(a)mares e ri(s)os infinitos: preparos e ensaios com a catástrofe – vídeo

Título: (a)mares e ri(s)os infinitos: preparos e ensaios com a catástrofe – vídeo


Resumo: “O que é afetar-se pelos rios?”. Pergunta aberta-em-vídeo num desdobrar infinito. Sem respostas, antes um proliferar lento e sinuoso em novas perguntas. “O que é afetar?”. “O que é um rio?”. Chove nos limites em infinitas direções. Uma catástrofe atinge o abatimento que recai sobre imagens, palavras e sons, estraçalhando a opinião, arrastando as metáforas e lavando a interpretação. Olhos d’água não veem, jorram! A câmera se nega a capturar, chove, vaza, segue o encontro das águas, segue rios de mãos, de corpos que, por serem chuva, são também papéis, tintas, tesouras, cores, linhas, luzes. Seguir rios, criar com eles. Encontro de curvar-serpentear as imagens num montar-modelar-modular. Desacelerações que são a vida mesma dos rios, dos corpos, das ruas, que são a vida mesma das imagens! Compor rios vivos, decompor rios vistos. Compostos audiovisuais feitos ri(s)os, abrindo fendas nos hábitos perceptivos e deixando brotar afetos d’água turbulentos entre artes e ciências, cascatas de continuidades descontínuas. “Pode uma imagem se afogar?”. E o cosmos sussurra: faz das minhas lágrimas alegria! Surgem rios nunca vistos, que não foram previstos, nem pré-concebidos. Fotografias de satélite inundadas por rios voadores instauram novas relações entre superfícies e velocidades, desdobram rios e céus e restituem a percepção de que o céu também é rio, de que o rio também é céu. Imagens – de satélite -, imagens a é r e a s! Nascem rios que convocam a eficácia precária de um navegar errante, que só pode acontecer em barquinhos de papel. Um navegar-movimento-de-câmera inventando novas coordenadas. Uma montagem que, entre o satélite que se diz óptico e a mão que se diz háptica, cria diagramas impossíveis que tentam modelar qualiquantitativamente o vazar infindavel dos rios, o devir mar dos rios. “O que é se afetar?”. “O que é um rio?”. No meio, só conseguir rir em tentar, entre imagens, ser rio, medir o que sempre nos escapa. A vida-rio nos escapa, embora uma iminência faça com que nos perguntemos: “Pode um rio se afogar? Como continuar diante da finitude? Como tornar potentes nossas relações com as águas?”. Sem resposta, só um vídeo-pergunta; vazar vazar com o rio, perder-se em seu curvar, nas suas sinuosidades. Entre visualidades e sonoridades, aprender a montar como quem carrega um rio dentro. Não saberemos o que é um rio, mas talvez, abraçando a catástrofe de nossa percepção, tenhamos sentido sua intensidade. (a)amares e ri(s)os infinitos. Um pequeno gesto, uma pergunta, olho d’água que chega ao mar e que, talvez, quem sabe, nos prepare para continuar…

Este vídeo é uma composição com outros preparos e ensaios que aconteceram durante o encontro-ação “(a)mares e ri(s)os infinitos”  em Campinas, nos dias 1 e 2 de outubro de 2015. O rio foi a curva-mestra de todo o evento. Iniciamos assistindo ao filme “Ouvir o Rio: uma escultura sonora de Cildo Meireles”, em que Marcela Lordy nos dá a conhecer o processo de criação de “Rio:Oir”, obra que abre escutas ao longo do corpo-mundo para as potências sonoras das águas, que podem ser ouvidas em tantos cantos: no canto das águas, no canto das bocas… Com a artista plástica Fernanda Pestana, realizamos a oficina de criação coletiva de um Livro-ri(s)o que gargalhava os limites do fotográfico e documental na relação com a pintura. Na companhia do geógrafo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Salvador Carpi Júnior, e de moradores da região, nos dispusemos nas bordas do Ribeirão Anhumas para conhecer seus problemas (poluição, erosão…), bem como ouvir as experiências singulares de quem tem um rio em seu quintal. Com Alejandro Meitin e Silvina Babich, da organização artística-ambiental “Ala Plástica”, de La Plata (Argentina), conhecemos uma fabulosa proposta de práticas de pesquisa e criação que colocam numa mesma mesa de trabalho artes e ciências. E, em busca de ensaiar relações poéticas com a água que resistam à finitude, terminamos o evento com uma oficina de produção de lanternas com o artista visual de Belém do Pará, Armando Queiroz, e de preparo do corpo com a dançarina Hellen Audrey, para o cortejo “Rios de Luz”. O cortejo saiu do Largo do Pará, região central de Campinas, em direção à Avenida Anchieta, por onde passava o Córrego Tanquinho, hoje embaixo de grandes avenidas. Desejos de dar uma existência poética aos rios soterrados e afirmar que os rios somos nós, as relações que inventamos e nossa capacidade de cuidar e manter acesas as pequenas centelhas de vida. Um dispor os corpos em outras velocidades e afetos na cidade de Campinas. Um abraçar um mar sem fim de novas relações possíveis quando nos deixamos inundar pela vida.

Rios e risos de agradecimentos aos artistas convidados e a todos que conosco estiveram.

Leia também:Arte, ciência, filosofia: encontros potentes com a catástrofe”, entrevista sobre o evento com o cineasta e pesquisador Sebastian Wiedemann.

 

Projetos: Mudanças climáticas em experimentos interativos: comunicação e cultura científica (CNPq No. 458257/2013-3); Sub-projeto “Sub-rede Divulgação científica” da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (convênio FINEP/ Rede CLIMA 01.13.0353-00).

 

Ficha técnica:

Direção e Roteiro

Sebastian Wiedemann

Susana Dias

Montagem e som

Sebastian Wiedemann

Susana Dias

Captação

Sebastian Wiedemann

Susana Dias

Oscar Guarin

Realização

Grupo multiTÃO-prolifer-artes sub-vertendo ciências, comunicações e educações (CNPq)

Sub-rede Divulgação Científica e Mudanças Climáticas

Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA), Coordenada pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Projetos

CNPq No. 550022/2014-7, CNPq No. 458257/2013-3 e FINEP No. 01.13.0353.00.

Campinas

2015


Esta publicação é uma contribuição da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais financiado pelos projetos do CNPq Processo 550022/2014-7, CNPq No. 458257/2013-3 e FINEP Processo 01.13.0353.00