Devir-pássaro

TÍTULO: Devir-pássaro


A atividade foi feita em ambiente externo, no caso a Praça da Paz na Unicamp. Iniciou com a ativação de escuta, conforme proposta do musicólogo canadense Murray Schafer, com a ausculta dos vazios e dos cheios, das proximidades e distâncias e das diversas texturas do ecossistema sonoro. Segue com a proposta de devir-pássaro, através do dispositivo de se ‘comunicar em bando’, usando apitos ornitológicos para rasgar e preencher as fissuras sonoras da floresta urbana, em piarada que inventa novas línguas, novos mundos e vôos. Em ressonância com o conceito de ritornelo proposto por Deleuze-Guattari, a comunicação foi feita em três movimentos. A primeira comunicação com bando territorializado, quando um pio responde ao outro. A segunda comunicação com o bando se desterritorializando e à deriva pelo espaço da praça, onde os pios respondem a todos os eventos sonoros ali constantes, naturais, humanos, maquínicos. A terceira comunicação é entre o bando se territorializando, deslocando a produção da matéria sonora para a matéria plástica. Neste último movimento, utilizando tintas, o bando desenha as partituras que vieram a compor o Pequeno Guia de Observação de Pássaros e Baleias, tendo como critério gestos, formas, cores e texturas que se relacionam com os sons, em devir som-tinta. A atividade durou cerca de 60 minutos.

A experimentação foi um excerto das práticas que integraram a pesquisa e criação que resultaram na composição de ECO Concerto para ensemble, pios, voz e galho-de-árvore. O concerto foi montado, apresentado e gravado no Instituto de Artes da Unesp, campus de São Paulo, em 2016. Posteriormente foi transformado em longa documental, conforme descrição no ensaio ECO Cantos da Terra, um meio minúsculo, que pode ser lido em número anterior da Revista ClimaCom em: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=7829 .

 


Ficha técnica

Concepção e coordenação: Rodrigo Reis Rodrigues, compositor e mestrando em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp.

Fotos: Rodrigo Reis, Susana Dias, Glauco Silva

Data: 04/04

Local: Praça da Paz, Unicamp

Participantes: Andressa Boel, Carolina Scartezini, Érica Araium, Maria Luiza Canela de Almeida, Rodrigo Reis Rodrigues, Sara Melo, Sebastian Wiedemann e Susana Dias


Esta atividade fez parte da proposta da disciplina “Arte, ciência e tecnologia” – MDCC-Labjor-IEL-Unicamp primeiro semestre de 2018, integrando a proposta “Re-existências sensíveis” que o grupo da disciplina levou para o 5o. EDICC – Encontro de Divulgação e Cultura.

Disciplina: JC012 Arte, ciência e tecnologia

Professora – Dra. Susana Dias

Nesta disciplina experimentaremos as florestas como parceiras de pensamento e escrita, ou seja, a transformação das florestas em material de pensamento e escrita. Um pensar e escrever (seja por imagens, palavras, sons, tintas, corpos…) que busca se afetar pelos não-humanos – uma ênfase muito importante hoje dos estudos de ciência e tecnologia, nos estudos multiespécies, nas chamadas linhas de pensamento pós-humanistas. Trata-se de ganhar intimidade com as florestas, conviver com as coisas, seres, mundos e correr o risco de ser devorado por eles. Co-evoluir perto-dentro-junto às florestas, em que nada está só e tudo se converte numa complexidade viva, numa multirelacionalidade em constante transmutação. Talvez assim, acordar uma divulgação científica e cultural que prefere não falar sobre as florestas, mas antes propor-se como encontro com as potências-florestas. Pois que seria menos pensar em comunicar florestas já dadas, e mais um entrar em comunicação com florestas que estão (e precisam estar) em constante formação e movimento. Quem sabe, deste modo, nos tornemos dignos de que as florestas entrem em comunicação conosco, nos tornemos dignos de que elas proliferem por textos, fotografias, pinturas, esculturas, criações sonoras etc., em novas e originais emoções, em novos modos de existir e afetar. A disciplina será dividida em três blocos: 1. Da intimidade com os materiais; 2. Do aprender a pensar com a Terra; 3. Da atentividade e re-ligação com múltiplos modos de existência. Em cada bloco estão propostas leituras e encontros com práticas singulares de distintos ofícios (cineasta, escultor, cientista, babalorixá e ialorixá), pois nos interessam as artes, ciências e tecnologias – com minúsculas e no plural – envolvidas em um fazer. Trata-se de um enfoque mesopolítico (Stengers) em que o foco não são as abstrações e idealizações, mas as técnicas, procedimentos e materiais. Por isso as leituras serão experimentadas nas aulas não apenas através de uma conversa/debate, mas por meio da invenção de passagens incessantes entre o ler-falar-escrever-desenhar-pintar etc. durante a criação coletiva de composições sensíveis. Uma aposta na necessidade de colocarmos o corpo para pensar e escrever, de fazer corpo com as coisas-seres-mundos. Uma aposta que levamos a sério em nosso grupo de pesquisa multiTÃO, no ateliê Orssarara e na revista ClimaCom. Uma aposta de quem trabalha com comunicação-divulgação para quem só faz sentido uma ideia de leitura ligada à escrita (ler é escrever), assim como uma ideia de escrita expandida, que passa não apenas pelas palavras, mas pelos mais diversos materiais e procedimentos, pelos mais diversos problemas.

Programa de Pós-Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Projetos:

– Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC) – (Chamada MCTI/CNPq/Capes/FAPs nº 16/2014/Processo Fapesp: 2014/50848-9)

– “Por uma nova ecologia das emissões e disseminações: como a comunicação pode modular a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas?” (CNPq).

– “Imediações aberrantes: processos de pesquisa-criação entre artes, ciências e filosofia para experimentação da comunicação como ecologia de afetos” (Pibic-Faepex)

– Revista ClimaCom: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/

 

 

 

 

RODRIGUES,  Rodrigo Reis. Devir-pássaro (oficina). ClimaCom – Diálogos do Antropoceno [online], Campinas, ano.  5, n. 12. Ago. 2018 . Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=9621

 

 


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SEÇÃO LABORATÓRIO-ATELIÊ |DIÁLOGOS DO ANTROPOCENO |Ano 5, n. 12, 2018

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