Um olhar amoroso e poético sobre a arte de um BrasilUniverso | Bené Fonteles

Título | Um olhar amoroso e poético sobre a arte de um BrasilUniverso

Alguns alunos da graduação, depois de fazer duas seções de mostras de seus processos criativos e conceituais, puderam falar de seus trabalhos sem avaliação, mas procurando compreender porque decidiram desenvolver seus projetos estéticos e poéticos. Deu para sentir que alguns ainda têm pouca maturidade estética em seus projetos, mas têm uma enorme coragem de desenvolvê-los e apostar na incerteza, que é a vida profissional com o ofício da arte. O chamado corpo docente do Instituto de Artes tem a enorme responsabilidade de provocá-los a desenvolver processos criativos com liberdade e ao mesmo tempo com consistência e mantê-los muito bem informados, não só sobre o panorama da história da arte no mundo, mas sobre as raízes culturais do país e de seus artistas, que deram muito de sua vida a Arte. Um exemplo é Rubem Valentim – que eles disseram não conhecer – e que é um artista fundamental junto a Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro, Volpi, Iberê Camargo, Antônio Bandeira e outros, para um projeto de arte moderna brasileira. Valentim faz a passagem do moderno para o contemporâneo em meio a importância capital do movimento Concreto e Neo-concreto. Pedi a estes alunos da graduação que escrevessem um texto, mesmo que breve, sobre as aulas dadas como: “Heranças Ameríndias: da Arte Rupestre ao Contemporâneo”, “Heranças das Africanidades”, o ensaio “A Função da Arte?” e as visitas aos museus e instituições culturais em São Paulo. O resultado foi muito estimulante pela reflexão que puderam fazer sobre como se geram curadorias museológicas e se mantêm as instituições culturais no país. Recebi nestes escritos, algumas críticas por não ter me aprofundado nas questões estéticas. Mas foi justamente isso que não quis fazer ao dar aulas para os alunos da graduação. Isso cabe ao corpo docente do IA, até por obrigação curricular. Fui convidado pelo edital para passar minha experiência como artista com atuação em várias linguagens e mídias e também como curador. Seria até melhor se minha experiência no IA tivesse sido como artista visitante pois, quem sabe, eu não tenho mesmo talento para ser professor teórico e normal. Mas fiquei contente de terminar com 17 anos da graduação – muito mais com o número crescente de alunos especiais – que embora faltando algumas aulas, se comprometeram em ser atuantes e dialogar comigo de forma igual. Apesar do tratamento formal de “Sr” e “professor” herdados desde quando fizeram o ensino básico e fundamental. Romper com este “respeito” hierárquico e trazê-los para uma outra experiência sensitiva e sensorial com a arte – que não separa da vida – foi minha intenção primordial para os colocar no plano generoso de trocas de experiências entre eles mesmos e com o professor. Este foi o meu mais duro e melhor desafio. Confesso que não sei se consegui, mas o que que consegui já me deixou contente. Os alunos especiais do qual sequer havia uma obrigação contratual com a Unicamp de formar uma turma, chegaram me para assistir na aula inaugural no IA, pediram para formar outra turma, que passou a ser nas tardes de quinta-feira na mesma AP10 do Instituto de Artes onde me encontrava com os da graduação. A maioria dos alunos eram mulheres, elas sempre mais presentes que os homens nos compromissos educativos. Muitas delas, já com mestrado e doutorado em artes e outras áreas de conhecimento, e algumas, artistas extraordinárias da cena contemporânea em Campinas e Sorocaba, pois haviam cinco participantes da cidade vizinha. Nossa turma de alunos especiais das tardes de quinta-feira, era um grupo extremamente criativo e afetivo, pessoas maduras de consciência e com afirmação poética e estética atuando há décadas na comunidade, o que para mim foi uma honra na convivência do aprendizado mútuo. O resultado da obra de todos os alunos com as cascas de café para refletirem sobre a importância do café no ciclo econômico do país e em especial em Campinas – já que a Unicamp tem seu campus numa antiga fazenda de café – foi o ato mais gratificante de todo processo das aulas. Isso está exposto nas fotos deste Memorial do Curso e no texto que escrevi sobre a forte e emocionante experiência que me fez mais artista e mais humano. Gratidão!


 

 

Ficha técnica

Aulas e atividades de Bené Fonteles
Programa Professor Especialista Visitante da Graduação
em Artes Visuais – Instituto de Artes/Unicamp – 2019

 

 

 

FONTELES, Bené. Um olhar amoroso e poético sobre a arte de um BrasilUniverso. ClimaComFlorestas [online],  Campinas,  ano 7, n. 17. Maio. 2020. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/bene_fonteles-florestas/


 

SEÇÃO ARTE | FLORESTAS | Ano 7, n. 17, 2020

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