A urgência de dar atenção à relação entre meio ambiente e doenças, o exemplo da Leishmaniose | Gláucia Pérez

A leishmaniose, doença que parecia extinta e restrita a zonas rurais, reaparece com força, inclusive em centros urbanos, tornando-se um problema de saúde pública em todo o país. Mais uma doença que nos dá sinal de que a relação entre os problemas ambientais e a saúde precisam ser, cada vez mais, estudadas e cuidadas.

Por | Gláucia Pérez

Editora | Susana Dias

 

Nos últimos trinta anos uma doença, a leishmaniose, que parecia extinta, retornou e se tornou um problema de saúde pública em todo o país, inclusive em cidades maiores; estima-se que não é encontrada apenas na região sul do país, e que nas regiões norte e nordeste ainda ocorrem o maior número de infectados no país. O retorno da doença se deve ao processo de urbanização e as alterações que o homem causa no meio ambiente, já afirmava o estudo com a leishmaniose realizado pelo grupo de pesquisas do INCT da área de saúde e mudanças climáticas em 2018, descrito no artigo “Ecological niche modelling and predicted geographic distribution of Lutzomyia cruzi, vector of Leishmania infanum in South America”.

Nesse estudo os pesquisadores desenvolveram dois modelos: o modelo Lutzomyia (N.) whitmani (LWM) e o cutâneo americano, para avaliar a adequação ambiental e a transmissão no Brasil; incluíram regiões com diferenciadas precipitações anuais, temperaturas e densidades de vegetação. Para levantar as estimativas futuras consideraram a ampla extensão geográfica do país e as mudanças climáticas, bem como o processo contínuo de degradação ambiental que contribui para o desenvolvimento e estabelecimento da leishmaniose.

Mais recentemente, ano passado, um novo estudo realizado pela Fiocruz identificou a transmissão da Leishmaniose visceral por um novo vetor, essa informação é relevante para os profissionais de saúde, uma vez que há um outro tipo de vetor capaz de transmitir a doença. Mais uma vez, a limpeza adequada dos ambientes é imprescindível para a prevenção da doença. Informação e modos de prevenção são essenciais para os setores sanitários de saúde e a população.

 

Tratamento e prevenção: participação da população é fundamental

O mosquito palha é o vetor da leishmaniose mais conhecido. A picada do mosquito palha introduz a doença na circulação do hospedeiro. Há dois tipos de leishmaniose: a visceral, que ataca órgãos como o fígado e baço; e a cutânea, que causa ulcerações na pele. O mesmo mosquito que transmite a doença para o humano também infecta o cachorro, a doença não é transmitida desse para o humano através do contato, mas pode sim um mosquito infectado que picou o cachorro transmitir para o ser humano. Pesquisadores da USP, em um artigo publicado na revista Scientific Reports, mostram que o desenvolvimento da doença decorre da genética do hospedeiro, mas que alguns infectados se mostram resistentes à doença. Informação essa encontrada na reportagem produzida por Janaína Simões para a Agência Fapesp.

estudos no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) com o jucá, fruto da região amazônica e conhecido da população ribeirinha, que poderá auxiliar no tratamento da leishmaniose, o fruto está sendo testado através de creme fitoterápico. Mas a prevenção da doença ainda é considerada o melhor remédio para essa doença. No entanto, não há como se prevenir da doença se não houver participação ativa da população, tem que haver um diálogo entre o setor público e a população, a resolução do problema tem que ser horizontal. Essa orientação é salientada no artigo da Fiocruz “Debate sobre o artigo de von Zuben & Donalísio” –  “Participação da população na prevenção da leishmaniose visceral: como superar as lacunas?”.

Algumas recomendações práticas são: evitar o acúmulo de lixo, principalmente o orgânico. O mosquito palha se adapta a ambientes úmidos e com restos de materiais orgânicos. Além de utilizar repelentes eficazes nos animais, bem como utilizar telas de proteção nas janelas e portas contra o mosquito; o mosquito palha ataca principalmente nas primeiras horas do dia e ao entardecer. Vale ressaltar que ainda não há vacina para a doença, além do tratamento ser longo, complexo e de alto custo, há possibilidades de reincidência da doença, mesmo depois de ter terminado o tratamento.

As mesmas medidas de higiene e prevenção são válidas para o novo vetor da Leishmania infantum chagasi descoberto pela Fiocruz. (Link com a notícia completa em pdf)

 

Gláucia Pérez é bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq pro- jeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

 

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)

Projetos | Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9); Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/ e Revista ClimaCom.

 

Referências |

https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0006684

https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-comprova-transmissao-de-leishmaniose-visceral-por-novo-vetor

https://www.bbc.com/portuguese/geral-42536385

https://m.youtube.com/watch?v=6u5eIY9rOXshttps://agencia.fapesp.br/fatores-geneticos-que-conferem-resistencia-a-leishmaniose-sao-identificados/33193/
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/23747

https://www.bbc.com/portuguese/geral-42536385