O Guia de Ensaios e Preparos com o Clima: Laboratório de Palavras e Inventário de Práticas é uma coleção interativa de verbetes, palavras, atividades e propostas produzidos coletivamente para possibilitar a circulação e a relação entre conteúdos, conceitos e materiais relacionados à divulgação científica das mudanças climáticas. Valorizando a inter-relação entre pessoas, materiais e informações, ele tem tarefas múltiplas: promover a aproximação entre o leitor e a própria divulgação como campo problemático de pesquisa e criação; sugerir uma espécie de derivação das concepções cristalizadas que circulam na mídia em torno do campo conceitual das mudanças climáticas, de forma a abrir espaço para outros olhares e questionamentos; investir na criação coletiva para produzir ações concretas nos diferentes meios pelos quais perpassam as discussões sobre a temática; e instaurar e fazer circular afetos distintos que possam povoar as discussões com forças ainda impensadas.

A comunicação das mudanças climáticas desenha-se atualmente num campo problemático que tem reunido cientistas e jornalistas em torno de um objetivo aparentemente comum: a busca pela eficácia. As discussões em torno desse conceito admitem certa necessidade de domínio das estratégias através das quais as temáticas ambientais serão apresentadas ao público, de forma que se produza uma mensagem clara e adequada, quase impassível à dúvida e ao erro.

Ao buscar o consenso entre aquilo que se transmite e aquilo que é apreendido pelo público, entretanto, o que essas estratégias desconsideram é justamente uma das características inerentes à comunicação: a sua impossibilidade de estar plenamente sob o controle de qualquer uma das partes. Ou seja, ao colocar como problema a desconexão entre a informação e o entendimento, transformam a busca pela eficiência da comunicação das mudanças climáticas em posturas normativas e em técnicas de convencimento que ao se ocuparem com a “transmissão” deixam de lado a problematização das questões abordadas e negam ao público a oportunidade de refletir, fazer conexões, encadear (ou não) questões, trazer elementos novos para a discussão. Em suma, o que se perde ao transformar a desconexão em problema é a ocasião de construir significações e levantar problemas em conjunto: ao querer uma comunicação linear, vertical e exata, cria-se uma distância entre a comunidade científica e não científica maior do que aquela que se quer transpor.

A Equipe da ClimaCom, em pareceria com a Sub-rede Comunicação e Cultura Científica, da RedeCLIMA, também busca um tipo de eficácia da comunicação, mas acredita que o equívoco e a desconexão fazem parte dela. A eficiência, no nosso entendimento, se dá justamente no entremeio entre o que a comunicação pretende e o que o público produz a partir daquilo que é pretendido. Não desejamos provocar equívocos, mas acreditamos que há um impossível da comunicação que se produz justamente no contato dela com seu público, e que é a partir desse local de impossibilidade que se produz uma problematização efetiva das temáticas e questões relevantes para as discussões.

Entendemos que ao invés de travar uma luta contra aquilo que difere nesse entremeio, devemos acolher essas diferenças como a potência que produzirá novas reflexões e ações. Nossa aposta é de que a divulgação científica das mudanças climáticas, assim como qualquer outra divulgação, não leva a informação ao público nem almeja o aumento de consciência sobre atos individuais, mas produz, no encontro com ele, a informação e a oportunidade de reflexão sobre situações atuais. Para tanto, tal encontro entre comunicação e público deve ser recheado de possibilidades e oportunidades de conexões e articulações a partir de variados materiais e meios, produzindo uma espécie de cascata múltipla que se desdobra conforme se dá esse encontro.

Nossa aposta não é, portanto, na busca de um consenso sobre as mudanças climáticas, mas antes na produção de dissensos, conceito discutido pelo filósofo francês Jacques Ranciére como o conflito de diferentes regimes de sensorialidade, a desconexão entre o que é proposto e o que é captado. O dissenso, segundo este pensador, é o que produz o que ele chama de eficácia política, pois rompe a evidencia na ordem ‘natural’ que destina os indivíduos a certa maneira de ser, ver e dizer.

A partir desse entendimento, a ClimaCom traz aos leitores o livro-manual Guia de ensaios e preparos Com o Clima: Laboratório de palavras e Inventário de práticas, uma coleção interativa de verbetes, palavras, atividades e propostas com o formato semelhante a um dicionário/manual online das mudanças climáticas. Ele é produzido de forma coletiva e contínua e é composto por duas seções distintas: o Laboratório de Palavras e o Inventário de práticas, ambas focadas nas articulações entre conteúdos, conceitos, práticas e materiais.

O Guia de ensaios e preparos Com o Clima é um convite e um desafio para pesquisadores, jornalistas e leitores, pois pretende a troca e o compartilhamento de ideias, produções e reflexões. Viaje conosco por entre estes ensaios e preparos e descubra outras possibilidades para a divulgação científica das mudanças climáticas.