UMA SEMENTE: relatos de propagações poético-pedagógicas | Annaline Curado e Larissa Dutra | ClimaCom


UMA SEMENTE: relatos de propagações poético-pedagógicas | Annaline Curado e Larissa Dutra


Annaline Curado[1]

Larissa Dutra[2]

UMA SEMENTE: relatos de propagações poético-pedagógicas

Annaline me deu uma sementinha.

Lá estava eu em meu primeiro período de faculdade no curso de Artes Visuais, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Annaline era professora e eu era estudante, estávamos utilizando uma sala de teatro, que era ampla e iluminada. Era frequente que usássemos aquela sala nas cadeiras que ela ministrava. Me lembro da palma e dos dedos alongados quando ela estendeu o braço na minha direção e em sua mão havia uma porção de sementes de diversos tipos e formatos que eu desconhecia até então, mas que foram distribuídas entre estudantes da cadeira de Arte Ambiental. Escolhi as que considerei mais interessantes e diferentes, eram verdes e felpudas e logo descobri que eram sementes de algodão.

Eu estava animada e brincava dizendo que iria fazer minhas próprias roupas artesanais, 100% algodão. Naquele dia, recebi com muita empolgação a missão de plantar aquelas sementinhas. Inicialmente eram três sementes, as três brotaram e botaram a cara no sol, mas duas morreram depois de uma troca de vasos, me deixando apenas uma única e preciosa plantinha de três ou quatro folhas.

Meu algodãozinho sobrevivente cresceu bastante e com facilidade, era uma planta linda. Plantei ela no chão assim que pude ir na casa dos meus pais, que fica na Ilha de Itamaracá. Escolhi um local especial para a semente, ao lado de onde antigamente havia uma goiabeira. Eu tinha um apego por aquela goiabeira, na minha infância vivia trepada nela e meus pais me chamavam de Tainá (referência ao filme que eu adorava). Quando meu irmão caçula cresceu um pouco, meu pai mandou fazer uma casinha suspensa de madeira, em cima de onde ficava a goiabeira. Por falta de sol a árvore morreu, mas ao redor dessa casinha a minha mãe começou a cultivar várias plantas de sua escolha, formando assim um pequeno jardim. O pé de algodão foi a minha contribuição para esse jardim e para o espaço lúdico onde hoje as crianças que visitam a casa adoram brincar e passar o tempo. Para mim, o algodoeiro é de certa forma uma homenagem à minha antiga goiabeira e ao meu percurso na área de Artes Visuais. No chão, essa planta cresceu e cresceu, e logo eu colhi tufos de algodão. Me lembro de sentar no chão em um momento agradável junto ao meu pai, que me ajudou a separar o algodão das sementes.

 

( Leia o artigo completo em PDF).

 

Recebido em: 20/11/2021

Aceito em: 10/12/2021

 

[1] Mestre em Artes Visuais (UDESC). Doutoranda em Educação (PPGE UNICAMP). Professora Assistente da Universidade Federal do Sul da Bahia. E-mail: anninha.piccolo@gmail.com

[2] Graduanda em Licenciatura em Artes Visuais (UFPE) . E-mail: larissadtra@gmail.com

UMA SEMENTE: relatos de propagações poético-pedagógicas

RESUMO: Uma correspondência entre dois relatos poéticos de convivência com uma semente de algodão. Histórias dos percursos de uma semente, de como elas (as histórias e as sementes) podem ser catalisadoras de processos de aprendizagem em Arte e Cuidado, seja dentro ou fora de espaços formais de Educação. Um texto que veio sendo escrito ao longo dos últimos cinco anos, em conjunto, entre uma então estudante e uma então professora, sempre estudante também. Um ensaio que, como as sementes de um Ipê, lança-se nesse momento de seca como tática de propagação da vida, disseminação poética de processos pedagógicos.

 

PALAVRAS-CHAVE: Arte Relacional. Cuidado. Processos de Aprendizagem.

 

A SEED: reports of poetic-pedagogical disseminations

ABSTRACT:  A correspondence between two poetic accounts of living with a cotton seed. Stories of the paths of a seed, of how they (stories and seeds) can be catalysts for learning processes in Art and Care, whether inside or outside formal spaces of Education. A text that has been written over the last five years, together, between a student and a teacher, always a student as well. An essay that, like the seeds of an Ipê, launches itself in this moment of drought as a tactic for the propagation of life, poetic dissemination of pedagogical processes.

KEYWORDS: Relational Art. Care. Learning Process.


CURADO, Annaline; DUTRA, Larissa. UMA SEMENTE: relatos de propagações poético-pedagogicas. ClimaCom – Diante dos Negacionismos [Online], Campinas, ano 8,  n. 21,  abril.  2021. Available from: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/uma-semente/