Encontros | Vitória Moro Bombassaro

Título | Encontros

Epiderme espessa que procura não ser essa que era antes. Extremidade do corpo propensa a perceber um grande número de sensações. Apresenta dobras, movimento, fendas, frestas, reentrâncias de aprofundamento. Vira para cima, para baixo, para fora e para dentro. Se abre e se fecha sobre si e sobre o outro. Toca, agarra, sua, joga, apaga, encosta, atira, fala, entrelaça, costura, aponta, tira, pede, lava, coça, pergunta, entrega, fura, escreve, solta, pulsa, cozinha, rouba, convoca, massageia, esconde, pinta, esfrega, apoia, divide, raspa com a unha, formiga, descasca, carrega, acolhe… Cria.

Preferiria mão. 

Minha lembrança primeira da escola é a minha mão sobre a classe azul esverdeada, os olhos fingidamente cerrados encarando-as de perto enquanto desejo que as mãos da professora acariciem a minha cabeça durante aqueles poucos minutos entre o cansativo copiar do quadro e o libertador som do sinal para irmos para casa. 

Quantas mãos fizeram o corpo que você é? Quantos corpos suas mãos ajudaram a fazer? Somos parte das mãos que um dia encostaram em nós? Afinal, levamos conosco as células mortas, as bactérias, os fungos e os vírus superficiais daquelas peles, compartilhamos átomos com esses tecidos que respiram junto de nós. Coexistimos nestas linhas infindáveis que se intercruzam entre nós e em nós. Linhas da mão, linhas de vida, linhas cartográficas, linhas retas e curvas, linhas interrompidas e continuadas. 

Entre o toque das mãos que nos tiraram do útero e das mãos que nos farão a última homenagem de despedida, há todas as outras mãos e todos os instantes que nos fizeram ser quem estamos agora. Mãos que ressignificam a todo o tempo o espaço a sua volta, refazendo o vazio em um constante devir. 

As imagens apresentadas dialogam com o projeto de dissertação de Mestrado em Educação intitulado “Trançar de corpos: afe(c)tos de uma professora”, qualificado pela autora em outubro de 2020, realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa Arte, Linguagem e Currículo, sob orientação do Prof. Dr. Cristian Poletti Mossi. A construção da dissertação apresenta ensaios fragmentados com escritas e imagens em torno de afe(c)tos produzidos a partir de encontros entre a professora-estudante-pesquisadora, estudantes e conceitos. Procurando convocar a uma possível experimentação de leitura (e escrita) através da interação com o projeto, o mesmo procura atentar-se à pergunta problema “que afe(c)tos se efetuam em uma professora em meio ao trançar de corpos?” sem limitar a uma única resposta ou uma única via de acesso. O diálogo entre o projeto e a presente produção ocorre no limite entre o que é dito pelas imagens e as lacunas de criação preenchidas por quem as recebe. Dessa forma, cocriação pode se fazer tanto entre estudantes, percebidas pelos registros fotográficos em aulas de Ciências em uma cidade do Vale do Taquari no Rio Grande do Sul em 2019, como com sua professora (autora do presente trabalho) e também com a leitora dessa produção.


Ficha Técnica

  1. apoio, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  2. desejo, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  3. espera, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  4. fenda, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  5. movimento, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  6. passagem, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  7. procura, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.
  8. refeição, Vitória Moro Bombassaro, fotografia, Brasil, 2019-2021.

Vitória Moro Bombassaro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vickymouras1@gmail.com, (51) 999652922 

 

 

BOMBASSARO, Vitória Moro. Encontro. ClimaCom – Coexistências e cocriações [online], Campinas,  ano 8, n. 20. abril 2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/encontros/


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