Re-escritas, escritas expandidas e escritas cinematográficas

TÍTULO: Re-escritas, escritas expandidas e escritas cinematográficas


A partir da apresentação e desdobramento do processo criativo do projeto expandido Ondas (http://wavesproject.tumblr.com/), composto por um filme, um ensaio poético-filosófico e um arquivo digital, se almejou pensar as possibilidades de um cinema da imanência que excede e transborda meios. Um cinema que rejeita fixações a um meio e pelo contrário pede passagem entre meios. Um cinema que se manifesta entre filme e papel, que clama um devir do cinema pelas mais diversas grafias. Um cinema que se faz por entre muitas escritas e re-escritas. A potência do cinema não repousa no suporte, e sim no intervalo que se cava entre imagens como germe para o pensamento. Falar de cinema e falar de relação entre imagens, do intervalo que se instaura entre estas e que como duração movem o pensamento. Todo um pôr em relação que pode passar pela câmera e o filme, mas não só; que pode ser sonoro e visual, mas não só; pois antes de tudo uma imagem é um processo vital de diferenciação. Dali que o cinema como condição vital que faz do mundo um cinematógrafo cósmico incomensurável, seja algo que não só lhe compete aos cineastas mas a qualquer-um. Esta oficina se propôs experimentar como esse qualquer-um pode fazer cinema, pode fazer proliferar o cinema por entre escritas outras diferentes as do filmar e editar convencional, pode fazer cinema por outros meios. Neste escrever e re-escrever como construtivismo radical as noções de Devoção, Difração e Adivinhação foram nossas aliadas.

Variação devocional I:

Sair da fixidez de um meio é fazer com que os fluxos vitais e energéticos não se deixem capturar pelas sobrecodificações que um meio determinado impõe. Habitar o papel não pode ser um ato inocente e desprovido de preparo, habitá-lo é um gesto de alto risco que demanda estratégias ou técnicas muito precisas e eficazes. Assim que antes de entrar nele, por que não tentar habitar um meio cujas tendências analógicas e transdutivas nos jogam em terrenos e grafias menos conhecidas? Por que não fazer algumas anotações LEGOgraficas preliminares, onde o sentido é vacilante e constantemente desfigurado? Um se animar a fazer/escrever cinema com e no LEGO como gesto difrativo.

Variação devocional II:

Avançar em terras desconhecidas, sair do projeto Ondas como caso já bastante ruminado e se aventurar em outras audio-visualidades tão desfiguradoras e corpóreas como o acto de LEGOgrafar. Deixar-se violentar pelas intensidades do filme “Sleep has her house” de Scott Barley e então se perguntar: Como continuar? Desta vez sem recuos se abismar no papel. Um abismar que encontra na adivinhação uma maneira de esquivar os clichês e se abrir aos sistemas complexos não-lineares que fazem às ecologias de imagens como processos de diferenciação. Um efetivo se abrir a relações impensadas. Sem importar o meio, seja este filme ou papel, seja pela montagem de visualidades e sonoridades ou de palavras, as conexões e relações devem continuar sendo imprevisíveis. Depois de tudo um cinema da imanência indiferente de seu meio momentâneo tem que se perguntar pelo infinito, por como abrir infinitos no finito ilimitado da matéria. Dali que se torne relevante se aliar à adivinhação, não como processo que diz do futuro mas que mantêm o futuro aberto, que mantém a imagem e o pensamento como possibilidade de futuro, de porvir. Um proliferar que se diz devocional, pois nutre e multiplica os processos de diferenciação da vida.

Ficha técnica

Palestra e oficina: Sebastian Wiedemann

Organização do evento: Susana Dias

Fotos: Erica Araium, Glauco Roberto, Susana Dias

Concepção e montagem postais: Susana Dias

Textos postais: Carolina Scartezini, Érica Araium, Irêo Lima, Giovana Spoladore Amaral, Maria Rita Salzano Moraes, Mirlley Neves, Rodrigo Reis Rodrigues, Sara Melo, Tânia Campos.

Data: 21/03

Local: Labjor-Unicamp


Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp primeiro semestre de 2018

Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia

Professora – Dra. Susana Dias

Nesta disciplina experimentaremos as florestas como parceiras de pensamento e escrita, ou seja, a transformação das florestas em material de pensamento e escrita. Um pensar e escrever (seja por imagens, palavras, sons, tintas, corpos…) que busca se afetar pelos não-humanos – uma ênfase muito importante hoje dos estudos de ciência e tecnologia, nos estudos multiespécies, nas chamadas linhas de pensamento pós-humanistas. Trata-se de ganhar intimidade com as florestas, conviver com as coisas, seres, mundos e correr o risco de ser devorado por eles. Co-evoluir perto-dentro-junto às florestas, em que nada está só e tudo se converte numa complexidade viva, numa multirelacionalidade em constante transmutação. Talvez assim, acordar uma divulgação científica e cultural que prefere não falar sobre as florestas, mas antes propor-se como encontro com as potências-florestas. Pois que seria menos pensar em comunicar florestas já dadas, e mais um entrar em comunicação com florestas que estão (e precisam estar) em constante formação e movimento. Quem sabe, deste modo, nos tornemos dignos de que as florestas entrem em comunicação conosco, nos tornemos dignos de que elas proliferem por textos, fotografias, pinturas, esculturas, criações sonoras etc., em novas e originais emoções, em novos modos de existir e afetar. A disciplina será dividida em três blocos: 1. Da intimidade com os materiais; 2. Do aprender a pensar com a Terra; 3. Da atentividade e re-ligação com múltiplos modos de existência. Em cada bloco estão propostas leituras e encontros com práticas singulares de distintos ofícios (cineasta, escultor, cientista, babalorixá e ialorixá), pois nos interessam as artes, ciências e tecnologias – com minúsculas e no plural – envolvidas em um fazer. Trata-se de um enfoque mesopolítico (Stengers) em que o foco não são as abstrações e idealizações, mas as técnicas, procedimentos e materiais. Por isso as leituras serão experimentadas nas aulas não apenas através de uma conversa/debate, mas por meio da invenção de passagens incessantes entre o ler-falar-escrever-desenhar-pintar etc. durante a criação coletiva de composições sensíveis. Uma aposta na necessidade de colocarmos o corpo para pensar e escrever, de fazer corpo com as coisas-seres-mundos. Uma aposta que levamos a sério em nosso grupo de pesquisa multiTÃO, no ateliê Orssarara e na revista ClimaCom. Uma aposta de quem trabalha com comunicação-divulgação para quem só faz sentido uma ideia de leitura ligada à escrita (ler é escrever), assim como uma ideia de escrita expandida, que passa não apenas pelas palavras, mas pelos mais diversos materiais e procedimentos, pelos mais diversos problemas.

Programa de Pós-Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Projetos:

– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)

– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).

– “Imediações aberrantes: processos de pesquisa-criação entre artes, ciências e filosofia para experimentação da comunicação como ecologia de afetos” (Pibic-Faepex)

– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/

 

 

WIEDEMANN, Sebastian. Re-escritas, escritas expandidas e escritas cinematográficas. ClimaCom – Diálogos do Antropoceno [online], Campinas, ano.  5, n. 12. Ago. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=8941


BAIXAR PRODUÇÃO ARTÍSTICA EM PDF

SEÇÃO LABORATÓRIO-ATELIÊ |DIÁLOGOS DO ANTROPOCENO |Ano 5, n. 12, 2018

ARQUIVO LABORATÓRIO-ATELIÊ |TODAS EDIÇÕES ANTERIORES