Rio soterrado vem à tona

Oficinas de preparação corporal e de confecção de lanternas luminosas contribuem para a elaboração do cortejo “Rios de luz”, inspirado em rituais do estado do Pará, por avenidas que encobrem o Córrego Tanquinho. As atividades fazem parte do encontro-ação “(a)mares e ri(s)os infinitos: preparos e ensaios com a catástrofe”, em 2 de outubro, no MIS-Campinas.

Um rio se afoga? – perguntam os organizadores do encontro-ação (a)mares e ri(s)os infinitos, evento organizado por pesquisadores do Laboratório de Jornalismo Avançado da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp) e da Rede Clima e por artistas que têm se desdobrado em propor relações com as mudanças climáticas, em especial com as águas em tempo de escassez.

Se afogar-se é deixar de respirar, replicam os curadores do evento, um rio concretado é, então, um rio morto, afogado. Como forma de resistência a essa morte, a proposta é ensaiar, coletivamente, relações poéticas com as águas a partir da oficina-cortejo Rios de luz, que sairá do Largo do Pará em direção à Avenida Anchieta, na região central de Campinas, por onde passava o córrego Tanquinho, hoje embaixo de grandes avenidas da cidade.

Oficina-Cortejo: “Rios de luz”, realizada por Armando Queiroz e Hellen Audrey no MIS-Campinas em outubro de 2015

Oficina-Cortejo: “Rios de luz”, realizada por Armando Queiroz e Hellen Audrey no MIS-Campinas em outubro de 2015

A oficina começa às 14 horas, no MIS-Campinas, com a exibição de filmes produzidos pelo artista visual Armando Queiroz, que vem de Belém (Pará) para propor um encontro com a questão: como inventar outros espaços possíveis entre arte, vida e afeto? O artista emenda a roda de conversa com a oficina de produção de lanternas para o cortejo sobre o córrego Anhumas – uma intervenção artística inspirada na mistura de vários rituais paraenses que relacionam o homem e as águas. Rituais como o Círio de Oriximiná (médio Amazonas) e suas lanternas de papel de seda; a Trasladação noturna, que antecede o próprio Círio de Nazaré em Belém, e suas velas de fachos multicoloridos pelo uso garrafas PET para a proteção da chama contra o vento, assim como o ritual da Lanterna dos Afogados, que acontece quando alguém se afoga, quando então pequenas cabaças com velas acesas são lançadas ao rio. Diz-se que as cabaças param onde estão as pessoas afogadas.

No cortejo sobre o córrego canalizado, a proposta é fazer com que essas lanternas busquem os rios soterrados, poluídos, escondidos por estruturas de cimento – emergindo-os poeticamente à superfície. A dançarina Hellen Audrey se junta ao cortejo contribuindo com uma oficina de preparo do corpo por meio de exercícios e técnicas corporais de dança, que despertarão o corpo para a presença cênica, para um estado corporal alterado. “Um transe de um corpo que corteja-caminhos-mundos, um retardo que afirma a criação de corpos-ruas-rios em cada gesto”.

A oficina-cortejo acontece das 16h às 19h, saindo do MIS-Campinas.O evento é gratuito, mas é preciso se inscrever no e-mail climacom@unicamp.br

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