Reinvenção do agora e do porvir: livro dá a pensar nas mudanças climáticas para além do já dado | Gláucia Pérez

O livro “Conversas Infinitas: mudanças climáticas, divulgação científica, educação e…” trata das mudanças climáticas e do Antropoceno, mas não da forma convencional como lemos habitualmente, mas a partir de novas perspectivas, que nos colocam para pensar.

Por | Gláucia Pérez

O livro “Conversas Infinitas: mudanças climáticas, divulgação científica, educação e…” trata das mudanças climáticas e do Antropoceno, mas não da forma convencional como lemos habitualmente, ou seja, como um problema já dado, sem soluções ou com soluções prontas e acabadas, mas a partir de novas perspectivas, que nos colocam para pensar. É um livro escrito por 25 professores e pesquisadores das humanidades e das artes, que fazem parte da Rede Divulgação Científica e Mudanças Climáticas, e propõe uma multiplicação dos funcionamentos de noções como fim de mundo, negacionismo, mundo comum, ciência e público, entre outras. Como diz uma das organizadoras do livro, Susana Dias, no prefácio – “Dos exercícios de estar junto”: “Cuidar de uma atmosfera comunicante, neste livro, envolve abraçar a potência da ficção, da poesia, da multiplicação de signos e sentidos, ao invés da fixação e repetição de significados empobrecidos e já dados”. O livro será lançado no dia 25 de novembro em dois encontros pelo Facebook e YouTube da Revista ClimaCom. O primeiro encontro será às 17h e abordará o tema “Clima, vida e negacionismo”, e o segundo, às 20h, com o tema “Antropoceno, modos de existência e mundo comum”, ambos com a participação de autores do livro.

 

Conversas infinitas em poesia sonora áudio binaural, oriunda de alguns trechos lidos pelos autores do livro; uma composição de um dos autores, Antonio Carlos Queiroz Filho.

Em um dos capítulos, os autores Bruno Stramandinoli Moreno, doutorando em Desenvolvimento Humanos e Tecnologias na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e Carlos José Martins, filósofo e orientador de Bruno, nos dizem o seguinte: “Novas práticas ecológicas, novas práticas sociais, novas práticas sustentáveis, novas práticas de si na relação com o outro e na relação com o coletivo se fazem necessárias. E, com efeito, é exatamente na articulação desses diferentes planos, na condição onde estes possam ser reinventados, que pode surgir alguma saída às crises de grandes proporções da nossa época”. No capítulo, eles colocam o ser humano como um fator determinante nas mudanças climáticas. As ações humanas e suas interações com o social, ambiental, político, econômico e técnico-científico intensificam os fenômenos climáticos. Mas consideram, também, que através dessas interações é que acontecem as soluções e as respostas que precisamos para as catástrofes e as alterações que ocorrem no clima e planeta. Os autores complementam: “Contudo, o equilíbrio ambiental dependerá cada vez mais das intervenções humanas, uma vez que o que está em jogo é a necessidade de mutação na maneira de viver e interagir com o ecossistema do planeta”.

atmosfera

No capítulo o “Comum (in)tolerável: experimentações com palavras e imagens”, Wenceslao Machado de Oliveira Jr., professor da Faculdade de Educação da Unicamp, escreve: “A cada cinco linhas, conversas infinitas. Inquietantes para qualquer um que esteja minimamente envolvido com os problemas relacionados à comunicação e à educação”. No texto, o autor nos traz a possibilidade de em uma imagem termos o meu mundo e o seu, e a conexão entre esses dois mundos que formam um comum. A imagem pode mostrar e nos dar a percepção de catástrofe, mas também de que ao nos encontrarmos em um mesmo local, há um comum que devemos preservar, um comum que pode existir: o eu e o outro. Não é necessário que o outro se transforme para que exista esse comum. É possível o eu e o outro se encontrarem e ao mesmo tempo manterem suas singularidades.

barco

Em um capítulo que aborda os devires rio, mar e floresta da divulgação científica diante das mudanças climáticas, Susana Dias nos fala do trabalho desenvolvido pelo grupo multiTÃO e a Rede de Divulgação Científica e Mudanças Climáticas com a revista ClimaCom desde 2014: “temos investido em encontros com diferentes pessoas e experimentado a divulgação científica como simbioses desprogramadas entre diferentes práticas, procedimentos e materiais para produção coletiva de visualidades e sonoridades”. Colocando em jogo uma ciência e uma divulgação que não estão prontas, apenas esperando um destinatário, mas que chamam a participar e a estar junto; a desenvolver, criar, e pensar nessas ciências e divulgações. A interdisciplinaridade é intrínseca a esse processo de estar e criar junto.

esqueleto

No texto a autora nos chama a pensar e fazer juntos, práticas tão esquecidas por pensamentos e ideias que já vêm prontos e que ensinam a apenas pegar o que nos convém. Aqui a divulgação científica é pensada em grupo, há um junto para criar e desenvolver o que ainda não foi falado ou inventado. Artes, ciências e tecnologias se desenvolvem e se pensam juntas, há uma construção em comunhão. A leitura é um convite a pensar o agora, principalmente nesta época de distanciamento social, junto com um livro que relaciona mudanças climáticas, Antropoceno e muitos outros temas e que nos chama a reaprendermos a estar e pensarmos junto à Terra, aos rios, e ao ar, e assim propor possibilidades mais potentes para habitar o mundo e o que está porvir. (Leia a reportagem completa em PDF)

 

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Link para o livro, vídeo e poesia sonora: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/conversas-infinitas/

 

Também participaram como autores desse livro:

Antonio Carlos Amorim, Antonio Carlos Queiroz e Filho, Araceli Reymundo Izard, Bruno Stramandinoli Moreno, Carlos José Martins, Claudia Castellanos Pfeiffer, Elenise Cristina Pires de Andrade, Isaltina Mello Gomes, Felipe Mammoli, Fernanda Pestana, Francinete Francis Lacerda, Gabriel Cid de Garcia, Geraldo Majella Bezerra Lopes, Laura Gárcia Oviedo, Leandro Belinaso, Marina Lopes e Gomes, Rafael Dias, Renato Salgado de Melo Oliveira, Renzo Taddei, Susana Oliveira Dias, Robério Daniel da Silva Coutinho, Rodrigo R. Autrán, Sandra Murriello, Silvia Beatriz Nogueira Souza, Vitor Chiodi, Wenceslao Machado de Oliveira Júnior.

 

Bolsista TT Fapesp no projeto INCT-Mudanças Climáticas Fase 2 financiado pelo CNPq projeto 465501/2014-1, FAPESP projeto 2014/50848-9 e CAPES projeto 16/2014, sob orientação de Susana Dias e Antonio Carlos Amorim.

 

Coletivo e grupo de Pesquisa | multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências, educações e comunicações (CNPq)