A coexistência entre humanos e algoritmos no monitoramento de fenômenos climáticos extremos | Gláucia Pérez

Na sua tese de doutorado, “No olho do furacão – reconfigurações laborais e produção de subjetividade na ‘Era do Acesso’”, o pós-doutorando Bruno Stramandinoli Moreno da Unesp, descreve o que ocorre na ‘sala de situação’ de um centro de pesquisas governamental, o Cemaden, que monitora fenômenos climáticos extremos em áreas de risco onde há probabilidade de desastres naturais.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

A tese de doutorado “No ‘olho do furacão’ – reconfigurações laborais e produção de subjetividade na ‘Era do Acesso’ ”, foi apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, por Bruno Stramandinoli Moreno em julho de 2021 e teve como orientador o professor Carlos José Martins.

A tese teve como foco a relação complexa entre agentes humanos e não-humanos e a produção de subjetividades, de modos de existir, que emergem no trabalho de profissionais que atuam na Sala de Situação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em São José dos Campos, São Paulo.

A Sala de Situação do Cemaden foi criada em 2011 em decorrência do desastre que ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro, e serve para detectar desastres naturais e emitir sinal de alerta, caso haja perigo. No Brasil ocorrem dois tipos principais de desastres naturais: as inundações, que provocam desabrigados; e os deslizamentos de terra, que geram muitas mortes.

Fonte: http://www.cemaden.gov.br/sala-de-operacao

 

Quando há possibilidade de um perigo iminente de inundação ou deslizamento de terra, os tecnologistas da Sala de Situação comunicam a defesa civil local, para que esta tome as medidas de proteção da população adequada. Para gerar os alertas, os profissionais que atuam na sala de situação – advindos de diferentes áreas, desde desastres naturais, geociências, hidrologia e meteorologia –  trabalham em equipe por um período de seis horas em escala de revezamento.

Esses trabalhadores lidam com denso emaranhado computacional, um imenso volume de dados e sistemas computacionais para emissão de alertas de inundações e outros desastres e dão a pensar muitos aspectos das relações laborais com o fenômeno do Big Data e suas relações com as mudanças climáticas. “O Big Data é uma ‘caixa preta’ de inúmeras diferentes técnicas de tratamento de dados. Os entendimentos que produz, ficam envoltos em uma aura de ‘precisão’ e ‘correção’, que dificulta a emergência de qualquer questionamento”, explica Bruno.

Bruno ressalta que a tomada de decisão, de emitir ou não o alerta, “ainda é fruto do agente humano”. Porém, os dados emitidos pelos sistemas computacionais complexos “interferem em alguma medida a tomada de decisão”, subentende-se que esse novo panorama, humano e algoritmos, seja híbrido. Ao final, completa: “Com a chegada de outros recursos e agentes computacionais, como os algoritmos, tipo machine learning, e as Inteligências Artificiais, por exemplo, instaura-se uma ‘caixa preta’, ou várias ‘caixas pretas’. Em que a atuação do ‘agente humano’ fica cada vez mais ‘agenciada’ (tomada) pela figura do ‘agente computacional’ “.

Bruno relaciona, em seu estudo, a Sala de Situação no Cemaden com a transição das sociedades disciplinares, em que os humanos são treinados e moldados para agirem dentro de um contexto específico, para as sociedades de controle, onde os humanos e algoritmos se conectam e “a atuação laboral é arquitetada e reconfigurada como um fluxo contínuo”. Bruno identifica uma diferença entre a noção de vigilância e de alerta: “Enquanto o alerta focaliza, delimita e restringe a atenção de quem observa, a vigilância abrange, generaliza e produz um modo de ‘livre fluência’, mobilidade. Ou seja, se a quantidade de dados e informações, no alerta, reduz-se ao necessário. O Necessário, na vigilância, é amplificar o fluxo de informações com os quais se precisa lidar.

A subjetividade laboral, nesse emaranhamento de máquinas e humanos, de acordo com a tese, é produzida num forte contexto de fragmentação, incerteza, complexidade e controle. (Link com a notícia completa em pdf)

 

Fonte: Tese de doutorado do Bruno Stramandinoli Moreno |

Adaptado de GULLAR (2004, p.335), convertido para linguagem binária.

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

 Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.