Desmatamento e a queima de combustíveis fósseis estão acabando com um mundo habitável no planeta Terra | Gláucia Pérez

A última parte do sexto relatório do IPCC nos pede uma ação imediata para reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa, caso contrário, a sociedade pagará um preço muito alto com o aumento das temperaturas.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

No dia 04 de abril de 2022, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC lançou o terceiro e último relatório (AR6), este referente ao grupo de trabalho III, que está relacionado com a mitigação e redução de emissões de gases de efeito estufa.  Esse grupo de trabalho foi preciso em afirmar que temos que agir agora, não há mais tempo a perder, precisamos reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030, e zerar em carbono antes de 2050.

Um mês após o IPCC lançar a última parte do relatório, o jornal The Guardian, na notícia “Revealed: the ‘carbon bombs’ set to trigger catastrophic climate breakdown“, do dia 11 de maio de 2022, fez “revelações” sobre as grandes petroleiras e o plano de expansão de fósseis que “empurrarão o mundo para além dos 2ºC”. Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ, e membro do subcomponente de energia e mudanças climáticas do INCT mudanças climáticas fase 2, em entrevista para a Revista ClimaCom, disse que as grandes petroleiras não hesitam em investir no seu mercado, e, que “só ações fortes dos governos no sentido de coibir a produção e o consumo de combustíveis fósseis poderão mudar esta situação”.

O webinário “Novo relatório do IPCC WGIII-AR6: implicações para o Brasil e o planeta” da FAPESP Mudanças Climáticas, do dia 06 de abril de 2022, também trouxe informações sobre a mitigação e redução das emissões de carbono. O Prof. Gilberto Jannuzzi, do Instituto de Engenharia Mecânica da Unicamp, que esteve como mediador no webinário, falou da importância que esse relatório deu sobre a “justiça climática”, que é um termo que há um tempo tem aparecido na literatura científica, demonstrando a preocupação de como as mudanças climáticas têm atingido as diferentes classes sociais, e que certamente afetará de maneira distinta e causando uma maior desigualdade social no planeta. Destacou também a importância da mudança de hábito social, comportamento e padrão cultural exigido à sociedade nos setores de alimentação, transporte e habitação.

Nesse mesmo webinário, como palestrante, o Prof. Schaeffer, que participou do capítulo 3 do relatório do grupo de trabalho III do IPCC, que se refere à avaliação de “cenários de longo prazo”, ou seja, que mostram cenários esperados com o aumento da temperatura em situações diversas, e exploram maneiras como o planeta será afetado com as mudanças climáticas e a elevação das temperaturas, disse na entrevista, que no Brasil, a principal ação, nesse caso, é parar de imediato com o desmatamento e fazer cumprir as leis que já existem. Junto a isso focar na recuperação de pastos degradados e criar medidas e incentivos para a melhoria dos pastos.

Completou informando que todos os países da região da América Latina e Caribe devem combater de imediato a utilização e queima de combustíveis fósseis. Sendo que o IPCC não considera países, e sim regiões, e que o relatório considerou (no caso do Brasil) a região da América Latina e Caribe. E que políticas regionais (de cada país) podem contribuir de forma considerável para alcançar as metas consideradas ideais pela ciência, que seriam: manter o limite de aumento de temperatura global em 1,5ºC; a necessidade de ter emissões reduzidas em 45% até 2030; e alcançar emissão zero até 2050.

Schaeffer, ainda em entrevista, nos disse que “no caso dos combustíveis fósseis há que se criar programas de eficiência energética, renovação de frota veicular, e se acelerar o fechamento de térmicas a carvão, óleo e gás natural”, isso, tanto para o Brasil como os outros países da América Latina e Caribe. E, “em relação aos biocombustíveis, estes poderão ter um papel fundamental na transição energética naqueles setores de difícil abatimento de emissões, em particular a aviação, navegação de longo curso, e o transporte pesado de carga também de longo curso”.

A pesquisadora Mercedes Bustamante participou do webinário da FAPESP enfocando em sua palestra as soluções para a crise climática, ressaltou que o setor de agricultura, florestas, e outros usos da terra são de grande relevância para a região da América Latina e Caribe quando falamos em mitigação dos gases de efeito estufa, uma vez que esse setor contribui com 22% das emissões globais. E a necessidade de restaurar ecossistemas naturais, a pesquisadora deu os exemplos das florestas, turfeiras, áreas úmidas, savanas e campos. Falou também sobre o tema da “justiça climática” ao considerar os povos originários e comunidades locais, pois, boa parte dos ecossistemas naturais ainda preservados se encontra sobre a proteção desses povos.

Suzana Kahn, professora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia COPPE/UFRJ, destacou sobre o setor de transporte e a impossibilidade desse setor conseguir zerar as emissões até o fim do século. Considerou que o transporte público precisa de investimentos governamentais e que os veículos elétricos que podem ajudar consideravelmente nessa mitigação, também requer de uma infraestrutura, mas que em ambos os casos apenas os países mais desenvolvidos têm condições dessa redução por já possuir uma infraestrutura adequada. Ressaltou a importância de investir em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, e na inovação, para ter a transição justa dos países do sul e norte global para um transporte com menor emissão de gases que contribuem para o efeito estufa.

O sexto relatório ainda informa sobre as tecnologias, que já existem e podem contribuir para essa mitigação, aplicando nos setores de energia, transportes e habitação. E que temos um setor importante e com dificuldades para que contribua para essa mitigação, que é o setor de produção de alimentos. É necessário que esse setor seja transformado com eficiência, e com a ajuda de ações individuais, para obtermos a redução das emissões de gases de efeito estufa o quanto antes. (Link com a notícia completa em pdf)

 

 

 

 

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Oliveira Dias.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.