Viver é uma impossibilidade coletiva: algumas formas como a pós-verdade sequestra o consenso | Chana de Moura


Chana de Moura[1]

Em 2016, quando as notícias falsas dominavam os processos eleitorais nos Estados Unidos e o fenômeno das fake news se alastrava pelo mundo, “pós-verdade” foi eleita a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. Segundo o dicionário britânico, o verbete significa “relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou à crença pessoal”. Na era das pós-verdade intensifica-se cada vez mais uma das crises fundamentais no tecido social atual: a crise da confiança. As consequências dessa crise de confiança embaralham as fronteiras entre fatos e mentiras, e fomentam um solo fértil para a proliferação do negacionismo, como a exemplo do negacionismo climático. A crise ecológica global exige medidas universais, entretanto, em função das estruturas políticas mundiais vigentes, parece ser impossível a criação de um plano verdadeiramente unificador entre nações, necessário para tratar de assuntos planetários. Por falta de acordos eficazes entre nações, medidas de combate ao colapso climático acabam servindo, frequentemente, como meros paliativos. Além disso, múltiplos eventos relacionados às mudanças climáticas são retratados, inclusive por líderes políticos mundiais, como desconectados entre si, reversíveis ou mesmo irreais. Alegações como essas são geralmente convenientes para as alianças entre governos e corporações, que frequentemente se beneficiam com a disseminação da desenformação. Sendo veiculadas diariamente em meios de comunicação, e especialmente nas redes sociais, notícias sem bases científicas tendem a auxiliar a piorar ou apenas a manter o estado das coisas como são.

 

(Leia o ensaio completo em PDF).

 

Recebido em: 20/11/2021

Aceito em: 10/12/2021

[1] Chana de Moura é estudante do programa de doutorado em Artes Visuais da Universidade de Arte e Design de Linz, Áustria E-mail: chanademoura@gmail.com

Viver é uma impossibilidade coletiva: algumas formas como a pós-verdade sequestra o consenso

RESUMO: O novo ciclo de populismo mundial pode ser diferenciado de seus outros ciclos históricos pelo seu fortalecimento gerado a partir da disseminação de notícias faltas. O conceito de pós-verdade é explorado nesse ensaio como um dos fatores agravantes da tendência política de governantes populistas, que tendem a recorrer à negação deliberada dos fatos para manipular a compreensão da realidade. Agravante da compreensão equivocada das implicações de crises como a do colapso climático, é traçada uma contextualização de fatores socioculturais que historicamente contribuíram e que ainda contribuem para diferentes crises locais e globais.

PALAVRAS-CHAVE: Negacionismo climático. Pós-verdade. Populismo.

 

Living is a collective impossibility: how post-truth politicians undermine consensus

ABSTRACT: The new global cycle of populism can be distinguished from other historical cycles by its growth though the dissemination of fake news. In this context, the concept of post-truth is explored in this essay as one of the aggravating factors in the political tendency of populist rulers, that is, to resort to a phenomenon known as denialism. Based on this observation, a contextualization of sociocultural factors that has historically contributed and still contributes to different local and global crises, and that affect the understanding of the real implications of crises, such as the climate crisis, is drawn up.

KEYWORDS: Climate denialism. Post-thuth. Populism.

 


MOURA, Chana de. Viver é uma impossibilidade coletiva: algumas formas como a pós-verdade sequestra o consenso. ClimaCom – Diante dos Negacionismos [Online], Campinas, ano 8, n. 21,  dezembro. 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/viver-e-uma-impossibilidade-coletiva