Cenários especulativos: fazendo do território uma mesa de trabalho (Oficina 2)

Título: Cenários especulativos: fazendo do território uma mesa de trabalho (Oficina 2)


Longe de ser algo estável, o território emerge como um plano variável, onde o ethos do homem se refaz a cada encontro, a cada conexão é posto em comunicação efetiva com o mundo. Entendemos o território como um campo experimental de qualidades metaestáveis e profundamente moduláveis, onde o hábito é uma passagem de baixa aderência e o problema se instaura na criação de modos de habitar sempre outros. Habitamos o território nomádica e intempestivamente, o que faz da possibilidade de uma nova terra um germinar constante e ilimitado no singular da matéria que pisamos a cada passo. Diante de uma percepção de hábito que julga, contrapõem-se novos modos de habitar o território, novos modos de habitar o papel, a escrita, a expressão. Dispor-se em mesas de trabalho onde cenários especulativos como territórios por vir possam ganhar existência.


2. Oficina: Como fazer passar o Cosmos por um mapa. Rasgar quebra-cabeças impossíveis.

O Apocalipse de D.H. Lawrence jorra no papel uma grande decepção. Alguém quer ler um livro, sendo que ler é sempre um processo de devoração e transformação, mas esse livro, na sua vontade de poder e não de potência, apresenta-se como enclausurado, cristalizado pela moral. Um livro deveria ser muito menos um caminho de interpretações bem definidas e que orientam e muito mais uma superfície de experimentação de modos de se desorientar no mundo. Para Lawrence, a tristeza povoa um livro quando este deixa de fora o cosmos. O incomensurável, o que escapa e vaza, isto é o cosmos, é o que nos permite afirmar a alegria por estarmos do lado da vida. Do mesmo modo, em um mundo onde as escalas se embaralham se faz imperativo conviver, estar junto com o cosmos, ter uma disposição cosmopolítica e, por momentos, idiota (Stengers), que crie orientações impensadas, pois os territórios já não se encaixam mais de modo bem definido e orientado como num quebra-cabeças. O mundo já não pode ser “lido” e interpretado de modo claro e distinto como num mapa com suas convenções morais. Um território que cria relações simétricas desde uma cosmopolítica não cabe num mapa. A cada instante tem que reinventar seu mapa, fazendo do quebra-cabeças algo impossível, pois já não há um a priori que nos faça estar juntos, não nos encaixamos de modo lógico ou desde uma mesma lógica, mas nos rasgamos juntos inventando modos pagãos de compor territórios.

Oficinas ministradas como parte da disciplina de pós-graduação “Literatura, Cultura e Sociedade” (Labjor/IFCH/Unicamp) – Profa. Dra. Susana Oliveira Dias

Ementa: A disciplina abordará problematizações que se fazem nas interfaces entre literatura, comunicação, antropologia, arte e filosofia, para pensar as potencialidades da escrita e tensionar as oposições entre real-ficção, verdadeiro-falso, objetividade-subjetividade, pesquisa-escrita etc. Exploraremos autores que tratam a literatura como campo de experimentação do humano e da vida, como potência de cura, como política de minoridade. Autores que se propõem a pensar “com” a literatura e não “como” a literatura, o que implica inventar um modo de pensar que não está dado, em pensar a literatura mesma pelas novas forças que ela é capaz de mobilizar, reunir, compor. Neste semestre, a disciplina abordará a crise de pensamento e de modos de existência que vem sendo diagnosticada em diversos campos do conhecimento: “niilismo” e “esgotamento” (PELBART, 2013), “crise da natureza” (LATOUR, 2013), “aceleracionismo” e “extinção do humano” (DANOWSKY; VIVEIROS DE CASTRO, 2014), “redução à impotência” e “intrusão de Gaia” (STENGERS, 2003, 2014, 2015). Investiremos em disjunções e contaminações entre literatura, comunicação, antropologia, arte e filosofia que deem a pensar o acontecimento da escrita (com imagens, palavras e sons), trabalhando com conceitos como cosmopolítica, mundo comum, outrem, devir e fabulação.



 

Concepção, organização e fotografias: Susana Dias, Fernanda Pestana e Sebastian Wiedemann

Colagens: Adriana Rodrigues, Caue Nunes, Daniel Ribeiro, Darly Gonçalves, Jaqueline Galvis, Larissa Ferreira, Marina Cunha, Marília Reis, Paula Montanari, Paula Batista, Ricarda Canozo, Rodrigo Marcondes, Sebastian Wiedemann, Tássia Aguiar, Vivian Pontin.

 

Projetos: Mudanças climáticas em experimentos interativos: comunicação e cultura científica (CNPq No. 458257/2013-3); Sub-projeto “Sub-rede Divulgação científica” da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (convênio FINEP/ Rede CLIMA 01.13.0353-00).

 

Data: 27/04