Produções audiovisuais e literatura como meios para compreender a questão dos refugiados climáticos | Gláucia Pérez

Os refugiados climáticos são uma nova categoria de migração. Devido às mudanças climáticas, há uma tendência dessa nova categoria se tornar uma crise humanitária nas próximas décadas. Torná-los visíveis e compreendê-los em suas complexidades é parte da solução para enfrentar este problema social.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Oliveira Dias

 

O livro “Migrações internacionais e a pandemia de Covid-19” reuniu a produção de textos de pesquisadores de várias universidades e instituições nacionais e internacionais, e teve como foco as migrações internacionais diante da pandemia. O capítulo “Suspender o tempo, abrir seus gomos”,  do pesquisador Antonio Carlos Amorim do INCT Mudanças Climáticas fase 2, subcomponente Comunicação, disseminação de conhecimento e educação para sustentabilidade, trouxe discussões sobre sua pesquisa com imigrantes e educação. De acordo com entrevista realizada com o autor, o que ele busca são “associações heterogêneas entre refúgio, imagem e educação”, e em particular pelo seu interesse “nas imagens de cinema experimental de diretoras.es que são pessoas refugiadas”.

O pesquisador está interessado em saber como os discursos e as narrativas chegam até as pessoas em relação aos imigrantes. No capítulo, Amorim coloca que a produção audiovisual e literária tem como objetivo ressignificar as experiências. E uma dessas experiências a ser ressignificada é a do refugiado, e, na entrevista, comenta que os frequentes discursos (ou produções audiovisuais) com tons de denúncia e crítica são “uma das mais poderosas imagens sobre refugiados nas mídias”. O que se nota que se trata de “tema de interesse global, controverso, para o qual a mídia tem contribuído, juntamente com outras narrativas de diferentes linguagens, para reunir o maior número de provas de sua existência concreta, real e factível”. Esse movimento tem sido excludente com relação às diferenças das histórias de vida, experiências de deslocamento, memórias e subjetividades das pessoas refugiadas.

Complementa que as provas que se reúnem da existência concreta da migração climática estão dentro do jogo do convencimento, do juízo e da demonstração. E que o refúgio “traz para a educação o retorno de suas potências de ser um lugar para a sobrevivência do abandono, do que restou da máquina dilacerante da necropolítica, daquilo que falta a um povo ainda não existente”.

Um outro estudo que também visa trazer a dimensão e compreensão da questão dos refugiados climáticos é o artigo “A Quem interessa a causa dos refugiados climáticos? Dilemas, perspectivas e o papel da mídia”, da revista eletrônica Razón y Palabra, que teve como estudo “discutir a complexidade e, ao mesmo tempo, refletir sobre a importância do aprofundamento da cobertura midiática a respeito dos refugiados climáticos”. Essa pesquisa nos informa que no Brasil é dada pouca importância ao tema dos refugiados climáticos, mesmo considerando que por ser um país tropical haverá um número elevado de migrantes climáticos. E que já há indícios de que essa migração tende a “multiplicar e trazer problemas sociais para os grandes centros urbanos”.

De acordo com o artigo o tema dos refugiados climáticos tem que ser divulgado para que a sociedade tenha conhecimento sobre o assunto, e que “deve ser aprofundado, interpretado e difundido pela mídia de forma a motivar um debate qualificado que contribua para o estabelecimento de marcos jurídicos inovadores, bem como para a construção de novas políticas públicas e outras soluções que também sejam resultado da mobilização social para práticas de cidadania local e global”.

O pesquisador Amorim acrescentou na entrevista que as produções audiovisuais estudadas produzem uma “série de releituras sobre os fatos históricos”, e que estas são necessárias para a compreensão sobre os refugiados.  E ainda que as “obras artísticas, tanto plásticas como audiovisuais, têm a intenção, em geral, de deslocar as representações mais usuais e clichês sobre pessoas refugiadas, suas histórias, memórias e pulsão de vida”. (Link com a notícia completa em pdf)

 

 

 

Outras bibliografias consultadas:

 

LAJCÁK, Miles. Brasil, um país que pode definir o futuro. Mídia Ninja, 2021. Disponível em: <https://midianinja.org/news/brasil-um-pais-que-pode-definir-o-futuro/>

LOPES, Deborah. Por que justiça social também é justiça climática? Mídia Ninja, 2021. Disponível em: <https://midianinja.org/news/por-que-justica-social-tambem-e-justica-climatica/#:~:text=O%20termo%20justi%C3%A7a%20clim%C3%A1tica%20representa,exemplo%2C%20por%20eventos%20clim%C3%A1ticos%20extremos>

LORENZETTI, Rebecca. ACNUR cria conselho para dar suporte a refugiados climáticos. Mídia Ninja, 2021. Disponível em: <https://midianinja.org/news/acnur-cria-conselho-para-dar-suporte-a-refugiados-climaticos/>

MARINHO, Julia. Em 30 anos mundo terá 1,2 bilhão de refugiados climáticos. Tecmundo, 2020. Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/ciencia/204348-30-anos-mundo-tera-1-2-bilhao-refugiados-climaticos.htm#:~:text=%22Nos%20pr%C3%B3ximos%2030%20anos%2C%20a,refugiados%20para%20pa%C3%ADses%20mais%20desenvolvidos>

OLIVEIRA, Duda. COP-26 debate ações feministas para justiça climática. Mídia Ninja, 2021. Disponível em: <https://midianinja.org/news/cop-26-debate-acoes-feministas-para-justica-climatica/>

SALLOUM, Jayce. Untitled part 3b: (as if) beauty never ends.. Vimeo, 2002 (2000). Disponível em: https://vimeo.com/69640623

 

 

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq projeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Oliveira Dias.

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.