Cenários especulativos: fazendo do território uma mesa de trabalho (Oficina 3)

Título: Cenários especulativos: fazendo do território uma mesa de trabalho (Oficina 3)


Longe de ser algo estável, o território emerge como um plano variável, onde o ethos do homem se refaz a cada encontro, a cada conexão é posto em comunicação efetiva com o mundo. Entendemos o território como um campo experimental de qualidades metaestáveis e profundamente moduláveis, onde o hábito é uma passagem de baixa aderência e o problema se instaura na criação de modos de habitar sempre outros. Habitamos o território nomádica e intempestivamente, o que faz da possibilidade de uma nova terra um germinar constante e ilimitado no singular da matéria que pisamos a cada passo. Diante de uma percepção de hábito que julga, contrapõem-se novos modos de habitar o território, novos modos de habitar o papel, a escrita, a expressão. Dispor-se em mesas de trabalho onde cenários especulativos como territórios por vir possam ganhar existência.


2. Oficina: Nevoeiros fotográficos. Destilando imagens, passagens que fazem aparecer outrem.
Poderíamos definir um nevoeiro como aquele modo de existência que leva nossa percepção a um estado gasoso, isto é, que afrouxa as ancoras de nosso campo perceptivo habitual e nos força a tatear, engatinhar, balançar para fazer da queda nosso modo de habitar. Abrir novos campos perceptivos como quem habita nevoeiros, como quem deles faz uma catástrofe constante, onde o outro sempre é um outro do outro que recoloca incessantemente a questão do que pode o humano. Nos nevoeiros nada é muito claro, nenhuma imagem é muito fixa. Daí que aspiremos a destilar a imagem (fisico-quimicamente) na procura de novas ficções antropológicas (Viveiros de Castro), ficções que fazem de nós uma ilha deserta que se deixa afetar pelo cosmos. Onde o Robinson Crusoé de Tournier faz do delírio um modo de esgotar o possível para atingir um sem-fundo que abra efetivos campos de possibilidade, de devir mundo, todo mundo; nós destilamos, gastamos, arrebentamos a imagem fazendo dela muito menos uma porção de realidade, mas uma passagem ficcional nas visualidades do que a presença/ausência do outro pode convocar. Isto é, o aparecer de outrem como aquilo que nos força a devir, a ser uma multiplicidade aberta como o é o xamã com os seres de luz, com os xapiris (Kopenawa). Fazer do fotográfico uma efetiva passagem de luz e não uma fixação de nós como luz do mundo. Fazer do fotográfico uma superfície onde nos gastamos sombras, para não mais reconhecer o que vemos e somos, e poder sonhar com outrem, fazendo de nossa percepção uma catástrofe, que pode nos ensinar a vir a ser e ver.

Oficinas ministradas como parte da disciplina de pós-graduação “Literatura, Cultura e Sociedade” (Labjor/IFCH/Unicamp)

Ementa: A disciplina abordará problematizações que se fazem nas interfaces entre literatura, comunicação, antropologia, arte e filosofia, para pensar as potencialidades da escrita e tensionar as oposições entre real-ficção, verdadeiro-falso, objetividade-subjetividade, pesquisa-escrita etc. Exploraremos autores que tratam a literatura como campo de experimentação do humano e da vida, como potência de cura, como política de minoridade. Autores que se propõem a pensar “com” a literatura e não “como” a literatura, o que implica inventar um modo de pensar que não está dado, em pensar a literatura mesma pelas novas forças que ela é capaz de mobilizar, reunir, compor. Neste semestre, a disciplina abordará a crise de pensamento e de modos de existência que vem sendo diagnosticada em diversos campos do conhecimento: “niilismo” e “esgotamento” (PELBART, 2013), “crise da natureza” (LATOUR, 2013), “aceleracionismo” e “extinção do humano” (DANOWSKY; VIVEIROS DE CASTRO, 2014), “redução à impotência” e “intrusão de Gaia” (STENGERS, 2003, 2014, 2015). Investiremos em disjunções e contaminações entre literatura, comunicação, antropologia, arte e filosofia que deem a pensar o acontecimento da escrita (com imagens, palavras e sons), trabalhando com conceitos como cosmopolítica, mundo comum, outrem, devir e fabulação.



 

Concepção, organização e fotografias: Susana Dias, Fernanda Pestana e Sebastian Wiedemann

Participantes: Adriana Rodrigues, Caue Nunes, Daniel Ribeiro, Darly Gonçalves, Jaqueline Galvis, Larissa Ferreira, Marina Cunha, Marília Reis, Paula Montanari, Paula Batista, Ricarda Canozo, Rodrigo Marcondes, Sebastian Wiedemann, Tássia Aguiar, Vivian Pontin.

 

Projetos: Mudanças climáticas em experimentos interativos: comunicação e cultura científica (CNPq No. 458257/2013-3); Sub-projeto “Sub-rede Divulgação científica” da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (convênio FINEP/ Rede CLIMA 01.13.0353-00).

 

Data: 27/04