamente perturbável, afetada por forças, abalos e vibrações invisíveis, transparentes e sentimentais.

Comunicação ano-luz.

 

Órgão de lucidar.

Ver os viciados que usam de estúpida luz para cegar os homens e afiliá-los à linha de morte.

Subordinação. O sacro ofício e o ofício.

Remédios permanentes que servem, que nós servos.

 

            Homem climático.

Instabilidade.

Fluxos cósmicos.

Mutação. Re-conexões.

 

Fim do  homem-ser-comum-opaco-ímpar.

Estamira-par existe num território-percebido, se sente em casa entre astros e estrelas, tem filhas com o mar, comunica-se com magnetares.

Fundo lixo, certeza visual desafeccionalizante.

Fim do ofício-suor alimentar escravocrata.

 

Estamira é rio que faz barulho. Sarapó.

 

Estamira p-ar. Terra mãe.

Estamira par-ente. Estamar.

Estamira parê-n-tese.            Im-paciente.

Estamira pa-rida. ”Visível quando nasce”.

Estamira parid-eira. Esposa do espaço.

Estamira par-alela. Estamira muitas.

Estamira particula-r. Molecular.

Estamira par-trans. Invisível.

Trans-par-ente, todo mundo e ninguém. Imperceptível.

 

Sobrenomes que vêm de muitos lugares.

Estamira ano-luz, com-tempo-rânea de Davi Carvalhense, Jesus e da atmosfera anaeróbica. Reflexos de cometas. Linhas imaginárias. Estamira é beira, além-contorno.Transbordo.

Carcaça em fúria libertadora de estratos desinfinitantes. Nervos vibram. Forças cósmica. Pertubação.

O capitão não é a última saída!  Fujam todos!

 

Afetografia de Estamira

 

romântica                                                                                      não gosto de erros

monstro                                                                                        não gosto de suspeitas

morro                                                                                           não gosto de perversidade

serra                                                                                            não gosto de judiação

montanha                                                                                      não gosto de humilhação

paisagem                                                                                      não gosto de moralidade

Estamar                                                                                        não vou mudar

Preservar o homem?

 

Importa que as incertezas nos sirvam de alimento ao ponto de construirmos grandes plantações de futuro, que nos tornemos outros nos encontros com as diversidades geográficas, biológicas e culturais.

 

Des-viar a vida?

 

Os poetas sabem bem cultivar incertezas, mergulham nos sertões e nos pântanos e de lá  acompanham as mudanças incessantes, com os pés molhados e rachados anivelados às pequenas criaturas,  misturando ao ar e como peixes, fazem a-mar.

 

Mudanças. Novos apetrechos e uma canoa.

 

Estamar mergulha…

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Fotos extraídas dos últimos 5 minutos do filme documentário “Estamira”.

 

 

(PRADO, Marcos. Estamira. Documentário. Brasil: Rio filme/Zazem produções Audiovisuais, 2006. Duração 115 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KFyYE9Cssuo)


 

[1] Mestranda-Unicamp. E-mail: waldirenedejesus@gmail.com

Preservar o homem? Afectografia de Estamira

 

 

RESUMO: Incertar passa a ser um verbo que corta, desvia certezas que não servem, sejam elas futuras ou passadas. Com Estamira temos um novo homem não-comum conectado às forças cósmicas que incerta e ultrapassa o homem como único condicional, descuidado e predatório. O homem transparente não tenta deter a natureza, mas antes juntar-se a ela no movimento incessante de mudanças. O desvio se dá no re-encontro. Sarapuí e o Capitão Gramacho. Novo contorno, escritas incertas, poetar com águas, plantar futuros com palavras.

PALAVRAS-CHAVE: Estamira. Afeto.


To preserve the human? Estamira’s Affectography

 

 

ABSTRACT: To uncertain becomes a verb that cuts, deviates certainties that are not useful, being they future or past. With Estamira we have access to a new non-ordinary human connected to the cosmic forces that uncertain and surpasses the human as the only conditional, careless and predatory. The transparent human does not try to stop nature but rather to join it in the ceaseless movement of change. The deviation occurs in the re-encounter. Sarapuí and Captain Gramacho. New outline, uncertain writing, to poem with waters, planting futures with words.

KEY WORDS: Estamira. Affect.