Serrapilheira

TÍTULO: Serrapilheira – cadernos-chão-de-floresta


Desprendimento, queda, deposição e decomposição: chão de floresta. Cadernos montados com os mais diversos papéis já usados: papel cartão, papel seda, papel vegetal, papel milimetrado, página de revista, folha de agenda, prova de aluno, bilhete, adesivo, desenhos de artista, marcador de livro, jornal, postal, fotografia, cartão de ponto, página de revista na internet, post-it, imagem de livro didático, infográfico, envelope, carta de baralho, certificado de congresso que sobrou, livro velho, página de caderno de receitas, folha amarela de lista telefônica… Cadernos que se inventam ora juntando esses papéis, ora ocupando livros e cadernos já existentes. Escrita que nunca se faz sobre uma folha em branco. Papel e escrita já não se separam, nem funcionam numa relação de conformidade e finalidade, antes mutuamente e diferentemente se afetam, aberrantemente se comunicam. Uma proposta de experimentar o chão-de-floresta como parceiro da escrita e criação. Onde escrever é sempre intervir brevemente. Gesto que exige lembrar que a floresta sempre foi nossa aliada, e que, se há uma parceria com ela a ser construída, trata-se de nos desprendermos das presunções de excepcionalidade e superioridade dos humanos, desapegando de tudo que se quer fixo e que paralisa. Um chamado constante a nos lançarmos de improviso ao mundo, transmutarmos formas e hábitos e abrirmos um errância para sabe-se lá o quê. Um gesto de doar-se continuamente para que o chão da floresta possa se instaurar, pois só se escreve um chão-de-floresta devindo, uma e outra vez, floresta. Acolhendo um coletivo de forças sem nome, onde tudo se desmantela e é devorado para que as criações possam seguir acontecendo.

 


Ficha técnica

Criação realizada durante a disciplina “Arte, ciência e tecnologia” com os alunos do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural Labjor-IEL-Unicamp

Concepção, coordenação e resumo: Susana Dias

Criações: Andressa Boel; Angélica Lucía Mamián López; Carolina Scartezini; Glauco Roberto Silva; Érica Araium; Lavínia Rangel; Maria Rita Salzano Moraes; Maria Luiza Canela de Almeida; Rodrigo Reis Rodrigues; Thamires Mattos; Vaneza Macellari; Sara Melo; Susana Dias.

Fotos: Susana Dias

Local: Labjor-Unicamp

Data: primeiro semestre de 2018

 


 

Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp primeiro semestre de 2018

Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia

Professora – Dra. Susana Dias

Nesta disciplina experimentaremos as florestas como parceiras de pensamento e escrita, ou seja, a transformação das florestas em material de pensamento e escrita. Um pensar e escrever (seja por imagens, palavras, sons, tintas, corpos…) que busca se afetar pelos não-humanos – uma ênfase muito importante hoje dos estudos de ciência e tecnologia, nos estudos multiespécies, nas chamadas linhas de pensamento pós-humanistas. Trata-se de ganhar intimidade com as florestas, conviver com as coisas, seres, mundos e correr o risco de ser devorado por eles. Co-evoluir perto-dentro-junto às florestas, em que nada está só e tudo se converte numa complexidade viva, numa multirelacionalidade em constante transmutação. Talvez assim, acordar uma divulgação científica e cultural que prefere não falar sobre as florestas, mas antes propor-se como encontro com as potências-florestas. Pois que seria menos pensar em comunicar florestas já dadas, e mais um entrar em comunicação com florestas que estão (e precisam estar) em constante formação e movimento. Quem sabe, deste modo, nos tornemos dignos de que as florestas entrem em comunicação conosco, nos tornemos dignos de que elas proliferem por textos, fotografias, pinturas, esculturas, criações sonoras etc., em novas e originais emoções, em novos modos de existir e afetar. A disciplina será dividida em três blocos: 1. Da intimidade com os materiais; 2. Do aprender a pensar com a Terra; 3. Da atentividade e re-ligação com múltiplos modos de existência. Em cada bloco estão propostas leituras e encontros com práticas singulares de distintos ofícios (cineasta, escultor, cientista, babalorixá e ialorixá), pois nos interessam as artes, ciências e tecnologias – com minúsculas e no plural – envolvidas em um fazer. Trata-se de um enfoque mesopolítico (Stengers) em que o foco não são as abstrações e idealizações, mas as técnicas, procedimentos e materiais. Por isso as leituras serão experimentadas nas aulas não apenas através de uma conversa/debate, mas por meio da invenção de passagens incessantes entre o ler-falar-escrever-desenhar-pintar etc. durante a criação coletiva de composições sensíveis. Uma aposta na necessidade de colocarmos o corpo para pensar e escrever, de fazer corpo com as coisas-seres-mundos. Uma aposta que levamos a sério em nosso grupo de pesquisa multiTÃO e na revista ClimaCom. Uma aposta de quem trabalha com comunicação-divulgação para quem só faz sentido uma ideia de leitura ligada à escrita (ler é escrever), assim como uma ideia de escrita expandida, que passa não apenas pelas palavras, mas pelos mais diversos materiais e procedimentos, pelos mais diversos problemas.

Programa de Pós-Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Grupo de pesquisa multiTÃO e Orssarara Ateliê

Projetos:

– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)

– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).

– “Imediações aberrantes: processos de pesquisa-criação entre artes, ciências e filosofia para experimentação da comunicação como ecologia de afetos” (Pibic-Faepex)

– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIAS,  Susana (Org.) Serrapilheira – cadernos-chão-de-floresta (oficinas). ClimaCom – Inter/Transdisciplinaridade [online], Campinas, ano.  5, n. 13. Nov. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=10234


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SEÇÃO LABORATÓRIO-ATELIÊ |INTER/TRANSDISCIPLINARIDADE|Ano 5, n. 13, 2018

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