Outros modos de valorizar a floresta

Armazenamento de carbono é um dos serviços ambientais oferecidos pela Amazônia que, segundo pesquisadores, precisam ser reconhecidos

A valoração dos serviços ambientais ligados ao clima para manter os ecossistemas na Amazônia é uma das principais problemáticas levantadas pela sub-rede de Serviços Ambientais dos Ecossistemas. “E isso envolve pesquisar os impactos do desmatamento, bem como outras maneiras de perda de vegetação como, por exemplo, os incêndios florestais e a exploração madeireira”, explica Philip M. Fearnside, coordenador da sub-rede Serviços Ambientais dos Ecossistemas, da Rede Clima.

Desde meados dos anos de 1980, Fearnside, que também é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), propõe substituir as atividades econômicas predominantes na Amazônia em prol da valoração dos serviços ambientais trazidos por ela: “Hoje, a maior parte da atividade econômica está baseada na destruição da floresta: cortam-se árvores, vende-se a madeira e planta-se pastagem em seu lugar. Se, ao invés disso, fosse derivado valor a partir da manutenção da mata, então as perspectivas futuras em relação à Floresta Amazônica e a biodiversidade nela contida seriam muito diferentes”, defende Fearnside no artigo Biodiversidade: por que eu deveria me preocupar com ela?, publicado em 2004 e disponível no site do Inpa.

A margem, do Coletivo Garapa, 2015. A instalação fez parte da exposição Aparições realizada no MIS-Campinas em maio de 2015. Veja esta notícia também no link: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=1900

A margem, do Coletivo Garapa, 2015. A instalação fez parte da exposição Aparições realizada no MIS-Campinas em maio de 2015. Veja esta notícia também no link: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=1900

Além de alertar sobre os perigos das mudanças climáticas, a intenção da sub-rede Serviços Ambientais dos Ecossistemas é criar propostas de combate ao efeito estufa, sobretudo àquele relacionado às emissões resultantes de mudanças do uso da terra, como o desmatamento.

Ou aspecto importante diz respeito às hidrelétricas no Brasil, que têm sido construídas em ritmo acelerado como parte de programas nacionais de desenvolvimento. Segundo Philip Fearnside, elas deixam a desejar com relação às preocupações sobre clima. Apesar disso, as hidrelétricas são um dos principais destinos para fundos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Criado pelo Protocolo de Quioto, o MDL objetiva reduzir as emissões dos gases de efeito estufa a partir da negociação de créditos de carbono no mercado internacional. “Os países que compram crédito de carbono gerado por barragens podem emitir mais gases de efeito estufa sem que essas emissões sejam compensadas por uma mitigação genuína”, problematiza Fearnside no artigo Hidrelétricas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: a barragem de Santo Antônio como exemplo da necessidade de mudança, publicado no Climatic Change Journal, em abril de 2015. O trabalho dos pesquisadores envolve tanto a coleta quanto a interpretação de dados: “A parte teórica de como são feitos os cálculos faz toda a diferença. Nos últimos anos, houve várias mudanças nas informações. No Quinto Relatório de Avaliação (AR5) do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), por exemplo, a conversão de metano para dióxido de carbono utilizada quadruplicou os impactos das hidrelétricas se comparados com o que havia sido publicado, inclusive nos meus próprios trabalhos”, alerta.

[Esta matéria integra a série dedicada às pesquisas desenvolvidas pelas sub-redes da Rede Clima]